Lançado em junho deste ano, antes do esperado, Renovo é mais um dentre vários discos comemorativos da debutante banda Diante do Trono, que comemora quinze anos de carreira, e consequentemente sucesso estabelecido.
Tenho certa expectativa com discos de regravações, principalmente quando o artista tem um bom histórico com este tipo de trabalho, porém, foi completamente diferente com o Diante do Trono, tendo em mente que os projetos anteriores – Tempo de Festa e Com Intensidade – não mostram, de forma alguma o tipo de novidade, principalmente em relação aos arranjos, mostrando-se álbuns fracos e desnecessários. Renovo, ao contrário, cumpre bem o seu papel fundamental: traz novas roupagens a canções mais antigas do conjunto, mesclando clássicos, como “Nos Braços do Pai” com músicas pouco conhecidas, como “Porque Te Amo”. Já a qualidade dessas melodias dividiu opiniões, sendo muitos os argumentos de que tais empobreceram as faixas e outros, que afirmam que o propósito foi cumprido com êxito e excelência.
Foi gravado durante o 14º Congresso Internacional de Louvor e Adoração Diante do Trono, realizado no final de março deste ano. A gravação foi marcada pela presença de mais de dez mil pessoas, e com vários contratempos, principalmente ao estado de voz de Ana Paula Valadão. Porém, como maior parte dos trabalhos ao vivo produzidos, este passou por correções em estúdio.
O projeto gráfico ficou por conta da Quartel Design, que apostou num visual simples, porém temático. O logotipo “Renovo” foi criado pelo ex-integrante Guilherme Fares. O arranjo vocal por Rodrigo Campos, que recentemente também saiu do grupo. Pelo repertório ser composto exclusivamente por regravações, todas as faixas são interpretadas por Ana Paula Valadão, algumas em dueto com outros vocais do conjunto.
Iniciado com um riff de guitarra, Quero Subir é uma das faixas de celebração do projeto, diretamente do álbum Preciso de Ti, o maior sucesso comercial do Diante do Trono. Comparada a sua versão original, nada lembra em relação ao seu arranjo. O ponto alto da canção está em seu refrão, embora sejam forçados e exagerados os efeitos eletrônicos nesta parte.
Em seguida, A Vitória da Cruz/Mais que Vencedor descreve os melhores momentos do disco em sua parte acelerada. A pegada forte da bateria e a sonoridade da guitarra enriqueceram bastante os arranjos das canções nesta nova versão. A captação ao vivo, com a participação dos congressistas deu um ar vívido à dinâmica da faixa.
Controversa versão, muito tem dito que o novo arranjo de Quem é deus como o nosso Deus, original do disco Esperança é um plágio de Every teardrop is a waterfall do Coldplay. Não entrando no mérito do plágio, a canção poderia apresentar uma sonoridade bem mais interessante, ou ser substituída por outra música.
Deus de Amor, do álbum Diante do Trono possui uma sonoridade simples, porém encaixa muito bem em todos os aspectos, principalmente pela sua característica intimista. Em alguns pontos sonoros, me lembrou Jesus Amado, de Creio, principalmente pela leveza do arranjo.
Uma das músicas de destaque de um dos melhores trabalhos do Diante do Trono – Exaltado, Amigo Fiel segue, em sua nova versão com a forte presença do violão e guitarra dedilhada. O arranjo do baixo aqui é o melhor em todo o álbum, leve, porém fortemente presente. Em seguida, um espontâneo.
Esperança, faixa-título do sétimo trabalho do conjunto mineiro, continuou a ter um arranjo leve em sua nova roupagem agora, desta vez sem o naipe de cordas e com a inclusão da bateria e de demais instrumentos de base.
A melhor faixa do álbum, porém vai para Nos Braços do Pai. Aqui o Diante do Trono chegou a um ponto em que não alcançaram em nenhuma das outras faixas – mudar completamente a sonoridade de uma canção, mantendo, mesmo assim a sua essência. Uma das músicas mais ricas do grupo em questão letrística ganha uma roupagem bem trabalhada de respeito. Os contratempos da bateria, o dueto de Rodrigo Campos e Ana Paula Valadão é muito bom, principalmente nas últimas repetições do refrão. A leveza da versão original deu lugar a uma sonoridade envolvente, com um tom dramático e, desesperador, como diz a letra: “Pai, estou aqui, olha para mim, desesperado por mais de Ti”. Um espontâneo simples e direto para fechar bem, mostrando que sua letra ainda é muito atual.
A boa combinação de Renovo vem também a Seja o Centro, embora tendo desagradado a muitos, é inegável que a nova versão repetiu, em uma escala semelhante, embora inferior o que o grupo conseguiu em Nos Braços do Pai, porém com um arranjo semelhante a sua versão original. Aqui o desafio foi maior que em outras canções, isto porque sua versão original é fortemente intimista, com um dueto. Porém o resultado final ficou muito bom, acima do esperado.
Tua Presença aqui está mais leve que no original. Os toques do violão em contraste com os sintetizadores encaixaram muito bem, e o peso gradativo que esta vai ganhando acompanhado dos vocais de Valadão e Nóbrega. Canção do Amor/Quero me Apaixonar é a faixa de menor destaque do álbum, seus com arranjos pouco diferenciais, mas que encaixam bem entre as canções com sua suavidade, principalmente no dueto entre Salazar e Valadão.
Porque Te Amo recebeu poucas alterações em sua sonoridade, agora, a bateria e o violão fazem mais se presentes. Sua essência intimista manteve-se também em relação a sua primeira gravação.
Fechando o trabalho, temos a faixa-título do décimo segundo álbum do Diante do Trono, Tua Visão. Desta vez, a canção recebeu uma forte influência eletrônica, e ficou mais acelerada. Encerrou bem, embora poderia ter sido melhor trabalhada.
Renovo cumpre parcialmente bem o seu propósito, que apresentar roupagens atuais à canções mais clássicas do Diante do Trono, porém peca nos novos arranjos, aos quais alguns por serem tão simplórios levam as canções a destoar extremamente em qualidade para uma banda do naipe do DT. E isto reflete na sonoridade, pouco atraente em relação aos dois últimos trabalhos inéditos do grupo – Sol da Justiça e Creio. É esperado que o conjunto não venha a cometer o mesmo erro em “Tu Reinas”, já que este será composto por várias regravações também. Dá a impressão ao ouvir o disco, que este não foi produzido com o zelo que deveria.
Nos aspectos gerais, na parte técnica Renovo está bom. Tanto as etapas de produção e pós-produção foram executadas dentro do esperado. Vinícius Bruno firma sua competência como produtor do grupo, cargo que desempenha há certo tempo, e também como o responsável pela gravação dos overdubs, enquanto Rodrigo Campos cumpre sem virtuosismo seu papel de arranjador vocal, transmitindo a simplicidade proposta do disco. Na parte instrumental, o destaque vai para o baterista Tiago Albuquerque, que desde o trabalho Creio tem desempenhado um papel fundamental e de responsabilidade em seu instrumento, mostrando ser um dos grandes ganhos para o Diante do Trono nesta formação. A mixagem e a masterização seguem com uma alta qualidade, porém poderia ter deixado o baixo mais evidente. A captação ao vivo esteve razoável no âmbito geral, soando pouco artificial, o que é muito bom.
Ana Paula Valadão, vocalmente continua a transmitir a essência letrística e vocal do Diante do Trono, mas de forma inteligente e sagaz a dar aos poucos, espaço para os demais vocais do grupo. O desafio, agora, é manter a qualidade vocal dos backs após a saída dos vários membros, como Ana Nóbrega. Com Renovo, a banda firma a proposta musical atual, porém necessitando de um equilíbrio em seu formato comercial com a qualidade instrumental que possuía no passado e com os novos membros nos últimos trabalhos como conseguiu com “Aleluia” e “Sol da Justiça”. De dez pontos, merece oito.
Fonte: Gospel Musikas