Análise: Palavrantiga - "Sobre o Mesmo Chão"

Análise: Palavrantiga - "Sobre o Mesmo Chão"

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:09

 

Um quarteto novo, mas com grande estrada. Dissidentes da banda da cantora Heloisa Rosa, a qual gravaram os discos Liberta-me (2004) e Andando na Luz (2006), o Palavrantiga surgiu em meados de 2007 e 2008 trazendo sonoridades e letras diferentes à um meio gospel tão gasto e clichê. 
 
Após a boa repercussão do primeiro álbum de estúdio, Esperar é Caminhar, surgido após a gravação do primeiro EP, o Palavrantiga surge nos holofotes cristãos como uma nova alternativa de rock cristão de qualidade. Seu indie contido no último trabalho, distribuído pela CanZion alcançou total elogio da mídia especializada. 
 
Dois anos depois, agora num contrato artístico com a Som Livre, o Palavrantiga apresenta Sobre o Mesmo Chão, lançado em 5 de novembro deste ano tanto em formato digital e físico na semana seguinte. A banda, formada por Marcos Almeida, Lucas Fonseca, Felipe Vieira e Josias Alexandre, mais uma vez traz um disco de qualidade musical, apesar de alguns pontos negativos que trarei nesta análise, mas que não retiram a expressividade da obra em seu âmbito geral. 
 
Antes mesmo de chegar às faixas, gostaria de comentar a capa produzida pela Imaginar Design. Assim como a anterior, aposta em um projeto gráfico simples, mas que remete ao tema do disco. É preferível uma capa modesta como essa do que uma elaborada e extremamente exagerada. 
 
A primeira canção, carro chefe da obra é Sobre o Mesmo Chão, de autoria do vocalista e professor Marcos Almeida que também assina todas as demais faixas. Contando com uma introdução pulsante, riffs marcantes e uma interpretação elaborada, a canção se destaca pelo som percussivo do arranjo no refrão. 
 
Outra faixa de destaque no trabalho é a segunda do disco, Sagrado. Possui uma letra bem articulada, trazendo declarações de alguém que deixou de ter seriedade nas coisas sagradas, chegando a achá-las hilárias em alguns momentos. Assim como a canção anterior, aqui o som da bateria destaca-se no arranjo da música, que promete ser uma dentre as de maior repercussão da obra. 
 
O lado poético e ao mesmo tempo “diferente” do Palavrantiga foi notável em partes do disco Esperar é Caminhar, e em Sobre o Mesmo Chão enquadra-se em Branca. Aqui temos, em minha opinião o melhor arranjo e harmonia da obra. Sua melodia é um rock com uma brasilidade genuína com o som dos metais. Sua letra mostra que podemos falar do cotidiano e de forma poética e ainda manter uma essência cristã. Excelente. 
 
De Manhã segue a tendência reflexiva do trabalho. Sendo uma balada, a letra demonstra de uma forma poética e fora dos clichês evangélicos um relacionamento íntimo de uma pessoa com Deus. “Distante daquilo que eu era / Sem força nem fé ou poesia / Me encosto no peito daquele que atende o meu grito” 
 
A quinta faixa, Rio Torto é outra canção de grande valor neste trabalho. Apesar de tantas canções falando sobre “rio” nos últimos anos, aqui o Palavrantiga demonstra sua veia anti-clichê. Os metais e a interpretação de Palavrantiga dão um ar de “luxo” e leveza na canção. 
 
Uma das primeiras músicas do trabalho de conhecimento do público é Minha Menina. Contando com um riff agradável na introdução, a letra faz uma analogia interessante, usando uma menina para descrever um breve desvio de alguém da presença de Deus. É perceptível que Marcos a compôs em primeira pessoa e utilizou uma menina como a principal personagem fazendo alusão à noiva de Cristo. Muito bem articulada. 
 
A sétima canção é Boa Nova, que possui uma agradável condução harmônica. Toques de guitarra excelentes, porém senti uma fraca presença do baixo que, talvez daria uma sonoridade mais positiva nesta música. 
 
O ponto mais negativo do trabalho vem a ouvir a oitava faixa, Rookmaaker. O problema não está na música em si, mas por conta de se tratar de uma regravação recente que, se comparada à sua versão original possui poucas alterações que simplesmente dão o ar de mais do mesmo. Fora isso, é uma demonstração de conhecimento cultural por conta de Marcos Almeida, fazendo uma análise do que é ouvido, lido, escutado e feito pelas pessoas através de alguns grandes nomes do passado, como Hans Rookmaaker e Jean Paul Satre. 
 
Uma das canções mais reflexivas do trabalho é Antes do Final, com uma letra poética enfatizando a importância de se praticar o perdão antes que seja tarde. Destaco aqui a sonoridade “abrasileirada” no final da faixa. 
 
Meu Lar é outra música de grande destaque na letra, aliás, é um ponto positivo no Palavrantiga é que suas canções destacam-se tanto pelos arranjos quanto as letras. Sobre a letra, é uma poesia trazendo o vindouro Reino de Deus como tema. Destaque para os riffs da guitarra e a interpretação melódica de Marcos Almeida. 
 
Finalizando o trabalho, ouço Partiu, tendo uma melodia mais animada que as anteriores. O som das guitarras, da bateria e principalmente do baixo se destacam entre si. Mais uma vez a interpretação de Marcos Almeida é impecável. 
 
Terminando esta resenha, trago minha opinião geral sobre o disco. Os vários elogios acima não são vãos, eles refletem a qualidade e singularidade do trabalho. Apesar de ainda estar em seu segundo disco, o Palavrantiga exala maturidade e competência em Sobre o Mesmo Chão. Nota-se que, se comparado à Esperar é Caminhar, este álbum é mais reflexivo e coeso, unindo os principais pontos positivos da banda. Tem todos os requisitos para se tornar um dos melhores álbuns do ano no meio cristão. Contém poucos deslizes, como a inserção de Rookmaaker no repertório, algo desnecessário. De dez pontos, merece nove e meio. 
 

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