Depois um complicada negociação, Alan Kardec foi apresentado nesta terça-feira pela manhã, no CT da Barra Funda, como reforço do São Paulo. O atacante vestiu a camisa 14, número que o acompanha há anos, com uma mistura de sentimentos. Primeiro, agradeceu ao Palmeiras. Depois, mostrou certa mágoa do presidente Paulo Nobre, que disse que o Verdão o tirou do ostracismo quando não seria aproveitado no Benfica. Agora, parte em busca de uma vaga no concorrido ataque do Tricolor.
– O Palmeiras vai muito além de quem está trabalhando lá. Toda a história diz. Quem está cuidando do Palmeiras poderia ter uma atenção muito maior na hora de rolar o negócio. Falaram que eu estava no ostracismo... Eu não tive a chance de vir só para o Palmeiras, mas a camisa do Palmeiras representa muito. Saí campeão paulista do Santos. Cada um fala o que quer. Ostracismo não é a palavra. Não estava na reserva (do Benfica) porque queria, é porque outros faziam gols. Eu me senti bastante ofendido com isso, mas nem por isso vou rebater as críticas. Tenho foco do meu trabalho - disse.
Kardec desembarca como a primeira contratação da gestão do presidente Carlos Miguel Aidar. Assim que assumiu, o mandatário disse que uma grande contratação estava próxima do Morumbi, mas tentou manter a transação em sigilo. O Tricolor desembolsou € 4,5 milhões (R$ 14 milhões) para comprar os direitos dele do Benfica. O jogador receberá R$ 300 mil mensais, com aumentos programados com o passar dos anos de contrato.
– É desnecessário apresentar, todos conhecem o Kardec. É um excepcional atleta profissional, competente, respeitado, educado, uma figura que vai engrandecer o São Paulo. Espero que ele tenha aqui uma alegria permanente e que a passagem pelo clube dure muitos anos – disse Aidar.
O atacante, artilheiro do último Campeonato Paulista, esteve bem próximo de permanecer no Palmeiras. O Verdão chegou a acertar a compra dos direitos, mas esbarrou em uma briga sobre os salários. Uma diferença de apenas R$ 5 mil entre o que o jogador queria e o clube oferecia irritou o pai do atleta. Sem acordo, ele decidiu abrir negociações com o Tricolor - o Corinthians também o procurou, porém, as conversas não avançaram.
– Eu não queria falar por ser antiético, mas são duas verdades. Cada um tem seu interesse. Quando meu pai se sentiu que estava sendo "agredido", ele começou a rebater. Ele nunca quis colocar a instituição abaixo. Ele só tentou defender os meus interesses. Se ele não falasse, seria eu. Talvez, não foi como as pessoas esperavam, mas uma proposta do São Paulo valoriza seu trabalho, é o reconhecimento. Fiquei muito feliz. O elenco (do Tricolor) tem condições de lutar por grandes títulos. Ter jogadores respeitados assim dá muito valor.
Por enquanto, o jogador só atuará pelo São Paulo após a Copa do Mundo, já que a janela de transferências internacionais está fechada. A diretoria do Tricolor, porém, acionou a Fifa para tentar uma manobra. O clube alega que o jogador vinha atuando no Brasil e, por isso, trata-se de uma negociação nacional.
Confira a entrevista coletiva de Alan Kardec:
Chegada ao novo clube
– Estou muito feliz e grato com essa oportunidade. Farei sempre meu trabalho com humildade e fazendo o melhor pelo grupo. Isso se tornou uma novela. É algo que não explico em dois minutos. Aconteceu algo grande, mas ficou no passado, tenho de olhar para frente e reconhecer tudo aquilo que me proporcionaram. Fico muito feliz pela oportunidade que tive no Palmeiras, junto dos torcedores, mas ficou para trás. Estou muito feliz nessa nova casa.
Escolha pelo São Paulo
– Escolhi pela conversa, pela seriedade, pelo elenco. A negociação desgastou ambas as partes. Tenho grandes amigos no Palmeiras, que eu converso, mas que quando entrarmos em campo buscarei fazer o meu melhor. Escolhi pela estrutura, pela seriedade, condição de títulos...
Posicionamento em campo
– Fico feliz de trabalhar com o Muricy de novo, trabalhamos e fomos vitoriosos no Santos. Joguei em várias posições com ele. Joguei pelos lados, no meio, como centroavante e espero jogar assim aqui também. Não tenho preferência, estou chegando para ajudar. Pode ser entrando depois, jogando o jogo todo, tem de ter o respeito, mas vou trabalhar pelo meu espaço.
Reencontro com amigos
– Reencontro grandes companheiros aqui. O Souza é como um irmão para mim, fomos criados juntos, nunca perdemos o contato. Fico muito feliz de atuar com eles, passamos juntos na sub-20. Mas temos grandes atletas de várias gerações da Seleção e fico muito feliz.
Dicas de Souza
– Ele passou boas referências, sobre a estrutura, as pessoas... Isso é natural. Conversava com ele quando estava no Grêmio. É o processo natural, temos uma amizade de irmão, eles sempre me passou isso e achei muito interessante.
Estar entre os 30 de Felipão
– Gera ansiedade e expectativa, mas tudo tem de ser controlado, tem de ter os pés no chão. São 23 escolhidos e mais sete na reserva. É natural que eu tivesse essa expectativa, mas nada fora do comum.
Contratos de produtividade no Palmeiras
– Talvez seja uma ideia muito válida para o futuro. Isso vai da filosofia e da parte financeira de cada um. Muito se fala que a parte financeira do Palmeiras está afetada. A camisa dos grandes clubes representa muito. Isso em momento algum foi empecilho. Concordamos muitas vezes com o que foi proposto, mas voltaram atrás. Mas temos de pensar pra frente. Já faz parte do passado, estou muito feliz de estar no São Paulo.
Problemas na renovação com o ex-clube
– No fim da história, infelizmente, alguém tem de ser o culpado. Não foi só uma oferta que voltaram atrás, foi mais de uma. E no fim das contas uma pessoa que não pode pagar "x" a mais, depois diz que pode cobrir tudo. Isso não tem lógica. Eu poderia ter sido mercenário de aceitar quando o Palmeiras disse que cobriria tudo. A palavra vale mais que um papel assinado. Não teria volta. Dá o aperto (no coração) pela torcida e pelo clube, que é gerido por pessoas. Em várias vezes tivemos a chance de fechar, meu pai disse que estava fechado. Foi aí que deram para trás. E vieram com valor mais baixo. Mas não falamos com o São Paulo durante as negociações. Outros times ofereceram muito mais. E o São Paulo só entrou no negócio quando meu pai disse que ouviria outras equipes.
Gastrite durante conversas
– Não pelo São Paulo entrar (na disputa), mas, quando eu chegava em casa, deitava e esperava que algo desse certo, eu me sentia mal. Minha esposa perguntava se eu não comeria, eu dizia que não conseguia, iria vomitar. Eu perdi quatro quilos, pra um jogador como eu que perde peso muito rápido atrapalha muito. Fazia trabalhos específicos no Palmeiras. Eu não conseguia comer, tinha um peso mais baixo já. O médico falou comigo da parte emocional. Mas estou abaixo do meu peso ainda e faço um trabalho especial para voltar.
Comemorar gols sobre o Palmeiras
– Com certeza, depende da circunstâncias da partida. Hoje, sou do São Paulo e tenho de respeitar o torcedor. Contra o Santos, eu comemorei. Se for gol de vitória, não tem motivos para não comemorar. Eu sempre respeitei o torcedor do Palmeiras. Depende do momento da partida. Contra o Santos estávamos perdendo e não tinha porque comemorar.
Valor pago pelo São Paulo
– É complicado dizer. Tudo aconteceu pelo que estou fazendo. Se eu não estivesse fazendo (gols), isso não estaria acontecendo. Fico feliz por ter passado bons momentos onde joguei e quero fazer melhor ainda. Se estou valendo não sei, mas sei que tenho de justificar isso em campo.
Ataque com Ganso, Pato e Luis Fabiano
– Tenho de buscar nos treinos a chance de jogarmos juntos. Tenho de me entrosar. A qualidade técnica é indiscutível, todos com nível de Seleção, fico feliz de atuar com eles.
Disputa com Fabuloso pela artilharia
– É complicado (risos). É um jogador fantástico, que faz muitos gols. Não sei dizer se farei mais. Se terminar igual fica bom para mim, para ele e para o São Paulo. Quanto mais gols, mais engrandece o São Paulo.
Jogar com Rogério Ceni?
– Fico muito feliz de jogar com o Rogério. Para qualquer jogador é significante, já joguei com Romário, Edmundo...Vou aprender a cada dia e vou fazer de tudo para buscar um título e coroar essa possível última temporada. Se for para ser assim, quem sabe não é com título?
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