Preparo para português no Enem começa cedo, dizem professores

Preparo para português no Enem começa cedo, dizem professores

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:16

O português é a disciplina em que os alunos obtiveram o pior resultado no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2009. Em uma escala de 0 a 1.000, nenhum colégio no País atingiu média de 700 pontos na área de Linguagens e Códigos, que mede as habilidades dos estudantes em língua portuguesa e interpretação de textos. Para melhorar este desempenho, professores ouvidos pela reportagem do iG dão uma receita que exige tempo e dedicação: é preciso começar cedo e ler muito. E, principalmente, são necessários bons professores.

As características principais da prova do Enem são análise, contextualização e interpretação de texto. Segundo Francisco Platão Savioli, supervisor de Língua Portuguesa do cursinho Anglo em São Paulo e professor aposentado da Universidade de São Paulo (USP), a gramática exigida no exame nacional é “funcional”, produz sentidos. Ou seja, não adianta decorar regras para se dar bem no exame.

“Uma pausa altera radicalmente o sentido. Uma combinação fonética pode dar uma pegada poética. Um artigo pode mudar o sentido da frase: ‘Destruíram uma igreja do povoado’ é completamente diferente de ‘destruíram a igreja do povoado’. Na primeira frase o sentido implícito é de que há várias igrejas no local; já na segunda há uma única igreja”, exemplifica Savioli.

Em sala de aula, na avaliação do professor, deve-se ensinar gramática com uma perspectiva mais prática. A descrição das regras é importante para permitir que o aluno conheça a nomenclatura e saiba reconhecer os elementos e os processos de composição da língua. “Se você não sabe o que é um verbo transitivo ou uma operação semântica, não percebe esses elementos no texto. Porém, mais importante do que a descrição dos nomes são as construções que você pode fazer com esse conhecimento”, analisa.

Para adquirir as habilidades necessárias para o Enem – “apreensão”, captura do sentido inscrito do texto, e “compreensão”, capacidade de correlacionar o que se apreendeu com outros textos, o estudante precisa ampliar seu repertório textual. Ao ler um texto, o aluno avalia e classifica se gostou ou não, se é um texto careta, brega, romântico ou poético. “Isso acontece porque ele tem na memória diversos textos que permitem essa comparação. É fundamental ter uma boa base de referência", diz Savioli.

Redação e leitura

No Colégio Batista, em São Paulo, escola que ficou com melhor nota do País e o melhor desempenho em Redação no Enem, a professora e autora de livros didáticos Vera Almeida parte dos textos para desenvolver técnicas de redação com estudantes do 9º ano do ensino fundamental ao 3º do ensino médio. “Mostro um modelo para os alunos – redações bem avaliadas, textos extraídos de livros didáticos e jornais – e reflito com eles o texto todo, todas as formas de argumentação, as técnicas usadas, as interpretações possíveis. Depois apresento outro tema para eles escreverem a respeito”, conta. O trabalho é desenvolvido em turmas pequenas, de 15 alunos, com o acompanhamento de perto da professora. “Fico ao lado do aluno. Enquanto ele escreve, verifico se a gramática está sendo aplicada, como a argumentação está sendo usada, se ele faz comparações. É uma escrita por etapas”, diz.

Ambiente propício, aula de leitura agradável e a descoberta do estilo de literatura preferido são passos importantes apontados pela doutora em Língua Portuguesa e vice-coordenadora do curso de Licenciatura em Letras da Pontícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) para os estudantes adquirirem o hábito da leitura, afirma Lilian. Entre as experiências aplicadas por Vera no Colégio Batista estão o trabalho com diferentes obras em sala de aula. “Antes de eles começarem a ler, eu comento sobre os livros do autor, conto histórias sobre o escritor, sobre a época na qual a obra foi escrita, curiosidades, trago o suspense pra sala de aula. Estimular a vontade de ler e é muito importante.” Por exemplo, para introduzir a leitura de “Um “Um certo Capitão Rodrigo”, de Érico Veríssimo, Vera passou aos alunos o filme “Ana Terra”, baseado em outro livro do escritor. Só então os alunos iniciaram a leitura do clássico.

Professores

O estímula à leitura passa por professores bem preparados. “Nem todos os professores são bons leitores e bons escritores. Para que o menino leia bem, ele precisa ter bons professores que o ensinem a ler”, destaca Lilian. Como as crianças aprendem imitando professores e pais, seus referenciais, é preciso contagiar os alunos, trazê-los para a leitura desde cedo. De acordo com Lilian, o domínio da língua é uma atividade cognitiva complexa, que vai sendo construída ao logo da vida escolar, com diversos estímulos, como exercícios de interpretação e produção de textos. A especialista acredita que o principal causador do mau desempenho do País em português é a formação de professores.

“Precisamos contar com bons professores que contagiem seus alunos, mestres que sejam bons leitores. Não podemos ficar no faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.”

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