Melhor escola de SP diz que não há espaço para 'jeitinho brasileiro'

Melhor escola de SP diz que não há espaço para 'jeitinho brasileiro'

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:28

Alunos do Colégio Vértice aguardam em espaço arborizado o início da prova de filosofia (Foto: Letícia Macedo/ G1)     A direção do Vértice, na Zona Sul de São Paulo, considerada a melhor escola do estado pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2010, diz que o respeito às normas do colégio, levado à risca pelos alunos, é um dos fatores de sucesso na avaliação. Na opinião da fundadora da escola, o “jeitinho brasileiro” é nocivo para a coletividade no processo de aprendizagem. O colégio obteve 743,75 pontos na avaliação, a terceira melhor média do país. O Vértice figura no grupo 1, que teve participação dos estudantes acima de 75% na avaliação, aplicada em 2010. Em 2009, o Vértice obteve o melhor desempenho do Brasil no Enem e agora aparece em terceiro lugar na lista nacional.

O Ministério da Educação mudou o critério de divulgação das notas por escola do Enem. Foram criadas quatro categorias de acordo com a porcentagem de participação no Enem 2010:

Grupo 1: de 75% a 100% (17,8% das escolas)

Grupo 2: de 50% a 74,9% (20,9% das escolas)

Grupo 3: de 25% a 49,9% (33% das escolas)

Grupo 4: de 2% a 24,9% (27,4% das escolas)

De acordo com a nota técnica divulgada pelo MEC, não se deve misturar as categorias para comparação de desempenho entre as escolas. As escolas que tiveram menos de 2% de participação não foram consideradas. De acordo com o MEC, a média de participação dos estudantes no Enem 2010 foi de 56,4%.

Atividade pedagógica questiona sociedade de

consumo (Foto: Letícia Macedo/ G1)

  'Aula é momento sagrado'

“O Vértice foi criado com o objetivo de desenvolver a capacidade e a criatividade, que são características típicas dos brasileiros. Mas é uma escola brasileira sem o jeitinho brasileiro, porque ele é péssimo para o coletivo”, afirma a pedagoga Walkiria Gattermayr Ribeiro, fundadora do colégio. “A tendência é que a pessoa se ache melhor do que as outras porque acredita que tem privilégio. Isso é extremamente nocivo para o processo de aprendizagem."

“A hora da aula é considerada um momento sagrado. É o melhor momento para quem precisa ensinar e para quem precisa aprender. O aluno tem esse direito. Há momentos em que o aluno deve participar, mas ele também tem o dever de não perturbar, em respeito ao trabalho do professor e dos colegas”, diz o diretor Adilson Garcia.

A escola tem cerca de mil alunos - 200 no ensino médio. Cada estudante pode chegar até três vezes atrasado, e apenas 10 minutos após o horário. Se exceder esse limite, ele deve voltar para casa. A escola abre exceção apenas para os pais que não tenham com quem deixar os filhos. A criança fica na escola, em um espaço reservado, mas não pode assistir às aulas.

Alunos fazem atividade com bola

(Foto: Letícia Macedo/ G1)

  Tanto cuidado com a disciplina tem uma razão de ser, segundo a diretoria. “Os alunos se sentem cuidados. Deixando claros os limites, eles se comportam maravilhosamente bem”, diz Walkiria. Segundo ela, outra chave de sucesso é a relação de proximidade entre alunos e professores, que passam por capacitações constantes. “Temos uma equipe muito coesa. Não tem estrelas”, afirma Walkiria.

Os professores podem facilmente utilizar em sala de aula computadores, projetores multimídia e aparelhos de som. “A tecnologia nos possibilita utilizar vários recursos visuais. Ela é mais um meio que deve ser usado com inteligência, porque os alunos já estão familiarizados com isso. É preciso prepará-los para outras situações com as quais eles têm menos familiaridade, com as aulas teóricas”, afirma o professor de física Alexandre Simonka, de 37 anos.

A biblioteca tem cerca de 12 mil volumes. Os alunos têm direito a aulas de reforço e ganham no segundo grau orientação vocacional. Entre as aulas optativas, os alunos podem escolher os conteúdos de acordo com as preferências individuais. “Eles já cursaram curso de sapateado, modelagem em arte e até fotografia”, diz a pedagoga. O material didático de apoio, que é fornecido pela escola, faz parte do sistema UNO. A mensalidade paga por um aluno do último ano é de R$ 2998, com materiais didáticos, todas as aulas inclusas, além da orientação profissional.

Bárbara Melo acha que esforço para acompanhar

a rotina vai valer a pena (Foto: Letícia Macedo/G1)

  Para os alunos do ensino médio, a carga horária é reforçada. Nos dois primeiros anos, eles estudam em período semi-integral. No terceiro ano, as aulas são em período integral todos os dias da semana.

Alguns estudantes estão na contagem regressiva para ingressar na universidade e dizem que consideram o colégio bastante exigente. Eles afirmam, no entanto, que o esforço vai valer a pena. A aluna do 2º ano do ensino médio Bárbara Melo, de 16 anos, estuda no Vértice desde a segunda série do ensino fundamental e diz gostar bastante do colégio. A garota, que pretende prestar vestibular para medicina, afirma apenas que a rotina é um pouco cansativa. “Para conseguir estar em dia com os estudos é preciso reduzir um pouco os momentos de lazer, mas ainda dá para se divertir. É um pouco cansativo, mas eu acho que o esforço vai me ajudar a entrar em uma boa faculdade”, conta.

A escola afirma que o esforço dá resultado. “Entre os nossos alunos, 85% conseguiram ser aprovados no curso de sua preferência”, diz Garcia.

Estudantes participam de aula de redação (Foto: Letícia Macedo/ G1)          

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