Coluna Reverendo Cristofani: De um mesmo e só Espírito!

Coluna Reverendo Cristofani: De um mesmo e só Espírito!

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:31

No princípio criou Deus os céus e a terra. Na vastidão inócua e informe, na deformidade caótica de um mundo sem encanto, passou a dizer palavras de encantamento e ternura... E eis a luz, e as trevas abissais se dissiparam, e o dia e a noite. E eis o firmamento, e as águas, acima e abaixo, e também um torrão de terra seca, os continentes, terra e mar, ilhas e nascentes, poeira e águas correntes. E a relva, a erva, a árvore, sementes, flores, frutos, florestas, bosques e jardins. Exuberante arrebenta a flora vicejando vida em solo bruto... E eis no céu o sol, e a lua e as estrelas aos milhares, e as constelações e galáxias e todo o exército dos céus marchando na precisão de suas órbitas, alumiando dias e noites, separando luz e trevas, compassando tempos e estações... E eis as águas embaixo povoadas de seres marinhos, e os céus em cima repletos de seres alados, e a terra, no meio, tomada de seres sem conta, animais de toda espécie. A vida extravasa em rica fauna. E aos peixes, aves, répteis ordenou:  

-- Enxameai terra e céus e mares... E eis que tudo, tudo, tudo era muito bom. E num momento de suprema e infinita inspiração criou Deus o ser humano, homem e mulher os criou, e como uma coroa de rosas o colocou sobre toda sua criação que com carinho fizera.

E disse mais:

-- Não fiquem sozinhos, façam amor, e que desse amor multipliquem-se em iguais e povoem o planeta!

 Ótimo! Tudo perfeito! Tudo tão bom! Bom de se olhar, bom de se tocar, bom de se saborear! Tudo muito bom!

E assim se fez, e nos amamos e geramos tantos outros seres humanos e tomamos todos os recantos da terra, e habitamos os vales, as campinas, as montanhas... Entretanto, para aonde fomos Deus não nos deixou só, mas assoprou um mesmo e só espírito nos Poetas, nos Profetas e nos Pastores. Os primeiros para cantar o encantamento da criação, os segundos para promover o cuidado com a criação e os últimos para cuidar da coroa da criação. Deu-nos as Poetizas para cantar a nossa relação com Ele mesmo. Concedeu-nos as Profetizas para promover nossa relação com a Natureza. E ofertou-nos as Pastoras para cuidar da nossa relação com nossos semelhantes.

Assim, o espírito que habita poetas e poetizas canta:

Foi Deus quem fez o céu e o luxo das estrelas, fez também um seresteiro para conversar com elas, fez a lua que prateia minha estrada de sorrisos. Foi Deus quem fez o vento que sopra os teus cabelos, foi Deus quem fez o orvalho que molha o teu olhar. Foi Deus quem fez a noite, e um violão plangente, foi Deus quem fez a gente somente para amar, só para amar

Salmo 104:1 - Bendize, ó minha alma, ao SENHOR! SENHOR, Deus meu, como tu és magnificente: sobrevestido de glória e majestade, 2 coberto de luz como de um manto. Tu estendes o céu como uma cortina, 3 pões nas águas o vigamento da tua morada, tomas as nuvens por teu carro e voas nas asas do vento. 4 Fazes a teus anjos ventos e a teus ministros, labaredas de fogo. 5 Lançaste os fundamentos da terra, para que ela não vacile em tempo nenhum. 6 Tomaste o abismo por vestuário e a cobriste; as águas ficaram acima das montanhas; 7 à tua repreensão, fugiram, à voz do teu trovão, bateram em retirada. 8 Elevaram-se os montes, desceram os vales, até ao lugar que lhes havias preparado. 9 Puseste às águas divisa que não ultrapassarão, para que não tornem a cobrir a terra. 10 Tu fazes rebentar fontes no vale, cujas águas correm entre os montes; 11 dão de beber a todos os animais do campo; os jumentos selvagens matam a sua sede. 12 Junto delas têm as aves do céu o seu pouso e, por entre a ramagem, desferem o seu canto. 13 Do alto de tua morada, regas os montes; a terra farta-se do fruto de tuas obras. 14 Fazes crescer a relva para os animais e as plantas, para o serviço do homem, de sorte que da terra tire o seu pão, 15 o vinho, que alegra o coração do homem, o azeite, que lhe dá brilho ao rosto, e o alimento, que lhe sustém as forças. 16 Avigoram-se as árvores do SENHOR e os cedros do Líbano que ele plantou, 17 em que as aves fazem seus ninhos; quanto à cegonha, a sua casa é nos ciprestes. 18 Os altos montes são das cabras montesinhas, e as rochas, o refúgio dos arganazes. 19 Fez a lua para marcar o tempo; o sol conhece a hora do seu ocaso. 20 Dispões as trevas, e vem a noite, na qual vagueiam os animais da selva. 21 Os leõezinhos rugem pela presa e buscam de Deus o sustento; 22 em vindo o sol, eles se recolhem e se acomodam nos seus covis. 23 Sai o homem para o seu trabalho e para o seu encargo até à tarde. 24 Que variedade, SENHOR, nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste; cheia está a terra das tuas riquezas. 25 Eis o mar vasto, imenso, no qual se movem seres sem conta, animais pequenos e grandes. 26 Por ele transitam os navios e o monstro marinho que formaste para nele folgar. 27 Todos esperam de ti que lhes dês de comer a seu tempo. 28 Se lhes dás, eles o recolhem; se abres a mão, eles se fartam de bens. 29 Se ocultas o rosto, eles se perturbam; se lhes cortas a respiração, morrem e voltam ao seu pó. 30 Envias o teu Espírito, eles são criados, e, assim, renovas a face da terra. 31 A glória do SENHOR seja para sempre! Exulte o SENHOR por suas obras!  

Água que nasce na fonte serena do mundo, e que abre o profundo grotão. Água que faz inocente riacho e deságua na corrente do ribeirão. Águas escuras dos rios que levam a fertilidade ao sertão. Águas que banham aldeias e matam a sede da população. Águas que caem das pedras, no véu das cascatas, ronco de trovão e depois dormem tranqüilas no leito dos lagos. Água dos igarapés onde mãe d'água, é misteriosa canção. Água que o sol evapora, pro céu vai embora virar nuvens de algodão. Gotas de água da chuva, alegre arco-íris sobre a plantação. Gotas de água da chuva, tão tristes são lágrimas na inundação. Águas que movem moinhos são as mesmas águas que encharcam o chão e sempre voltam humildes pro fundo da terra. Terra planeta água.

Há um mesmo e só Espírito na alma das poetizas e poetas que cantam e louvam, por nós, o Criador pela beleza da criação.

Assim, o mesmo espírito que também habita profetas e profetizas exorta:

Gênesis 2:15 - Tomou, pois, o SENHOR Deus ao homem e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar.

Gênesis 2:19 - Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles. 20 Deu nome o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selváticos...

..., tudo é azul, terra azulada, verde-azul, azul (e céu) tudo é azul, lago e lagoas azuis e, quanto mais distante a terra, mais azul, ilhas azuis em lago azul. Este é o rosto da terra libertada. Para nos amarmos numa terra bela, muito bela, não só por ela senão pelos homens nela, sobretudo pelos homens nela. Esta terra, Deus nos deu bela por isso, para a sociedade nela.

Romanos 8:19-24 19 - A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. 20 Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, 21 na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. 22 Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. 23 E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo.

 Há um mesmo e só Espírito na alma dos profetas e profetizas que nos exortam ao cuidado terno com a criação do magnificente Criador.

Da mesma forma que habita com poetas, profetizas, poetizas e profetas, o mesmo espírito faz morada com pastores e pastoras.

Porém, dos pastores não temos discursos para mostrar, e das pastoras não há palavras para falar, pois sua tarefa impõe, por si, uma atitude e não palavra.

Portanto, são vidas que falam pelas pastoras: Jesus de Nazaré, Francisco de Assis, Dietrich Bonhoeffer... e pelos pastores: Maria de Nazaré, Teresa de Ávila e Teresa de Calcutá, e todos os anônimos pastores e pastoras anônimas que se fizeram poesia e profecia a favor dos seus irmãos e irmãs.

Maria de Nazaré, mãe do Senhor, acolheu em seu ventre o lógos, o poema completo de Deus. E com um cuidado maternal cumpriu a dolorosa e gratificante missão de ser a mãe do Salvador de toda criação de Deus Pai.

Junto aos irmãos e irmãs da comunidade Maria estendeu a todos, sem distinção, os segredos guardados em seu coração de mãe, confortando e animando, como uma pastora, o rebanho de Deus.

Teresa de Ávila, mística e religiosa espanhola, fundadora da comunidade das Carmelitas Descalças, reforçou o cumprimento rigoroso das primitivas e severas regras da Ordem. Foi a primeira mulher a ser proclamada doutora da Igreja. Teresa purificou a vida religiosa espanhola do início do século XVI, contribuindo para fortalecer as reformas na Igreja numa época em que o Protestantismo estendia-se pela Europa.

São dela as seguintes palavras ditas para suas pupilas:

É aqui, minhas filhas, que o amor será achado - não escondido pelos cantos, mas em meio de ocasiões pecaminosas. E me acreditem, embora possamos falhar freqüentemente e cometer pequenos erros, nosso ganho será incomparavelmente muito maior.

E ainda...

Compreendi que o amor encerra todas as vocações e que o amor é tudo, abraça todos os tempos e todos os lugares.

Teresa de Calcutá, albanesa, abre-se à vocação divina e, aos trinta e oito anos, abandona o convento e vai viver nas periferias de Calcutá (Índia) com os pobres dos pobres, como ela mesma dizia. O cuidado com os pobres ela o transformou em um quarto voto às suas seguidoras nos seguintes termos: "dedicar-se de todo coração e livremente a serviço dos mais pobres dos pobres."

Ao fundar a "Casa dos Moribundos" passa a acolher os miseráveis que viriam a morrer nas ruas caso não fossem recolhidos.

Uma das frases mais marcantes desta Pastora do rebanho de Deus é a seguinte: "Dá Cristo ao mundo, não o mantenhas para ti mesma e, ao fazê-lo, usa as tuas mãos." E o carisma fundamental aparece na exortação ao cuidado com os pobres: "toca-os, lava-os, alimenta-os."

Essas mulheres-pastoras falam, ainda hoje, com suas vidas, do cuidado com o povo de Deus.

Outro tanto se pode ver nas vidas de Jesus de Nazaré, de Francisco de Assis e Dietrich Bonhoeffer.

Jesus de Nazaré, o supremo Pastor, ungido pelo mesmo espírito, deixou Nazaré ...

Mateus 4:13-17  13 ... foi morar em Cafarnaum, situada à beira-mar, nos confins de Zebulom e Naftali; 14 para que se cumprisse o que fora dito por intermédio do profeta Isaías: 15 Terra de Zebulom, terra de Naftali, caminho do mar, além do Jordão, Galiléia dos gentios! 16 O povo que jazia em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região e sombra da morte respland eceu-lhes a luz. 17 Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.

Compreendendo sua missão entre os pobres e miseráveis, Jesus de Nazaré, de passagem por este mundo, olhando ...

Mateus 9:36-10:1 36 ... as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam aflitas e exaustas como ovelhas que não têm pastor. 37 E, então, se dirigiu a seus discípulos: A seara, na verdade, é grande, mas os trabalhadores são poucos. 38 Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande trabalhadores para a sua seara.

Dietrich Bonhoeffer, além de Pastor, Teólogo, foi escritor e poeta. Um dos fundadores da chamada "Igreja Confessante" organizada em Maio de 1934 em Barmen, Alemanha. Sua experiência à frente da igreja em Finkenwalde gerou dois livros O Preço do Discipulado e Vida em Comunidade, que, somado a um terceiro livro, Cuidado Espiritual sobre o ministério pastoral, usava para preparar pastores para a Igreja Confessante.

A partir de 1934, já perseguido, exerce clandestinamente seu ministério na Alemanha, até ser preso em 1943, acusado de envolvimento num plano para assassinar Hitler.

Dietrich Bonhoeffer amou a igreja do seu tempo, sofreu com ela e por ela, mas também participou ativamente do destino da sua pátria, e quando viu que a sua igreja silenciou diante de tanta injustiça, que os cristãos não levantaram suas vozes em favor

... dos irmãos mais fracos e indefesos de Jesus Cristo (os judeus e os 200.000 considerados indignos de viver, entre eles os deficientes físicos e mentais, todos estes condenados a eutanásia, mais os milhares de ciganos, homossexuais e testemunhas de Jeová levados para os campos de extermínio)...

... não calou e nem desistiu mesmo sabendo o risco que iria correr se fosse adiante pela causa.

Em um sermão de fevereiro de 1933, logo após a ascensão de Hitler ao poder, Dietrich declara:

Na Igreja temos um único altar, o altar do Altíssimo, diante do qual todas as criaturas devem dobrar os joelhos

Francisco de Assis, um jovem de boa condição econômica e bem situado socialmente com um futuro promissor, tem uma profunda experiência espiritual com o Senhor e, movido pelo espírito de Deus, abandona tudo e passa a viver com as pessoas mais desprezadas da sua época.

Vive, a partir daí, junto aos leprosos, aos pobres e inicia um movimento de restauração de vidas humanas.

Francisco inunda seu mundo de amor e fraternidade e desenvolve uma compreensão de comunhão do homem com a criação que transborda em poesia e cuidado para com tudo e para com todos.

Ao explicar a um noviço a loucura do Evangelho, Francisco de Assis diz:

O Evangelho me confere a liberdade dos loucos e das crianças. A liberdade evangélica, meu irmão, te permite jejuar e interromper o jejum para comer com o irmão que grita à noite "morro de fome", te convida a apreciar a tradição e a abrir caminhos novos, a falar com os ricos e a beijar os leprosos. Meu irmãozinho, só viverás a liberdade do Evangelho se acreditares no sonho, se alimentares em ti a ternura para com todas as coisas e se te dispuseres a sofrer com alegria. Não deixes, irmão, de sonhar o sonho de Jesus Cristo.

Finalmente, as palavras de irmão Francisco ressoam claras e fortes:

Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, aqui e em todas as vossas igrejas que estão no mundo inteiro e vos bendizemos porque por vossa santa cruz redimistes o mundo. Eterno Deus onipotente, justo e misericordioso, concedei-nos a nós míseros praticar por vossa causa o que reconhecermos ser a vossa vontade e querer sempre o que vos agrade, a fim de que, interiormente purificados, iluminados e abrasados pelo fogo do Espírito Santo, possamos seguir as pegadas de vosso Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, e por vossa graça unicamente chegar até vós, ó Altíssimo, que em Trindade perfeita e Unidade simples viveis e reinais na glória como Deus onipotente por toda a eternidade.

Deus não nos deixou sozinhos no mundo, mas nos deu os poetas e poetizas para cantar a beleza da criação, legou-nos os profetas e profetizas para nos exortar ao cuidado da Natureza e nos presenteou com os pastores e pastoras para que fossemos cuidados por eles.

Ao insuflar um mesmo e só espírito em todas elas e em todos eles o Senhor nos concede sempre fruir da companhia dessas pessoas e entre nós, hoje, estão os pastores e as pastoras para cuidar da coroa da criação.

Salmo 104: Senhor envias o teu Espírito e fazes a teus ministros e ministras, labaredas de fogo.

Amém!

Reverendo Professor José Roberto Cristofani é pós-doutorando em Lingüística Aplicada pela UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina, tem  Doutorado em Antigo Testamento pela EST/UFRGS- Escola Superior de Teologia da IECLB e Especialização em Informática na Educação pela UEL - Universidade Estadual de Londrina. É criador e especialista em Inteligência Sapiencial - Sabedoria bíblica para uma vida feliz. É fundador da UniCristã - Universidade Cristã Livre (UCL), Pastor da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil e diretor executivo da $included="null" htmlElement="true"> Educatech E-Learning Solutions

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