Neste final de semana, o Papa Francisco esteve em solo cubano trazendo o impacto de sua força política. Devido a sua visita, o governo de Cuba pretende liberar 3.522 prisioneiros — mais do que somando as duas visitas dos pontífices anteriores Bento 16, em 2012, e João Paulo 2º, em 1998.
Mas isso não é o suficiente. Além de ser visto como mediador da retomada das relações diplomáticas entre Cuba e Estados Unidos, as autoridades cubanas concederam pela primeira vez, desde 1959, a aprovação para a construção de uma igreja em Havana.
Por outro lado, a aproximação católica não impede a pressão cubana sobre os fiéis, que tem sido perseguidos por décadas. No dia 10 de setembro, cerca de cem pessoas foram presas ao tentar depositar uma carta ao papa no santuário de peregrinação de El Cobre, em Santiago de Cuba. O medo segue tão enraizado, que muitos fiéis ainda evitam discussões públicas.
"Em 1961, o governo declarou a Igreja Católica inimiga número um de Estado", relembra uma trabalhadora comunitária de Havana. "Somente através da mistura de santos católicos com divindades afro-cubanas, os locais eclesiásticos de peregrinação se mantiveram vivos."
Depois da Revolução de 1959, aproximadamente 300 mil católicos e 30 mil protestantes deixaram Cuba. Dois anos depois, restavam apenas 250 sacerdotes e membros de ordens religiosas. Todas as escolas e hospitais católicos foram fechadas. Cristãos eram tidos como contrarrevolucionários.
Ainda assim, os cubanos batizavam seus filhos secretamente e continuavam suas rezas aos "santos" de origem africana. A figura do Santo Lázaro, por exemplo, corresponde à divindade da medicina, Obaluaiyê. A Nossa Senhora da Caridade do Cobre, padroeira de Cuba, é adorada também como a Afrodite do panteão afro-cubano.
Após a queda do Muro de Berlim, Fidel Castro mudou a Constituição cubana e iniciou a transformação de um Estado ateu para um Estado laico, em 1992. Desde então, católicos podem se tornar membros do Partido Comunista, e comunistas podem se declarar católicos.
Em 2012, durante a visita do papa Bento 16, o irmão de Fidel e novo líder cubano, Raúl Castro, reinstituiu a Sexta-feira Santa como feriado nacional. A gradual aproximação gradual entre comunistas e líderes da Igreja Católica prepararam terreno para a jogada diplomática do papa Francisco, que quebrou o gelo entre Washington e Havana.
Minoria Evangélica
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