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A greve de funcionários da fabricante de cigarros turca, símbolo da luta contra as privatizações

A greve de funcionários da fabricante de cigarros turca, símbolo da luta contra as privatizações

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:27

O acampamento improvisado dos operários da Tekel, antigo monopólio turco do tabaco, criou raízes nas ruas geladas do centro de Ancara. Sardinhas e castanhas grelhando sobre as churrasqueiras, e caixas de garrafas de raki circulam nas alamedas lotadas.

Envolvidos em cobertas, quase 2 mil trabalhadores, demitidos ou ameaçados de demissão em razão da privatização de sua empresa, fazem greve há 50 dias, instalados diante da sede da central sindical Türk-Is. Sentados em torno de fogareiros, sob lonas plásticas, os “Tekel” estão bem decididos a não arredar pé de seu acampamento, enquanto não for feito um acordo com o governo.

Cerca de 12 mil funcionários são diretamente afetados pela dissolução do grupo, vendido em 2008 à gigante British American Tobacco (BAT) por 1,72 bilhão de euros (cerca de R$ 4,4 bilhões) . Para compensar a perda de seus empregos, após o fechamento de uma centena de unidades por todo o país, o Estado propôs aos empregados postos temporários na administração.

"O governo está tentando fazer com que trabalhemos em condições indignas", protesta Mustafa Türkel, presidente do sindicato Tek Gida-Is. "Os operários perderiam seu status de funcionário público, sem nenhuma segurança de emprego. Nós somos contra as privatizações da forma como estão sendo conduzidas por esse governo".

Esse conflito social, que começou em dezembro de 2009, constrange ao extremo o primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, cuja política econômica é contestada pelos funcionários públicos e pelas classes populares.

Ignorados durante mais de um mês pelo governo, os grevistas voltaram a esperar por um resultado positivo. Mas, após diversos encontros, as negociações entre os sindicatos e o governo permaneceram em um impasse, na terça-feira (2). "É uma luta por nossa honra. Continuaremos a brigar de todas as formas", diz Binali Ildan, um ex-operário da usina de Istambul.

Há 50 dias os "Tekel" vêm expandindo as manifestações nas ruas da capital, às vezes reprimidas de forma brutal pela polícia, e durante vários dias chegaram a fazer uma greve de fome que levou três deles ao hospital. "Nós estamos sendo muito afetados pela desumanidade do governo", queixa-se um deles, Ibrahim Kiraç. “Estamos sob a pressão do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do capitalismo internacional”.

Uma empresa rentável

Inflexível, Recep Tayyip Erdogan denunciou, na terça-feira, "uma campanha ideológica contra o governo" e uma "instrumentalização" dos trabalhadores. Em Ancara, entretanto, inúmeros passantes continuavam a dar apoio ao movimento. "Sem o apoio dos cidadãos, não teríamos conseguido aguentar todo esse tempo", confessa um operário.

Mas se o governo mantiver sua posição, o conflito pode se radicalizar. Os "Tekel" planejavam recomeçar sua greve de fome na quarta-feira. As seis principais centrais sindicais que representam funcionários públicos e empregados do setor privado convocaram uma jornada de greve para quinta-feira. Uma grande manifestação está prevista para Ancara.

Desde 2002, centenas de empresas públicas foram privatizadas pelo partido islâmico conservador que está no poder. A loteria nacional, as centrais elétricas ou as usinas de açúcar estão entre as próximas da lista. O plano foi supervisionado pelo FMI, com o qual a Turquia negocia um acordo há mais de um ano. De todas essas empresas, a Tekel era uma das mais rentáveis.

Nascida em 1925 da nacionalização da Régie Intéressée des Tabacs de l’Empire Ottoman, uma empresa francesa, ela já havia cedido seu setor de bebidas alcoólicas em 2003. O partido de Erdogan, reeleito em 2007 por seus bons resultados econômicos, é acusado pela oposição de conduzir uma política ultraliberal e há meses vem enfrentando uma série de movimentos sociais nos serviços públicos.

Traduzido por Lana Lim

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