Victor Oliveira cursa o 3º ano do Ensino Médio no
IEMG, em BH (Foto: Victor Aquino/Arquivo pessoal)
Estudantes que cursam o 3º ano do Ensino Médio em escolas estaduais de Minas Gerais afetadas pela greve dos servidores do setor estão apreensivos com a proximidade do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e dos vestibulares. A paralisação, que durou 112 dias, terminou na última terça-feira (27) e comprometeu 72 dias do ano letivo, segundo a Secretaria de Estado de Educação.
Victor Oliveira, de 17 anos, cursa o último ano do Ensino Médio no Instituto de Educação de Minas Gerais (IEMG) e diz que mudou de opção de curso no vestibular por causa da defasagem gerada pela greve. Ia tentar medicina em Goiânia, mas estou super inseguro. Meu ano é o ano que vem, disse ao G1 . O IEMG, localizado na Região Central de Belo Horizonte, é a maior escola do estado, segundo a Secretaria de Educação. A instituição comporta, atualmente, 5.728 alunos, distribuídos em 141 turmas de Ensino Fundamental e Médio.
No estado, 2.141 escolas oferecem os três anos do Ensino Médio. Destas, 350 foram afetadas pela greve, segundo a secretaria. O Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (Sind-UTE/MG) informou que, até o último dia da greve, 50% dos servidores estaduais estavam paralisados, mas não soube dizer quantas escolas foram afetadas pelo movimento. Dias a mais
Sábados, férias e primeiros meses de 2012 vão ser usados para a reposição de aulas para alunos de escolas estaduais. Para Victor, a reposição não vai ser suficiente para restabelecer o conteúdo perdido. É tampar o buraco, né. Rola uma insegurança enorme. Daqui a três semanas é o Enem. A gente fica com os dois pés atrás, desabafou.
Além da ansiedade com os vestibulares e o Enem, pais e estudantes também não estão satisfeitos com o calendário de reposição das aulas. De acordo com um dos diretores do sindicato que representa os servidores da educação, Paulo Henrique Fonseca, o calendário está sendo discutido pela comissão formada por representantes dos servidores, do governo e dos deputados. Nosso interesse também é a melhor qualidade de ensino possível, disse. A estudante Izabela Rodrigues, de 17 anos, estuda na Escola Estadual Maestro Villa Lobos, no bairro Santo Agostinho, na Região Centro-Sul da capital. Para ela, a reposição aos sábados cria dificuldades para alguns estudantes que não tem recursos para se deslocar até a instituição. Eu tenho que pegar dois ônibus e fica fora de mão para mim. É complicado, disse. Poucos vão à aula no sábado. A maior parte [dos alunos] pensa assim: não escolhi ter greve, então não vou vir aqui no sábado. Sempre fica faltando. Todos os anos que tive greve foi assim. Professores dão um jeito de empurrar e o estado não quer gastar dinheiro com a gente, completou. Não culpo os professores. Acho que tinha realmente que ter a greve. No Brasil, não tem outro jeito de mostrar que quer mudanças. Infelizmente, prejudica a gente. Ninguém queria ficar nesta correria agora, confessou.
Professores
No dia 8 de agosto, dois meses após o início da paralisação dos servidores, a Secretaria de Estado de Educação publicou uma resolução autorizando a contratação de professores designados para substituir os professores grevistas dos alunos que cursam o 3º ano do Ensino Médio. Um total de 2.404 professores foram contratados para atender aos alunos do 3º ano do Ensino Médio e, segundo o governo, tentar diminuir a defasagem dos estudantes no Enem e nos vestibulares. Ainda de acordo com a Secretaria de Estado de Educação, os substitutos permanecem na escola até o fim do ano letivo, que inclui a reposição de aulas, e podem cumprir funções em outras atividades.
Gêmeas Izabela e Izadora Rodrigues tentam
recuperar e aprofundar conteúdo em cursinho
de BH (Foto: Izabela Rodrigues/Arquivo Pessoal)
Para algumas turmas do Colégio Estadual Central, localizado na Região Central de BH, a medida não gerou tanto efeito, segundo a aluna Izadora Rodrigues, que é irmã gêmea de Izabela. Izadora, que cursa o último ano do Ensino Médio e quer tentar Relações Públicas no vestibular, disse ao G1 que ficou cerca de dois meses sem aulas durante o movimento dos servidores estaduais. Ao saber da contratação dos substitutos, a aluna diz que voltou a ir às aulas, mas a presença dos colegas era ínfima e o dia letivo não era contado. Na segunda-feira, a turma tinha 11 alunos. Não faz sentido minha sala assistir aula, sendo que este dia não vai valer, diz.
A aluna também criticou a falta de capacitação dos novos professores. No cursinho, assisto a aulas ótimas. Chego na escola e os professores substitutos não são nem metade dos nossos que saíram. É muito complicado, disse. A estudante contou que se matriculou em um curso pré-vestibular para ter acesso ao conteúdo das provas. Tem matéria que estou vendo no cursinho que ainda nem vi no 3º ano. [No cursinho] a gente está vendo a revisão das aulas. Mas e os alunos que não estão fazendo cursinho e que vão ter que correr na escola pra ver este conteúdo?, refletiu. Izadora disse ainda que, apesar de estudar bastante para o vestibular e para o Enem, não está certa da aprovação. Sempre estudei em escola pública e acho que a gente leva desvantagem. Confiante mesmo não estou não, mas estou estudando, buscando tirar notas boas. Se não passar neste ano, tem o ano que vem, ainda, disse.
Izabela Rodrigues também relatou ter ficado decepcionada com os professores substitutos e com o sistema de reposição das aulas. Os substitutos são muito fracos. [Eles] pegaram o negócio no meio e agora tem que correr por causa da greve, disse. A aluna, que vai tentar Engenharia de Automação no vestibular, disse que sentiu falta de parte dos professores antigos. Durante a greve, a estudante disse que optou por estudar em casa e decidiu se matricular em um cursinho para tirar as dúvidas e aprofundar no conteúdo cobrado pelos vestibulares. Pegava minhas coisa para relembrar a matéria, para não sair da memória, disse. Para ser sincera, acho que ensino na escola pública não é uma coisa que vai favorecer muito na hora de tentar vestibular, principalmente federal, que é o que eu quero. É muito fraco mesmo, sem generalizar porque tem professores muito bons, mas tem professores muito ruins também, relatou.
Já para a aluna Ana Carolina Barbosa, de 17 anos, a contratação de professores substitutos ajudou, sim, a não perder o foco para o vestibular. A melhor coisa foi ter contratado substitutos. Isso tinha que ter sido feito antes. Como a gente estava reclamando, os alunos protestando, o governo foi e contratou, falou. Mas agora, tem professor substituto parado no meu colégio sem fazer nada. É imposto nosso, né, falou. A adolescente, que ainda está em dúvida se tenta Biomedicina ou Ciências Biológicas no vestibular, estuda no IEMG. Assim que soube da greve, a estudante não perdeu tempo e se matriculou em um pré-vestibular. Achei que ia ficar prejudicada e decidi entrar em um cursinho para pegar o ritmo dos alunos de escola particular porque estadual é menos bem preparado, disse.
Ao invés de procurar um cursinho, a estudante Lívia Maria Ferreira, de 17 anos, contratou um professor particular. Acho que cursinho é atraso de vida. Na aula particular, a atenção é só pra você, disse. Segundo ela, a mãe apoiou a decisão. Na escola, eles passam duas ou três matérias de uma vez só. Estão correndo com a matéria mesmo. Ainda bem que já estou na aula particular, completou.
Projetos
Outra medida do governo adotada para tentar diminuir os efeitos da greve para os estudantes foi a produção de videoaulas veiculadas nas manhãs de sábado na rede estatal de televisão. Vídeos de dois minutos com conteúdo do vestibular também começaram a ser exibidos entre os programas da emissora. Nem ouvi falar nestes vídeos. Por isso, procurei o cursinho. Para não ficar tão descontrolada, fazer a prova sem saber nada, falou Ana Carolina Barbosa.
Uma parceria entre o Instituto Henfil e as secretarias de Educação e Ciência e Tecnologia assinada em 9 de setembro começou a promover teleaulas presenciais com conteúdo preparatório para o Enem nos 79 centros vocacionais tecnológicos . Para participar, os estudantes devem se cadastrar pessoalmente nos centros. De acordo com a secretaria, a parceria foi divulgada na época da criação do projeto.
A estudante Ana Carolina Barbosa também não sabia sobre o projeto e disse que ele é ineficaz para o caso de estudantes que não podem se deslocar até os centros. Não é todo mundo que tem recurso pra isto. Não adiantou nada. Quase todo mundo da minha sala trabalha. Que hora que vai ter tempo pra ir ver isso?, disse.
O estudante Victor Aquino também não tomou conhecimento sobre os programas e disse que acha o método de ensino ineficaz, já que não poderia tirar dúvidas sobre o conteúdo, por exemplo. Não é a mesma coisa, né, disse. Colocaram os alunos neste fogo entre professores e governo. Os mais prejudicados fomos nós, desabafou.
Para amenizar o atraso, professores aumentaram o ritmo de aulas e conteúdo nos colégios estaduais. A gente está tendo prova em cima de prova, trabalho em cima de trabalho. A gente tem que preocupar com o vestibular e em passar de ano, falou Victor.
Ana Carolina Barbosa, que estuda no mesmo colégio de Victor, também reclamou do novo ritmo. O colégio está matando. Estão tacando matéria na gente para dar as notas logo. Muita gente está reclamando por causa disso. Não está dando pra estudar. A gente estressa, né. Ainda mais fazendo prova com uma matéria que ninguém nunca viu, disse.
Alunos que tiverem dificuldades para ingressar em faculdades e universidades por falta de término do ano letivo devem procurar a Secretaria de Estado de Educação ou as superintendências de ensino para a emissão de uma declaração de conclusão do Ensino Básico, que inclui o Fundamental e o Médio.
A secretaria informou que o documento não fica pronto na hora, mas não soube dizer o prazo. Para saber os documentos que devem ser apresentados para a requisição da declaração de conclusão, a secretaria pede que os interessados procurem a própria secretaria ou as superintendências para se informar. Ainda segundo a secretaria, cada caso é diferente e deve ser analisado individualmente.
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