The New York Times
Hector Jairo Saldarriaga mudou de endereço três vezes antes de seu assassino finalmente encontrá-lo em frente a um café no Barrio Norte, em Buenos Aires.
Ao investigar sua morte, a polícia descobriu que ele tinha três passaportes argentinos com nomes falsos e que na verdade era um colombiano que havia trabalhado como assassino para um traficante de drogas proeminente em seu país de origem.
À medida que o tráfico de drogas ilícitas aumenta na Argentina, os moradores estão se acostumando cada vez mais com notícias que chegam às primeiras páginas dos jornais relacionadas a batidas antidrogas, tiroteios e a sombria realidade de um país que já não é simplesmente um local de trânsito para os traficantes mais procurados do mundo vindos de lugares como o México e a Colômbia. Para muitos desses bandidos, a Argentina tornou-se um refúgio confortável, onde podem se esconder e ao mesmo tempo continuar exercendo sua função à distância.
Saldarriaga, 39 anos, que estava residindo em uma área modesta de Buenos Aires, foi um dos assassinos mais temidos que já trabalharam para Daniel Barrera Barrera, um traficante colombiano apelidado de “O Louco”, disseram as autoridades locais.
Ex-combatente das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Saldarriaga coordenou o assassinato de dois antigos membros das Forças Unidas de Autodefesa da Colômbia - um grupo paramilitar de direita que atua como segurança para os traficantes - no estacionamento de um shopping de Buenos Aires em junho de 2008, disseram as autoridades argentinas.
Supostamente, Saldarriaga traiu seu chefe roubando ou perdendo meia tonelada de cocaína. Outra teoria é a de que Saldarriaga havia tentado se solidificar como traficante sem responder a ninguém em uma área da Argentina controlada pela quadrilha mexicana de Sinaloa e foi punido por invasão de território.
Outros casos
Saldarriaga não é o único estrangeiro envolvido no tráfico de drogas que chegou às manchetes dos jornais argentinos recentemente. Dias antes de sua morte, Ruth Martinez Rodriguez, uma colombiana ex-mulher de Barrera, foi presa em uma luxuosa casa suburbana nos arredores de Buenos Aires, acusada de administrar uma empresa que tentou exportar 280 quilos de cocaína para os Estados Unidos, Europa e Ásia escondida dentro de móveis antigos.
Autoridades disseram que Martinez lavava dinheiro através de um condomínio fechado chamado Nordelta, que continha um campo de golfe particular e uma empresa de móveis. Ela foi condenada a cumprir prisão domiciliar por estar grávida.
Nas últimas semanas, autoridades encontraram sete toneladas de maconha em uma casa em Posadas, do outro lado do Rio Paraná, e prenderam um cabo da polícia argentina por ter transportado 110 quilos de cocaína em seu carro. Além disso, apreenderam uma ambulância do governo com sua sirene ligada e um paciente no banco de trás carregando 25 quilos de cocaína.
\"O tráfico de drogas reage à lógica da globalização. Ele não reconhece fronteiras\", disse a ministra da Segurança argentina, Nilda Garre.
\"O crescimento e a taxa de consumo interno que vêm ocorrendo na Argentina desde 2003 podem estar atraindo dinheiro de origem ilícita\", disse Garre em comunicado. \"A situação está sendo cuidadosamente monitorada pelas autoridades do Ministério da Justiça. No entanto, devo enfatizar que a Argentina, um país de 40 milhões, é um mercado de interesse marginal para a intenção dos traficantes de atingir zonas de consumo de massa como os EUA e a Europa.\"
Economia fraca
Mas a desaceleração na economia do país fez com que o dinheiro rápido do tráfico de drogas se tornasse mais atraente para alguns. Algumas das drogas nas ruas são importadas, porém a maioria delas são locais e são feitas com produtos sintéticos compostos de farmacêuticos baratos e pirateados amplamente disponíveis dentro do país.
Oficiais do governo e dos serviços públicos do país, no entanto, quase não se envolvem na questão. As quadrilhas de drogas estão fornecendo serviços para áreas marginalizadas em troca de silêncio, disse Edgardo Buscaglia, professor de direito no México e ex-oficial da ONU que completou uma missão de pesquisa na Argentina no ano passado.
\"Esse é um lugar onde a probabilidade de condenação é extremamente baixa, onde as autoridades das províncias não têm nenhuma capacidade de investigar crimes complexos e não cooperam muito internacionalmente\", disse Buscaglia.
A quadrilha de traficantes de Sinaloa tem se infiltrado dentro de comunidades carentes da região do norte do país que faz fronteira com o Paraguai e o Brasil, onde, com a cumplicidade das autoridades locais, podem agir com impunidade.
As autoridades policiais disseram que os traficantes colombianos e mexicanos vivem tranquilamente com suas famílias em algumas das áreas mais exclusivas da Argentina, que consideram ser mais seguras do que seus países de origem. Eles também delegam suas operações de drogas para que intermediários locais as executem.
Com grandes quantidades de dólares quase impossíveis de serem obtidos legalmente na Argentina, os traficantes frequentemente pagam os varejistas com drogas, contribuindo para um problema crescente do consumo interno, disseram oficiais da polícia e os procuradores. De acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC, na sigla em inglês), a Argentina teve a maior prevalência de uso de cocaína na América do Sul e Central entre pessoas de 15 a 64 anos de idade, com 25% dos usuários da região, ficando atrás apenas do Brasil.
*Por Emily Schmall
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