Fé e esperança sobre rodas

Fé e esperança sobre rodas

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:04

“Deus, se eu não posso morrer, então mostra-me como devo viver.” A oração, em tom de desespero, foi feita em 1967  por Joni Eareckson Tada, uma jovem americana então com 17 anos. Crente daquelas nominais, que achava fazer um favor a Deus acreditando nele, a garota acabara de ver interrompidos todos os sonhos e expectativas típicos da adolescência. Um mergulho mal calculado em águas rasas provocou uma dramática guinada em sua trajetória. O clamor, feito depois que ela recebeu a dura notícia de que seu corpo estava definitivamente paralisado do pescoço para baixo, foi plenamente respondido – Joni não apenas aprendeu a viver com sua deficiência como fez dela a motivação para uma intensa atividade espiritual e social. Passado mais de 40 anos, ela está à frente da organização Joni and Friends (“Joni e amigos”), que tem levado esperança e inspiração a pessoas com necessidades especiais em todo o mundo. Ao todo, a organização já distribuiu, gratuitamente, quase 50 mil cadeiras de rodas, além de aparelhos ortopédicos, próteses e medicamentos em dezenas de países – inclusive no Brasil, que a entidade visitará em setembro próximo.

Nascido em 1979, em Burbank, na Califórnia, o ministério Joni and Friends (JAF) tem a visão de promover e potencializar o trabalho cristão entre os portadores de deficiências físicas e seus familiares. O desafio consiste em empurrar as igrejas para além da apatia com a qual normalmente encaram tal responsabilidade, equipando-as para uma ação mais dinâmica e eficaz junto a um segmento historicamente negligenciado e cada vez mais numeroso. Estima-se que, só no Brasil, cerca de 18 milhões de pessoas convivem com alguma deficiência física, motora ou mental. “Nós queremos que a igreja de Jesus Cristo valorize as pessoas deficientes como membros mais fracos, merecedores de maior honra”, costuma dizer Joni, citando o texto de 1 Coríntios 12.22-23.

Buscando conscientizar as igrejas e simultaneamente atender às demandas espirituais e psico-afetivas deste segmento, JAF iniciou seu ministério promovendo pequenos retiros em parceria com igrejas que abraçaram a visão. Hoje, centenas de pessoas participam dos eventos promovidos pela entidade todos os anos. Os resultados destes encontros, testemunha Kim Shanower – há 17 anos com JAF e atual líder do ministério no Brasil – têm sido “a reinclusão dos deficientes e seus familiares na sociedade e a salvação de muitas, muitas almas”. A ponta de lança do ministério é o programa Wheels for the World (Rodas para o Mundo), que distribui gratuitamente cadeiras de rodas aos carentes. Boa parte delas são reformadas por detentos de 17 penitenciárias americanas, além de um batalhão de voluntários.

No Brasil, JAF já realizou duas distribuições em 2006 e 2007, contando sobretudo com a assistência de associações filantrópicas seculares, como o Rotary Club, uma vez que a maioria das igrejas ainda ignora a presença do ministério no Brasil. Kim Shanower, que juntamente com a missionária inglesa Gaynor Smith coordenou as duas distribuições ocorridas na sede do Clube Naval na cidade de Niterói, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, recorda o sucesso que foi a última edição do evento, em outubro do ano passado: “Nós pesquisamos as necessidades de vários centros de reabilitação nos arredores do Rio. E, com a ajuda do Rotary Club, distribuímos 200 cadeiras”, lembra. A próxima já está marcada para o dia 22 de setembro, no mesmo local.

Embora a participação evangélica nestas ocasiões ainda seja pouco expressiva, Kim acredita haver um crescente interesse pelo ministério de JAF.  “Estamos começando a ver mais igrejas se unindo a nós e solicitando que realizemos workshops e seminários temáticos”, afirma. Além disso, diz ela, diversos grupos cristãos têm buscado treinamento e capacitação para trabalhar com pessoas portadoras de necessidades especiais.

Testemunho

Evidentemente, a história pessoal de Joni é a principal inspiração do ministério. Pouco depois do acidente, enfadada com as exaustivas sessões de fisioterapia, ela desenvolveu a notável habilidade de escrever e desenhar com o lápis entre os dentes. Logo começou a pintar quadros e uma de suas exposições, na cidade americana de Baltimore, foi mostrada pela TV local, A reportagem chamou a atenção dos produtores do programa The Today Show, da rede NBC. Joni foi convidada para uma entrevista com a célebre jornalista Barbara Walters. Transmitida ao vivo para todos os EUA, a conversa fez da moça uma celebridade.

Logo uma editora encomendou-lhe um livro. Assim nasceu Joni, an unforgettable story (“Joni, uma história inesquecível”), publicado em 1976 e que alcançou enorme sucesso editorial em todo o mundo, sendo lançado no Brasil pela Editora Vida. Pouco depois da publicação de sua autobiografia, a Associação Evangelística Billy Graham a convidou a participar da produção do longa-metragem Joni. Além de co-escrever o roteiro do filme, Joni atuou também como atriz no papel dela mesma. Dali para a frente, a americana, que parecia condenada a uma vida quase vegetativa, tornou-se uma artista, escritora, conferencista e radialista de sucesso. Seus livros, quadros e testemunho de fé inspirariam milhões de pessoas ao redor do globo e abriria portas inimagináveis para a comunicação do Evangelho.

O enorme crescimento de sua popularidade e as milhares de cartas que passou a receber de pessoas que encontraram no seu exemplo coragem para viver levaram Joni a finalmente compreender a passagem de Romanos 8.28 – “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que temem a Deus”, como ela mesma declarou num artigo intitulado Rodas da liberdade, publicado na revista Christianity Today: “Percebi que o conceito de ‘bem’ que Deus tinha para mim não incluía ficar em pé. As coisas que cooperavam para o meu bem diziam mais respeito a uma atitude de apreciação às pequenas coisas, como uma profunda gratidão pelas amizades, e um caráter que refletisse paciência, persistência e alegria que não dependem das circunstâncias. Minha cadeira de rodas é a prisão que Deus tem usado para libertar meu espírito”, escreveu. E, a julgar pelos resultados de seu ministério, para libertar também inúmeras outras vidas ao redor do mundo.

Por Leandro Marques

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