O bispo Guaracy Santos, de 41 anos, é atualmente o responsável pelo trabalho evangelístico da Igreja Universal do Reino de Deus no bairro do Brás, zona leste de São Paulo (SP). Por trás de uma voz forte e um semblante sério, está, além de um bispo, um pai e marido carismático, divertido e dedicado que, com seu jeito único, tem levado a Palavra de Deus a milhares de pessoas. Filho de mãe mineira e pai gaúcho, nasceu na cidade do Rio de Janeiro (RJ), onde foi criado. Ainda dentro da barriga da mãe, enfrentou seu primeiro desafio, quando o pai tentou impedi-lo de vir ao mundo. A infância e adolescência foram marcadas por vícios, decepções e influências malignas, que durante anos lhe tiraram o sossego e prometeram lhe tirar a vida. Acompanhe abaixo a entrevista exclusiva concedida pelo bispo Guaracy ao Portal Arca Universal.
Como foi a sua infância?
Meu pai servia aos encostos e o envolvimento era tão profundo que ele chegou a ter um certificado reconhecendo o envolvimento. Ele não queria que eu nascesse. Chegou a agredir a minha mãe durante a gestação pedindo que ela abortasse. Quando nasci, fui consagrado aos encostos que ele servia. Aos 4 anos meus pais se separaram e minha mãe casou novamente. Fui criado por ela e por meu padrasto. Mesmo morando no Morro da Tijuca (Rio de Janeiro), minha mãe trabalhava em três empregos para não deixar faltar nada em casa para mim e para as minhas três irmãs. Eu fui estudar em um dos melhores colégios do Rio e, com 10 anos, me destaquei como jogador de futebol.
Nesse período, houve alguma situação que foi marcante?
Sim. Eu me lembro quando uma das minhas irmãs nasceu, em 1980. Minha mãe entrou no hospital para ter a criança e ficou por lá durante 6 meses por causa de uma hemorragia. Quando ela recebia alta e pisava a planta dos pés em casa ela começava a sangrar. Em vez de abandonar os espíritos, ela decidiu procurar um lugar para frequentar que fosse mais forte. Chegando lá, o espírito manifestado no líder do local me enviou um búzio dizendo que era para minha proteção. Eu tinha 12 anos, era um aluno talentoso, não precisava de proteção. Eu recebi, mas não me importei muito com aquilo. Um dia, brincando com um amigo, acabei quebrando o búzio. O espírito mandou me chamar e disse que eu era relaxado e não tinha levado a sério as orientações dele. Para me impressionar, ele jogou o búzio dentro de um copo de cerveja e fez com que a bebida começasse a borbulhar, até sumir por completo do copo. Ele me disse: "Está vendo, você matou uma vida", depois disso, ele colocou a cerveja no copo e mandou que eu bebesse. Eu recusei, pois como atleta não queria beber. Por causa disso, ele me praguejou e disse que iria me tornar um viciado e aos 18 anos iria me matar.
E o que ele disse a respeito dos vícios se cumpriu?
Sim. Com 14 anos eu recebi drogas de dois amigos dentro da escola. O interessante é que no morro nunca nenhum traficante me ofereceu droga, e dentro de uma das melhores escolas do Rio foi que eu experimentei e continuei usando, até os 18 anos. Às vezes os pais pensam que dando esporte e bom ensino vão livrar o filho das drogas, mas não é verdade. Eu experimentei uma e continuei. Eu sentia uma perturbação, depressão, vazio, realmente uma influência maligna. Era algo tão demoníaco que quando pensava nas pessoas que me faziam mal eu sentia gosto de sangue na boca. Eu não me contentava só com um tipo de droga, comecei a usar maconha, cocaína, alucinógenos, pílulas; tudo o que aparecia eu usava.
Quais foram as consequências dos vícios para sua vida?
O que era pra dar certo começou a dar errado. O clube que eu jogava me afastou por causa do meu comportamento e desperdicei a chance de ser um jogador profissional. Com isso, passei a usar mais e mais drogas, pois parecia que elas não surtiam mais efeito. Eu cheguei à igreja fumando 20 cigarros de maconha por dia, cheirava 10 gramas de cocaína sozinho. A cartilagem do meu nariz ficou comprometida. Como eu era forte e saudável não sentia os efeitos da droga em meu corpo. Só descobri os malefícios quando, em uma noite de uso, acabei expelindo uma quantidade de sangue pela boca.
Além das drogas, o senhor também teve envolvimento com a criminalidade?
Sim, pois eu não me contentei só em usar e comecei a vender. E uma coisa leva à outra. Eu fui parar em uma quadrilha de pilotos de assalto, pessoas contratadas para roubar. Não tinha paz. Meu amigo se tornou meu inimigo número um por causa de um sumiço de balas de um revólver. Ele passou 2 anos tentando me matar. Para me proteger, eu andava armado, mas gostava de brigar na mão. Eu tenho 23 cicatrizes pelo corpo, originadas por paulada, garrafada, canivetada.
Como foi a sua conversão?
Dois meses antes de chegar à Igreja me aconteceram duas coisas terríveis. No ano em que eu completei 18 anos, saí de um clube e me envolvi em uma briga, pois se alguém me encarasse por muito tempo eu já partia para a agressão. Meu rival estava armado e disparou três tiros à queima roupa. Desviei dos tiros e ele disparou mais quatro. Para piorar, encontrei um grupo rival, que me deu mais três tiros e, por milagre, nenhum me acertou. Uma semana depois do ocorrido, estava sentado em uma praça, com uma garota que era minha noiva na época, e um idoso apareceu com uma taça de vinho e me ofereceu a bebida. Eu neguei, e disse que nem o conhecia. Ele jogou o vinho em mim e acertou minha noiva. Depois levantou o boné e disse que tinha chifres. Eu comecei a lembrar das palavras da minha mãe que já ia à Igreja, dizendo que quem tem chifres é a besta. Isso mexeu muito comigo.
Outra situação que me assustou foi quando, em uma tarde, eu estava na casa de praia de um amigo e a mãe dele manifestou com um demônio, e sem me conhecer contou a minha vida toda. Além disso, disse que eu iria ser morto em breve pelo meu ex-amigo. Atordoado, não quis mais ficar lá e decidi ir embora. No caminho de volta, eu encontrei meu ex-amigo no ponto de ônibus. Tentei me esconder dele, mas ele me viu e disse que me mataria naquele final de semana.
Eu voltei para casa e pedi perdão à minha mãe, dizendo que queria servir ao Deus dela, pois sentia que se não fosse, com certeza morreria. Na segunda-feira fui à Igreja, e como estava decidido, me entreguei de tal forma que, em 4 meses me libertei das drogas e da criminalidade. Com 8 meses recebi o Espírito Santo, e com 10 meses fui levantado a pastor. Da turma que eu andava, hoje eu sou um dos quatro sobreviventes, de um grupo de mais de 30 pessoas que foram assassinadas. Deus me deu o livramento e a praga do diabo em minha vida foi quebrada.
Como foi o processo de sua conversão?
Embora o processo tenha sido rápido, enfrentei muitas lutas nesse período. Na loja em que trabalhava, as colegas de trabalho me ofereciam drogas e se insinuavam para mim, com roupas apertadas e curtas, querendo ter uma relação comigo. Sem contar que eu cheguei noivo e era obcecado por ela; um namoro de 4 anos. Mas decidi terminar, pois vi que junto dela não conseguiria obedecer a Palavra de Deus, já que queria um compromisso sério com o Senhor e ela não estava disposta a fazer o mesmo naquele momento. Por 8 meses fiquei recebendo cartas dela, tentando voltar, mas estava decidido a renunciar à minha vontade para fazer a vontade de Deus. Foi então que conheci minha esposa, Taís, e logo que fui levantado pastor, o bispo Clodomir abençoou nosso namoro. Após 1 ano e 2 meses me casei e estou casado há 20 anos. Com 8 anos de casado adotei uma criança, o meu filho do coração, Mateus, que está com 12 anos. Graças a Deus, tenho uma família feliz e abençoada.
Há 23 anos fazendo a obra de Deus. Como é ser bispo, marido e pai ao mesmo tempo?
Ser bispo na Igreja Universal é uma guerra. Eu costumo dizer que ser representante fiel de uma obra perseguida como esta é levantar todo dia já tendo um "leão para matar". Quando estava no Rio de Janeiro, tive a igreja invadida e três pessoas tentaram me matar. Fui discriminado por ser da Igreja quando reconhecido em um restaurante e chamado de ladrão dentro de uma loja. Ser bispo, ser pai, ser marido não é fácil, nada é fácil. No nosso caso fica mais fácil pelo que está dentro de nós, fica claro como Deus é com a gente pelas lutas que enfrentamos e vencemos, pois somos atacados e perseguidos constantemente.
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