Veteranos "apadrinham" calouros e negam trote na medicina da USP

Veteranos "apadrinham" calouros e negam trote na medicina da USP

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:56

Diferente dos cursos das unidades da Cidade Universitária e da Faculdade de Direito, no Largo São Francisco, os calouros da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), que fizeram matrícula nesta segunda-feira (14), não foram pintados, nem tiveram cabelos cortados. A palavra trote foi praticamente abolida pelos veteranos.

A mudança ocorreu desde que um calouro de medicina morreu afogado na piscina devido a um trote, em 1999.

O primeiro contato dos recém-chegados com a faculdade ocorreu com uma recepção amistosa e tranquila. Os calouros foram abordados e "apadrinhados" pelos mais velhos de casa durante a fila para as matrículas. O papel dos "padrinhos" e "madrinhas", geralmente alunos do 2º ano do curso, é orientar, apresentar os espaços da faculdade, além de dar dicas e conselhos aos "bixos." Vale até emprestar livros e dar carona.

Os novos alunos e os pais foram convidados a participar de um almoço de boas-vindas oferecido pela Atlética nesta segunda. Antes, puderam participar de uma espécie de exposição, onde os alunos apresentaram os projetos de extensão da universidades em estandes.

"É uma nova política para receber os novos alunos. A ideia também é acalmar os pais e orientá-los que não existe trote", disse Thaís Pereda, de 20 anos, aluna dao 2º ano de medicina e "madrinha" de Diogo Lima de Carvalho, de 20 anos.

Carvalho passou no vestibular para o curso de medicina da USP depois de três anos de cursinho. Neste ano também foi aprovado pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). "A sensação de estar aqui para me matricular é inexplicável. Todo o esforço valeu a pena", afirmou Carvalho.

'Flutuando'

Rafael Nascimento Vilares, de 19 anos, também já foi "apadrinhado" por Lucas Naufal, de 20 anos. Acompanhado pelo pai, o consultor Nelson da Silva Vilares, de 49 anos, Rafael disse que estava "flutuando" de tão feliz. "Foram dois anos de cursinho. No ano passado, abdiquei de tudo para estudar. Agora faz 15 dias que estou comemorando", afirmou.

O pai que o acompanhou na maratona de provas levando e buscando, não escondeu a satisfação. "Estou muito orgulhoso. Vi o esforço dele e agora veio a recompensa."

Acompanhada pela mãe, Lívia Dau Videira, de 20 anos, afirmou, na fila para a matrícula, que ainda não havia "caído a ficha" que tinha conseguido uma vaga na medicina da USP. Foi o terceiro ano consecutivo que prestou vestibular. A mãe, a jornalista Rosana Dau Videira, de 47 anos, comemorou o sucesso da estudante. "Foi uma luta, um estresse grande. Agora é um alívio, acho que não vou sentir isso nem quando ela se formar."

Lívia disse que já havia sido avisada pelos veteranos de que a faculdade aboliu o trote, por isso não tinha do que se preocupar.

O veterano Vinicius de Caravalho Diniz, de 23 anos, disse que é tradição na faculdade que os alunos do 2º ano de medicina recebam os calouros. Neste período eles até são dispensados das aulas. "Fomos bem tratados quando chegamos e temos de repassar isso. É bom receber os novos alunos porque o começo a gente sempre fica perdido. E nada de trote", afirmou Diniz.

Por Vanessa Fajardo

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