O que os gurus dizem sobre investimentos em ouro

O que os gurus dizem sobre investimentos em ouro

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:30

No dia em que a aversão ao risco voltou a tomar conta do mercado, as bolsas registraram quedas vertiginosas, o dólar subiu e o ouro disparou, superando a barreira recorde de 1.820 dólares por onça-troy. O roteiro, seguido à risca em tempos de crise e repetido nesta quinta-feira, é um velho conhecido dos analistas financeiros O ouro se valoriza em momentos de incerteza por ser um recurso físico limitado no mundo, com chances remotas de perder valor. De 2005 para cá, a ascensão já supera 300%. Se o metal funciona como termômetro do medo, os últimos acontecimentos reforçam que os investidores têm tido o que temer: o impasse fiscal na zona do Euro ameaça contagiar economias mais representativas e os últimos dados sobre o desemprego nos EUA dão mostras que o país pode mergulhar em uma nova recessão.

Especialistas concordam que a volatilidade não vai acabar de um dia para outro. Mas se há consenso quanto às causas da crise que vem chacoalhando o mercado, a garantia da escalada do ouro divide os gurus das finanças em times opostos.

Entre os conhecidos defensores do metal está o gestor que mais lucrou com a falência do mercado de hipotecas de alto risco na crise de 2008. Quando o preço dos imóveis nos Estados Unidos chegou perto do pico, John Paulson foi um dois poucos a apostar que o mercado iria ruir. O acerto lhe rendeu 4 bilhões de dólares e um retorno de quase 600% à frente do seu principal fundo.

Até então um desconhecido em Wall Street, Paulson ganhou fama e elegeu o ouro como sua nova sacada. No primeiro trimestre de 2009, ele comprou 31,5 milhões de ações do SPDR Gold Trust, um ETF lastreado no metal, com o preço médio do ativo a 895 dólares a onça. Em 2010, a estratégia lhe rendeu outros 5 bilhões de dólares. Na época, o megainvestidor afirmou que o ouro chegaria a valer 4.000 dólares a onça-troy em um prazo de três a cinco anos.

Neste ano, Paulson manteve a crença no ativo, deixando sua fatia no fundo intocada. Ele também não mexeu nos seus papéis da NovaGold Resources, uma companhia mineradora que extrai o metal no Canadá e no Alasca.

Na visão de Jim Cramer, ex-gestor de fundos e apresentador do popular programa Mad Money na rede americana CNBC, o ouro não funciona como uma commodity, mas sim como uma moeda. Isso porque ele se valoriza à medida que os países ricos continuam imprimindo dinheiro em uma tentativa de estimular suas combalidas economias. "O ouro permanece a melhor aposta contra o caos que parece crescer hora a hora ", reforçou na última semana . “Se o preço der uma pequena trégua nos próximos dias, meu conselho é que o investidor vá fundo no ativo.”

Nem tanto ao céu, nem tanto à terra, George Soros rebalanceou suas aplicações em ouro este ano. O lendário investidor, que ganhou 1 bilhão de dólares apostando contra a libra esterlina, disse em janeiro de 2010 que o metal estava na maior das bolhas. “Ele pode subir ainda mais, mas a valorização não vai durar para sempre”, sentenciou. Para lucrar com o rally do ativo, ele esperou até o primeiro trimestre deste ano para se desfazer da maior parte da sua posição em fundos garantidos no metal. As vendas chegaram a 800 milhões de dólares. No extremo oposto dos entusiastas se situa o multibilionário Warren Buffett. Na reunião anual da holding de investimentos Berkshire Hathaway em abril, Buffett já desaconselhava o investimento no metal. Na ocasião, ele chegou a dizer que a fundição de todo o ouro do mundo resultaria em um grande cubo com cerca de 20 metros de cada lado. "Você pode polir esse cubo, afagá-lo e ficar admirando-o, mas apenas isso, já que o ouro não tem valor intrínseco", afirmou.

Para o Oráculo de Omaha, quem acredita na subida do metal está simplesmente apostando que mais tarde outra pessoa estará disposta a pagar mais pelo ativo. A lógica contraria o investimento em empresas, que têm linha de produção e geram riqueza ao longo do tempo. Criticando os novos investidores do metal, ele afirmou que o ouro não tem utilidade e que muitos agem como bobos quando os preços estão perto das máximas.

Para o economista-chefe da Principal Global Investors, Robert Baur, aqueles que advogam que o ouro é único ativo que subiu desde 2001 se esquecem de mencionar que entre 1980 e 2000 a cotação do ativo despencou 85%. Integrando a equipe que gere 270 bilhões de dólares de clientes institucionais e de previdência privada nos EUA, Bauer afirmou à EXAME.com que o ouro funciona como investimento quando o dólar está fraco, mas o movimento de agora já denuncia a formação de uma bolha. "Há propagandas sobre ouro nos intervalos da CNN, CNBC ou Fox em horário nobre. Qualquer coisa que seja tão divulgada e anunciada na TV não me parece um bom investimento", disse.

É hora de comprar?

No Brasil, o preço do ouro é calculado a partir do valor negociado em Nova York. Logo, o investimento sofre reflexo direto da variação do dólar. Quando a moeda norte-americana se desvaloriza, como vinha acontecendo nos últimos tempos, a queda tende a neutralizar a subida do ouro. Com o pessimismo contaminando as expectativas de recuperação econômica global, inicia-se um movimento contrário. Portanto, quem investe no metal por aqui deve acreditar tanto no ativo, quanto na estabilidade (ou queda) da moeda brasileira.

"O ouro não é um investimento que paga juros e, por isso, é usado essencialmente para a proteção do patrimônio", diz José Inácio, diretor da Reserva Metais. Para ele, o Brasil não experimentou a febre com o metal na mesma proporção do restante do mundo em função das altas taxas pagas pelos títulos públicos no país, que sempre garantiram um retorno certeiro na renda fixa.

Agora, a demanda vem crescendo em função do aumento à aversão ao risco. "Enquanto o ouro continuar sendo a única moeda que os países não podem acionar uma maquininha para imprimir e perdurar a preocupação com a economia, ele ainda vai subir", emenda Inácio, para quem o valor da onça troy chegará a 2.000 dólares ainda este ano  

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