O que São Paulo e Rio de Janeiro têm de melhor? O charme, a economia, as praias, os shoppings, a natureza, a arquitetura, as mulheres, o carnaval, o Corinthians e o Botafogo. Sim, o Timão é o melhor paulista. O Fogão é o melhor carioca. Ambos receberam as faixas de campeões estaduais antes de estrearem no Campeonato Brasileiro. Uma comemoração em data e hora perfeitas, sábado à noite, mas vestidos para trabalharem novamente no Pacaembu. E entre a malemolência carioca com tempero holandês, e a seriedade paulista, o empate de 1 a 1 foi justíssimo.
Clarence Seedorf, nascido no Suriname, naturalizado holandês, e já no coração de parte da Cidade Maravilhosa, foi fundamental. Não só pela assistência. Ele imprimiu seu ritmo ao jogo. Inteligente no posicionamento, nos passes, sábio ao escolher a hora de driblar, fez a equipe jogar. E ainda teve o valioso auxílio do artilheiro Rafael Marques, em outra grande atuação.
- No segundo tempo o Corinthians foi melhor, e no primeiro tempo fomos melhores. Podíamos ter feito mais um gol, mas o resultado no final foi justo. Claro, olhando o primeiro tempo, se tivéssemos chutado melhor certas oportunidades... Mas foi uma demonstração de um grupo que quer e que pode - afirmou Seedorf.
O holandês foi um penetra indesejado na festa de aniversário dos 52 anos de Tite, gaúcho que também já conquistou a terra da garoa, e que tem sempre em Paulinho o seu convidado de honra. De poucos sorrisos, mas invejável eficiência, o volante consegue achar os atalhos para chegar ao gol. Dessa vez foi de cabeça.
- Numa bola parada conseguimos empatar. É claro que o objetivo é conquistar os três pontos, principalmente em casa, mas erramos muito, em especial na primeira etapa, e depois precisamos correr atrás - afirmou Paulinho, que negou estar de saída. - Não, muito pelo contrário.
O público foi de 29.295 pagantes e a renda, de R$ 940.359,00. As duas equipes voltam a campo pelo Brasileirão na próxima quarta-feira, com mando invertido. O Botafogo vai receber o Santos em Volta Redonda, às 19h30m. Já o Timão terá de viajar para enfrentar o Goiás, às 22h, no Serra Dourada.
Seedorf: um chute bizarro, um passe magistral
O frio muito mais habitual aos paulistas gelou o início de jogo. O Botafogo parecia no ritmo de Zeca Pagodinho, cadenciado, suave, enquanto o Corinthians, aos poucos, entrou num hip hop local: intenso, acuou o visitante em seu campo de defesa e trocou passes, algo que parecia impossível ao time comandado por Seedorf, em campo, e Oswaldo de Oliveira, do banco. O holandês, aliás, deu um chute bizarro, quase no Tobogã do Pacaembu. Uma malandragem tipicamente carioca de quem fez toda torcida imaginar que ele não estava naqueles dias. Mal sabiam o que estava por vir...
Edenilson, Ralf e Romarinho arriscaram, mas Jefferson, com uma segurança de se fazer inveja às duas capitais, parecia defender chutes de crianças. Abusado, Fábio Santos tentava invadir a praia do rival, mas deixou uma Linha Amarela, ou uma Avenida Paulista, às costas. Por ali, Seedorf, aquele do chute bizarro, colocou a bola com maestria na área, e Rafael Marques teve habilidade de sobra para completar o cruzamento: 1 a 0.
O Timão parecia descompassado, como um paulistano de terno que se solta nos sambas da Lapa. Errava passes fáceis, reposições do goleiro, e até cobranças de faltas ensaiadas. A boa chance veio dos pés do uruguaio Lodeiro. O botafoguense, meio perdido entre as capitais brasileiras, deu um presente para Emerson, que arrancou e bateu bem. Jefferson foi melhor ainda. Das envolventes triangulações entre Seedorf, Rafael Marques, Lodeiro e Lucas, poderiam ter saído mais dois gols. A vitória por 1 a 0 foi de bom tamanho para os dois times.
Paulinho: animador e salvador
Douglas e Alexandre Pato nos lugares de Danilo e Guerrero. O campeão paulista lembra as grandes empresas da cidade: organizada, séria, cheia de bons executivos para girarem os negócios do Timão. Mas, dessa vez, não giraram. Mudaram as peças, não o ritmo do time. E por falar em ritmo... Seedorf criou o seu próprio no segundo tempo. Encostado no lado esquerdo, pertinho de Oswaldo de Oliveira. Pretendido para ser técnico do Milan, ele formou quase uma comissão técnica. Foram três passes geniais. O primeiro, após linda jogada de Rafael Marques, para Lucas. Os outros dois para o centroavante. Nenhum resultou em gol. Cássio defendeu uma, outra foi para fora, e a zaga do Timão salvou na terceira.
Mas do outro lado havia um jogador de Seleção. Um chute do capitão Paulinho, que se apresenta a Felipão na terça-feira e é alvo frequente do futebol europeu, deixou a torcida animada novamente. Mesmo desconfiadas, as arquibancadas voltaram a gritar.
Vitinho, talvez inspirado no futevôlei, foi meio de ombro na bola. Bateu em seu braço. Lance bobo, na intermediária, que resultou na cobrança de Douglas e cabeçada de Paulinho. Quantos cariocas já não sofreram com a cabeça de Paulinho... A bola desviou em Marcelo Mattos e foi no ângulo. Sem chance para Jefferson, companheiro de seleção brasileira. Negócios à parte, como bem sabem os paulistanos. Empate justo e bom para mostrar aos 29.295 pagantes dos primeiros embalos de sábado à noite deste Brasileirão que São Paulo e Rio de Janeiro têm seus encantos e estão bem representados.