Sobrevivente de ciclone no RS diz que clamou a Jesus: “Vem me salvar”

Janete Nardini, de 57 anos, foi arrastada pela água por 18 km, agarrada ao telhado de casa.

Fonte: Guiame, com informações de Diário Gaúcho e GZHAtualizado: quinta-feira, 14 de setembro de 2023 às 14:36
Janete Nardini, de 57 anos, foi arrastada por 18 km na enchente. (Foto: Reprodução/GZH).
Janete Nardini, de 57 anos, foi arrastada por 18 km na enchente. (Foto: Reprodução/GZH).

Janete Maria Nardini Zílio, de 57 anos, contou como sobreviveu a enchente que destruiu 80% da cidade de Muçum, durante a passagem de um ciclone no Rio Grande do Sul, na semana passada.

Em entrevista à GZH, Janete contou que mora há 35 anos à beira do Rio Taquari, mas nunca gostou de água e não sabe nadar.

Ela e o esposo Raul moravam em um sítio na área rural de Muçum, onde cultivavam uva, tomate, feijão e mantinham quatro vacas de leite.

No dia 4 de setembro, Janete estava com sua família reunida em casa para comemorar o aniversário do esposo. Naquela tarde, os fortes temporais provocaram a cheia do Rio Taquari e a água rapidamente invadiu as residências da região.

Uma forte correnteza derrubou as paredes da casa de Janete e todos foram arrastados.

“Descemos todos embaixo d'água, mas sobrevivemos. Daí a pouco, o Sérgio [seu cunhado] desceu e não voltou mais. Logo em seguida, meu sogro [Deoclydes] chamou socorro: ‘Me ajudem, não me deixem morrer’”, lembrou Janete.

Ela e o esposo não conseguiram ajudar Deoclydes e ele desapareceu na enchente. A cunhada de Janete, Terezinha, também afundou e desapareceu.

Arrastada por 18 quilômetros

Janete avistou uma telha de zinco flutuando e conseguiu se segurar nela. Durante cerca de duas horas, a mulher foi arrastada 18 quilômetros rio abaixo, em direção à cidade.

Vendo os faróis dos carros na estrada, ela gritou por ajuda. Enquanto era arrastada pela correnteza, Janete desviou de galhos e destroços, e engoliu água por diversas vezes.

A moradora ainda passou por um trecho do rio onde há quedas d’água, afundando três vezes.

“Eu não soltei. Fiquei ali, segurando as orelhinhas do zinco, só pedindo: ‘Jesus vem me salvar. Jesus, preciso de ti’. Bebia aquela água e vomitava tudo de volta”, relatou.

Até que um morador, Luiz Pertille, ouviu seus gritos de socorro e viu Janete pendurada no telhado. Ele e o sobrinho buscaram cordas e a resgataram do rio.

“Eles gritaram para eu pegar firme, mas eu soltei um pouquinho. Acho que estava com medo. Daí sim, peguei e pulei. Caí na água e saí batendo os pés para tentar chegar do outro lado o mais rápido possível”, disse ela.

Janete e o esposo sobreviveram. O casal perdeu tudo na enchente; a casa recém construída, a plantação, as vacas e os dois caminhões.

Seu cunhado Sérgio morreu e teve o corpo encontrado. Terezinha e Deoclydes seguem desaparecidos.

Ciclone 

Um ciclone extratropical atingiu o Rio Grande do Sul na semana passada, deixando um cenário de caos em 100 cidades.

As enchentes causadas pelo fenômeno mataram 47 pessoas e 9 estão desaparecidas, principalmente no Vale do Taquari, conforme o último boletim divulgado pela Defesa Civil.

Mais de 4 mil moradores estão desabrigados. No total, estima-se que mais de 300 mil pessoas foram atingidas de alguma forma.

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