Pastora é estuprada no dia de seu casamento e perdoa abusadores: "Minha fé me encorajou"

Terry Gobanga mora no Quênia eapós o estupro enfrentou muito preconceito. Hoje testemunha sua restauração de vida.

Fonte: Guiame, com informações da BBCAtualizado: sábado, 1 de julho de 2017 às 02:46
Harry e Terry Gobanga no dia de seu casamento. (Foto: Arquivo Pessoal)
Harry e Terry Gobanga no dia de seu casamento. (Foto: Arquivo Pessoal)
  • A pastora Terry Gobanga, do Quênia, não apareceu para o casamento dela por uma razão muito grave: ela tinha sido estuprada por um grupo de homens no mesmo dia e foi deixada à beira da estrada, quando seus abusadores pensaram que ela estava morta. Como se não bastasse tamanha tragédia, seu marido, Harry, acabou morrendo apenas 29 dias após o casamento.

Seu sofrimento foi ainda mais agravado porque ela foi desprezada por sua comunidade, que achava que ela estava "amaldiçoada", por causa do estupro.

Agora, ela contou a sua notável história para a BBC, descrevendo como sua fé em Cristo a ajudou a restaurar sua vida novamente.

Era um grande casamento que se realizaria em uma catedral de Nairobi (Quênia), e toda a sua igreja e sua grande família estavam lá.

"Mas na noite anterior ao casamento eu percebi que estava com algumas roupas de Harry, incluindo sua gravata. Ele não podia aparecer sem uma gravata, então uma amiga que tinha ficado á noite em minha casa se ofereceu para levar a gravata pela manhã. Nós nos levantamos ao amanhecer e eu a acompanhei a pé até a estação de ônibus", contou.

"Enquanto eu estava voltando para casa, passei por um cara sentado no capô de um carro - de repente ele me pegou por trás e me jogou no banco de trás do carro dele. Havia mais dois homens lá dentro. Tudo aconteceu em uma fração de segundo", acrescentou. "Um pedaço de pano estava cheio na minha boca. Eu estava chutando e batendo neles, tentando gritar. Quando consegui empurrar o pano para fora da boca, gritei: 'É o dia do meu casamento!' Foi quando eu acertei o meu primeiro golpe neles. Um dos homens me disse: 'coopere ou você vai morrer".

Terry contou que o estupro se deu por revezamento entre os homens e ela tinha a certeza de que não sobreviveria àquele momento.

"Os homens se revezaram para me estuprar. Tinha certeza de que ia morrer, mas ainda estava lutando pela minha vida, então, quando um dos homens tirou a mordaça da minha boca, eu o mordi com força. Ele gritou de dor e um deles me esfaqueou no estômago. Então eles abriram a porta e me expulsaram do carro em movimento.

Ela estava agora a quilômetros de distância, fora de Nairobi e passaram mais de seis horas desde o seu sequestro.


O resgate
Ela finalmente foi resgatada, depois que uma criança a viu sendo jogada do carro e chamou sua avó, que por sua vez, chamou a polícia. Eles a pegaram e, pensando que estava morta, dirigiram-se para ver o cadáver, mas ela tossiu, então a levaram ao hospital.

"Eu estava meio nua e coberta de sangue, e meu rosto estava inchado. Mas algo deve ter alertado aquela senhora, porque ela adivinhou que eu era uma noiva", contou.

"Vamos ao redor das igrejas para ver se eles estão perdendo uma noiva", disse a senhora que resgatou Terry às enfermeiras.

Quando a família e o noivo de Terry ouviram onde ela estava, eles foram ao hospital com todos os convidados.

Os médicos alertaram que ela poderia ter filhos, porque a facada havia atingido o útero.

Ela continuou pedindo perdão a seu noivo Harry, enquanto sentia que o havia decepcionado.

"Algumas pessoas disseram que eu era culpada por aquilo, pois saí de casa pela manhã. Foi muito doloroso, mas minha família e Harry me apoiaram", contou.


Terry Gobanga. (Foto: BBC)


Sofrimento

A polícia nunca prendeu os estupradores. Ela chegou a fazer um exame de HIV, mas este deu negativo. Então Terry e seu noivo começaram a planejar outro dia para o casamento, que acabou ocorrendo em julho de 2005.

Então, 29 dias depois, seu marido faleceu, após sofrer um acidente com um queimador de carvão.

"Voltar à mesma igreja para realizar o funeral foi algo terrível. Apenas um mês antes, eu estava lá, com meu vestido branco, com Harry em pé, na minha frente, lindo em seu terno. Agora, eu estava de preto e ele estava sendo conduzido, dentro de um caixão", lamentou.

Ela então sofreu um colapso.

"Eu me senti decepcionada com Deus, me senti decepcionada com todos. Não podia acreditar que naquele momento outras pessoas pudessem estar saindo e vivendo tranquilamente suas vidas. Eu surtei", relatou.

"Um dia eu estava sentada na varanda, olhando os pássaros e disse: 'Deus, como você pode cuidar dos pássaros e não de mim?'. Naquele instante, lembrei que alguém que 24 horas por dia sentada na depressão, com as cortinas fechadas, não vai recuperar essas 24 horas perdidas. Antes que você perceba, lá se foi uma semana, um mês, um ano desperdiçado. Essa foi uma realidade difícil", reconheceu.

Ela pensou que nunca poderia se casar novamente, depois de suportar essa dor, mas um amigo, Tonny Gobanga, continuou visitando Terry, conversando com ela e finalmente percebeu que ela havia se apaixonado por ele.

Eles decidiram se casar, mesmo que alguns moradores da comunidade se opusessem ao casamento, por causa do que aconteceu com ela.

"Foi três anos depois do meu primeiro casamento, e eu tive muito medo. Quando trocamos votos, pensei: "Aqui volto e te peço, Pai, não o deixe morrer. Quando a congregação orou por nós, chorei incontrolavelmente", contou Terry.

Então, um ano depois, quando sentiu um enjoo, ficou atônita ao saber que estava grávida e agora tem duas filhas, Tehille e Towdah.

Ela publicou sua história em um livro, 'Crawling out of Darkness', e criou uma organização, Kara Olmurani, oferecendo aconselhamento e apoio para sobreviventes de estupro.

Ela disse à BBC: "Eu perdoei meus abusadores. Não foi fácil, mas percebi que estava fazendo muito mal por me chatear com pessoas que provavelmente não se importam comigo. Minha fé também me encoraja a perdoar e não pagar o mal com o mal, mas com o bem".

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