Neymar reapareceu em Teresópolis para estar com o grupo na reta final da Copa do Mundo. Pouco depois de chegar à Granja Comary, o atacante apareceu para dar entrevista coletiva. Com 45 minutos de atraso em relação ao horário divulgado pela CBF, entrou cabisbaixo na sala de imprensa. De boné e vestido com a sua camisa 10 autografada pelos companheiros, ele se considerou parte do vexame. E chorou ao falar da fratura sofrida na terceira vértebra lombar quase no fim da partida contra a Colômbia, depois de joelhada de Zúñiga, nas quartas de final.
- Foi um lance que não concordo, não aceito. Não vou falar que foi desleal, que ele veio na maldade, que fez isso ou aquilo porque não estou na cabeça dele. Todos que entendem de futebol sabem que não é uma entrada normal. Quando você quer fazer uma falta para quebrar o contra-ataque, segura, empurra. Da forma como ele veio e como a bola vinha, foi uma entrada que não é de jogo. Quando estou de frente e tenho a visão periférica, consigo me defender. De costas, eu não consigo. A única coisa que pode me defender de costas é a regra. Foi um lance que eu não tinha como me proteger, e acabei me machucando.
Neymar buscou fôlego e continuou a responder sobre o lance que o tirou precocemente da Copa do Mundo. Mas não aguentou e chorou.
- Deus me abençoou naquele lance. Se fossem dois centímetros para dentro, eu hoje poderia estar numa cadeira de rodas. Complicado você falar. Num momento tão importante na minha carreira, isso faz parte. Aconteceu e vida que segue – acrescentou o jogador, que precisa de 40 a 45 dias para se recuperar.
Muito embora esteja chateado com o lance que o tirou da Copa do Mundo, Neymar diz que não guarda rancor do colombiano Zúñiga.
- Desculparia, sim. Não tenho rancor, ódio. Ele até me ligou, no dia seguinte, falando que não queria me machucar, que sentia muito. Desejo que Deus o abençoe e que ele tenha sucesso na carreira dele – resumiu o camisa 10 da seleção brasileira.
Sobre o vexame histórico de ter perdido de 7 a 1 para a Alemanha, Neymar se colocou como parte do grupo na responsabilidade.
- Não tenho vergonha nenhuma de falar que fiz parte dessa equipe que levou de 7 a 1 – resumiu o atacante da seleção brasileira.
Neymar viaja com a delegação da seleção brasileira para Brasília nesta sexta-feira. A partida contra a Holanda, na disputa pelo terceiro lugar da Copa do Mundo, será no sábado, às 17h, no estádio Mané Garrincha.
Confira os trechos da entrevista de Neymar:
Reencontro
- Estou muito feliz por ter voltado a reencontrar os companheiros. Claro que numa situação ruim. Só de eu ter a oportunidade de estar andando, revendo meus companheiros. Começamos juntos e vamos terminar juntos. Independentemente do que aconteceu, se não conseguimos o título, estamos fechados, unidos e vamos terminar juntos, honestamente, no sábado. O que espero daqui pra frente é que a gente seja alegre como sempre. Não é por causa de uma derrota histórica que temos de baixar a cabeça. Faz parte do futebol. Eu sou um cara que não gosta de perder de jeito nenhum. Ainda mais no esporte que amo. Vai doer por muito tempo, mas vai passar e dias melhores virão. Vamos fazer de tudo para que a gente possa devolver a alegria aos nossos rostos, da família e do povo brasileiro. O semblante é de tristeza, chato. O que mais me deixou feliz na volta pra cá é que tiveram pessoas aplaudindo, gritando o nome dos jogadores, depois de uma derrota feia. Agradeço a todos os torcedores que nos apoiaram. Assumimos a responsabilidade de ter perdido. Vida que segue. Dias melhores virão. Que a gente volte a ser feliz o mais rápido.
Vexame
- Foi uma coisa inacreditável, inexplicável. Não consigo explicar. Foi um apagão que teve na nossa equipe. Ficou difícil de reverter. Não existe o “se”. É muito fácil falar depois que as coisas acontecem. Já passei por isso e sei como é conviver com um apagão dentro de campo. Você não consegue fazer nada. Tem que torcer logo para que acenda a luz rápido. Não vim aqui para explicar o que aconteceu na partida. Perguntei e eles não têm como explicar. Se eles não conseguem, quem sou eu para explicar. Tem que lamentar a derrota, ficar triste. Todos os jogadores buscaram isso. E todos são merecedores de estar aqui. Se parar para fazer a convocação novamente 90, 95% vão ser os mesmos jogadores. Não é por causa da perda de um título que os jogadores são ruins. Não tem o que falar. Aconteceu. Faz parte do futebol. Estamos dispostos a tudo dentro de campo. Infelizmente aconteceu com a gente. Não queríamos passar por isso. Principalmente pelas nossas famílias, que acabam sofrendo mais do que a gente. A gente é forte o suficiente para aguentar tudo isso.
Copa do Mundo 2018
- Eu queria acordar e estar em campo com os meus companheiros. Não tem como pensar daqui a quatro anos. Fizemos de tudo para conseguir. Tivemos a oportunidade de marcar o nosso nome na história de forma positiva. E falhamos, deixamos a desejar. Não fizemos uma campanha boa. Demonstramos um futebol regular, por isso que chegamos na semifinal. Não mostramos futebol de seleção brasileira, que encanta a todos. Agora é encarar o jogo de sábado como se fosse final e terminar a Copa do Mundo sorrindo, com uma vitória. Não vai confortar tanto. Não vai assimilar tanto a dor, mas é importante.
Em casa
- Foram as piores semanas que tive na minha vida. Se tivesse que imaginar algo ruim, não seria isso. Vai ficar um aprendizado. A gente pergunta o porquê de tudo isso.
Futuro
- Eu quero o algo a mais. Se eu treino hoje bem, amanhã quero treinar melhor ainda. Vou ter que treinar mais, me dedicar mais. Fazer tudo a mais para daqui a quatro anos estar numa Copa do Mundo novamente. Fomos fracassados, sim. Perdemos. Mas foi o que falei, faz parte do futebol. Não queríamos perder dessa forma. Pelo menos eles correram, mesmo perdendo de 7. Não avacalharam. Correram como homens. E isso é que sinto orgulho de todos eles. São pessoas que passo a admirar ainda mais.
Lição
- Vou tirar de lição tudo. O momento de concentração, de treino. Tenho que treinar mais, tenho que fazer tudo mais. Uma Copa é nivelada. Alcançar o título tem que ter algo mais. O que eu vou levar como ser humano, tirando o atleta, é que o convívio, quando se tem mais de duas pessoas é sempre difícil. Alguns raciocínios não batem, algumas atitudes não batem. Aprendi muita coisa. São 23 jogadores, mais a comissão técnica, que estão se dando muito bem. Começamos isso juntos, foi uma história que construímos. Ao longo desse tempo, nós trouxemos a alegria e resgatamos muita coisa. Tive momentos na Seleção em que fui vaiado, que fui pressionado e hoje nós só temos o carinho que o torcedor tem por nós. Não é por causa de uma goleada, de uma derrota, que a história vai acabar. Ficarmos marcados por isso seria uma injustiça como aconteceu como o pessoal de 1950, o Barbosa. Temos que dar a volta por cima. Temos que voltar a sorrir. Não adianta ficar chorando, de cara feia. Já sofremos, choramos o que tinha que chorar. Para nós, para o nosso torcedor, para a nossa família. Esse apoio foi importante, nos dá força para terminarmos essa caminhada.
Assistir ao jogo pela TV
- É ruim. Não gosto de torcer, de ficar de fora da partida. Por isso não procuro ver jogos. Como eram os meus companheiros, eu assisti como todos os brasileiros. Você não pode fazer nada. Só tem que torcer.
Barcelona x Santos = Brasil x Alemanha
- É uma coisa diferente daquele jogo entre Santos e Barcelona. Foram duas goleadas, mas bem diferentes. Essa não tem explicação. Aconteceu com o Brasil, e não tem explicação. Tomar seis gols em quatro minutos não tem como explicar. Não vim aqui para explicar porque eu não tenho palavras para te dizer.
Disputar a final
- Você sabe que eu não teria chance de jogar a final. O Runco já tinha falado. Por isso eu fui para a minha casa. Para mim e para os meus companheiros seria pior eu ficar aqui. Eu não iria conseguir, não teria força para incentivá-los e nem para ser incentivado. Falar com o seu companheiro, vamos lá. Eu não ia conseguir. Queria jogar. Só de vê-los treinando me deu uma saudade. Imagina se eu tivesse ficado.
Wagner Ribeiro
Quanto à questão do Wagner (Ribeiro, empresário). Existem duas pessoas que falam sobre o que eu faço. Sou eu e o meu pai. O que sai da boca do Wagner é a explicação dele. Ele precisa saber o que fala. Com essa atitude dele, eu não concordo, não aceito. Se encontra com ele eu vou xingá-lo. Não aceito mesmo. Ele que precisa responder pelos atos dele. Quem trata das minhas coisas é o meu pai.
Troca de comando
- Nós brasileiros, principalmente a imprensa, têm uma mania errada de quando se perde tem que mudar. Quando perde tem que mudar o jogador, treinador. E o futebol não é assim. Sempre convivi com isso. Perdeu, esse treinador tem que sair. Aprendemos na derrota também. Não estou falando que não tem de mudar. Não estou falando isso. Estou falando da mania do brasileiro de que quando se perde tem que mudar. Quando se perde é preciso corrigir. É mais importante do que pensar em mudar algo.
Brasileiro torcendo pela Argentina
- Claro que se parar para pensar um brasileiro torcendo pra a Argentina. Galera, eu não estou torcendo pela Argentina, mas por uma pessoa que eu passei a admirar ainda mais por estar ao lado dele todos os dias. É um jogador que eu admirava de longe. Passei a admirar como pessoa. A Minha torcida é pelo Messi. Eu disse que queria a Argentina na final porque o Brasil chegaria à final. Desejo toda a sorte do mundo para ele e para o Mascherano, que são os meus companheiros no Barcelona.
Futuro
- O que eu peço é ser feliz novamente e voltar a jogar. Voltar a dar alegrias ao povo. Voltar a dar alegria aos meus torcedores, às crianças. O meu sonho não acabou, continua. O meu sonho sempre foi encantar todos com o meu futebol. Por isso sempre joguei sorrindo, sempre fiz tudo sorrindo, sempre fui para a coletiva sorrindo. Não é por causa de uma derrota, de uma perda na Copa que o meu sorriso vai embora. Meu sorriso pode se fechar por um dia, por alguns minutos, mas um dia eu volto a sorrir.
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