Secretaria de Políticas para Mulheres pede explicações sobre trote na UnB

Secretaria de Políticas para Mulheres pede explicações sobre trote na UnB

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:58

O trote sofrido por calouros da Faculdade de Agronomia e Veterinária da Universidade de Brasília (UnB) levou a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República a encaminhar um pedido de esclarecimentos à reitoria da universidade. Dependendo da resposta da universidade, a representação poderá ser encaminhada também ao Ministério Público Federal e ao Ministério da Educação. O documento traz fotos de alunas lambendo linguiça com leite condensado durante a brincadeira realizada no último dia 11. Segundo a assessoria da Secretaria, a denúncia foi feita por uma aluna que teria sofrido o trote.

Para a secretária Nacional de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres, Aparecida Gonçalves, o trote incita o preconceito contra a mulher. "Recebemos uma foto de uma menina ajoelhada lambendo o salsichão com leite condensado em cima, dando a entender que era um sexo oral. Não é um trote e educativo e leva à questão da violência, da submissão da mulher, da subordinação. É um trote que efetivamente não ajuda a construir uma nova relação entre homens e mulheres", afirmou.

Aparecida Gonçalves disse esperar que a UnB estabeleça regras para a prática do trote que inibam atos de agressão e humilhação. "Estamos aguardando a resposta. Espero que seja apurado, que a universidade tenha uma postura de discutir com seus alunos e apurar. A reitoria pode dizer o que não deve ser feito no trote, para evitar discriminação e violência. Pode determinar normas e regras do que é aceitável nos trotes", disse.

Reitor diz que situação não é tolerável

O reitor da UnB José Geraldo de Sousa Junior declarou, em despacho, que "as fotos traduzem atos de violência e discriminação contra as mulheres. Elas mostram a diminuição da dignidade e violam a ética da convivência comunitária".

Sousa Junior disse ao G1 que vai propor uma reorganização de conduta dos supostos estudantes envolvidos, pois a situação não é algo que se tolere. "No limite estes alunos podem ser expulsos. Espero que isso não aconteça porque a função da universidade é incluir, não excluir." Segundo o reitor, a intenção é de que os "trotes sujos" - que reduzem a dignidade humana e usam violência - sejam susbtituídos pelo trote cidadão.

"Estes são configurados por plantios de árvores, doação de sangue e medula e recolhimento de roupas e alimentos para doações. Estas ações já são predominantes na UnB. A mobilização é para que esta seja uma prática generalizada e haja uma mudança no eixo de acolhimento [dos calouros]", afirmou Sousa Junior.

O trote envolveu alunos que entraram na faculdade no meio do ano passado. Em entrevista ao G1, o diretor da FAV, Cícero Lopes da Silva, disse que em setembro a direção da faculdade reuniu os estudantes para pedir a não realização dos trotes e alertar os calouros a não participarem de brincadeiras a contragosto.

Em julho de 2010, os alunos do curso de agronomia já tinha se envolvido em trotes polêmicos, como andar em fila de "elefantinho", rodar com a cabeça apoiada em um cabo de vassoura e procurar sabonetes em uma poça de lama e lixo. "A gente faz essas ações, mas fica no nível oficial, de reitoria e diretoria. Na prática, com os estudantes, as coisas fogem ao nosso controle", dise Lopes. "O problema é que isso vira uma bola de neve. Os alunos que receberam este trote logo vão dar o trote em quem entrar em março."

Caio Batista, presidente do Centro Acadêmico de Agronomia, disse ter ficado surpreso com a repercussão do caso e desconhece quem pode ter feito denúncia. "Querem criar uma situação de fora para dentro. Este negócio com a linguiça é antigo, todo mundo conhece e ninguém é obrigado a participar", afirma, alertando que o Centro Acadêmico não é responsável pela organização do trote. "Já tivemos alunos que não puderam participar do trote em semestres anteriores e vieram aqui participar." Segundo ele, dos 80 calouros, apenas metade participou da brincadeira.

Por: Paulo Guilherme

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