Pastor consola vítimas da Covid-19 em funerais em Manaus: “Sinto a dor do próximo”

Izaías Nascimento atua em funerais para famílias de baixa renda durante o dia e à noite prega a mensagem de Deus como pastor.

Fonte: Guiame, com informações da AFPAtualizado: segunda-feira, 29 de junho de 2020 às 16:41
O pastor Izaías Nascimento conforta um jovem durante o funeral de seu pai. (Foto: Michael Dantas/AFP)
O pastor Izaías Nascimento conforta um jovem durante o funeral de seu pai. (Foto: Michael Dantas/AFP)

Em Manaus, uma das cidades brasileiras mais afetadas pelo novo coronavírus, o pastor Izaías Nascimento tem levado a palavra de Deus como consolo às famílias de vítimas da pandemia.

Durante o dia, Izaías realiza serviços funerários para famílias pobres que perderam seus entes queridos. À noite, o pastor prega a mensagem de Deus na Igreja Pentecostal Alcançando Vidas.

Com quase 70.000 pessoas infectadas pela Covid-19 e quase 3.000 mortos, o estado do Amazonas é um dos mais atingidos pelo vírus. Manaus esteve à beira do colapso em maio, quando os óbitos diários aumentaram 200% e o sistema de saúde estava saturado.  

O pastor Izaías, de 49 anos, diz que recebeu um chamado de Deus há quatro anos: “Vai cuidar dos meus filhos que estão precisando de um consolo, de uma palavra amiga”.

A mensagem de consolo faz parte de seu trabalho na SOS Funeral, um programa social de cerimônias fúnebres da prefeitura para famílias com poucos recursos. 


O pastor Izaías Nascimento carrega o caixão de uma vítima de Covid-19 de uma casa em Manaus. (Foto: Michael Dantas/AFP)

Usando o equipamento de proteção contra o coronavírus, o pastor Izaías começa às sete da manhã uma jornada de 12 horas. Em uma van, ele retira cadáveres em hospitais e casas.

“Sinto a dor do próximo. Esse é o emprego que mais amo, Deus me colocou lá”, disse Izaías à AFP.  

Durante o pico da pandemia em Manaus, Izaías lembra que não havia descanso — sua equipe chegou a realizar cerca de dez enterros por dia. Mas a situação foi amenizada e hoje são cerca de três funerais diários.  

Izaías presencia diariamente o sofrimento de pessoas de perdem seus entes queridos. Os parentes “ficam desesperados, saem gritando: ‘Não leva a minha mãe! Não leva o meu pai!’. E a gente tem que aguentar. Às vezes somos agredidos, mas temos que ficar calados porque eu sei que dói”, relata.  


O pastor Izaías Nascimento do lado de fora de sua casa em Manaus. (Foto: Michael Dantas/AFP)

Em uma das situações, Izaías consolou um jovem que havia enterrado o pai, vítima do novo coronavírus. Devido às normas da prefeitura, o jovem se despediu sozinho no cemitério público.  

“Deus me deu esse dom da palavra, faço com amor e dedicação apesar de ser um trabalho de risco”, diz o pastor, acrescentando que não sente medo nem do coronavírus, nem da morte.  

Por volta das sete da noite, Izaías se prepara para sua segunda jornada. Durante a pandemia, ele tem celebrado cultos nas casas de membros de sua igreja, já que as autoridades proibiram as reuniões para evitar aglomerações.

Na uma humilde casa de tijolos de uma das irmãs, o pequeno grupo levanta os braços para louvar a Deus. Quando tudo passar, o pastor pretende retomar a construção da igreja na casa que sua sogra lhe deu de presente anos atrás.


Pastor Izaías Nascimento lidera um culto doméstico em Manaus. (Foto: Michael Dantas/AFP)

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