O presidente democrata dos EUA,Barack Obama, candidato à reeleição, e o seu opositor republicano Mitt Romneyfizeram nesta segunda-feira (22) mais um duro debate televisivo na campanha presidencial, com troca de ataques mútuos e bate-boca.
Foi o terceiro e último encontro deles cara a cara nesta equilibrada campanha, em que as pesquisas mostram os dois praticamente empatados duas semanas antes antes da votação de 6 de novembro.
Segundo as primeiras análises da imprensa americana, Obama venceu o debate.
O encontro desta segunda, na universidade de Lynn, em Boca Raton, na Flórida, tinha como tema política externa e defesa, com foco no Oriente Médio, e Obama apontou várias supostas contradições do adversário no tema, apesar de eles terem concordado em vários pontos ao longo da discussão.
O ex-governador de Massachusetts, mais de uma vez, rebateu o presidente, tentando colocar em pauta o tema econômico e o suposto mau desempenho de Obama nos quesitos criação de empregos e retomada do crescimento.
O moderador foi o âncora do programa "Face The Nation", da CBS, Bob Schieffer. O debate, menos animado que o imediatamente anterior, foi dividido em seis blocos de cerca de 15 minutos. O cenário deixava os oponentes muito próximos, sentados a uma mesa e se encarando de perto.
Líbia
O primeiro bloco foi sobre a importância dos EUA no cenário internacional.
O moderador questionou os adversários sobre o atentado que matou quatro americanos no consulado americano de Benghazi, na Líbia, em 11 de setembro, e sobre o que o teria provocado.
Romney começou criticando a política do atual governo dos EUA para o Oriente Médio.
Ele elogiou o governo Obama pela morte do terrorista Osama bin Laden, mas disse que só isso não basta para eliminar a ameaça que o terrorismo representa para os EUA.
"Parabenizo-o por ter eliminado Osama bin Laden e perseguido os líderes da Al-Qaeda, mas não sairemos dessa situação só matando", afirmou o republicano.
O presidente candidato à reeleição voltou a defender sua atuação no episódio, bastante criticada por Romney desde o começo e nos primeiros debates.Obama relembrou o fato de que cumpriu as promessas de retirar as tropas do Afeganistãoe do Iraque, além de ter matado Bin Laden.
Romney disse ter uma estratégia "robusta" para a região, para evitar "um novo Iraque ou um novo Afeganistão", e afirmou que também quer ajudar o mundo muçulmano no campo econômico, com investimentos diretos.
O presidente rebateu o rival criticando o fato de que, para Romney, a Rússia seria o "principal inimigo" dos EUA no campo internacional.
"Há alguns meses o senhor disse que a maior ameaça aos Estados Unidos era a Rússia. O senhor não quer duplicar o que aconteceu no Iraque, mas já disse que quer colocar mais soldados no Iraque", disse Obama. "O senhor foi contra os tratados nucleares com os russos. O senhor envia mensagens confusas. Precisamos de uma liderança forte e firme no Oriente Médio, ao contrário do que o senhor faz com suas declarações."
Obama afirmou que o republicano está errado em todas as suas opiniões sobre política externa, principalmente sobre o Iraque, e que tem ideias de política exterior dos anos 1980, ideias sociais dos anos 1950 e ideias econômicas dos anos 1920.
"Cada vez que você opinou, errou", disse Obama.
Romney retrucou afirmando que trata a Rússia com respeito, mas como um "adversário geopolítico".
Síria
Schieffer questionou Obama então sobre a política americana para a Síria, lembrando que a crise síria, que já matou mais de 34 mil pessoas desde fevereiro do ano passado, já se espalha para países vizinhos, como o Líbano.
Obama disse que está trabalhando coordenadamente com os países aliados, principalmenteTurquia e Israel, para lidar com a crise do regime do contestado presidente Bashar al-Assad.
Mas ele afirmou que não é a favor de armar grupos que possam, futuramente, usar esse armamento contra os próprios EUA.
Romney afirmou que retirar Assad é uma prioridade, lembrando a ligação do regime sírio com o Irã e com o grupo islâmico Hezbollah libanês, mas disse que não tem interesse em um envolvimento militar na região.
Ele disse que, devido à longa duração da crise, os EUA demoraram a assumir seu papel de liderança na região.
Obama retrucou afirmando que os EUA estão, sim, exercendo papel de liderança na região desde o início da crise.
Ele lembrou o que considerou a bem sucedida ação aliada na Líbia do ex-ditador Muammar Kadhafi, que teria sido criticada à época pelo agora candidato republicano.
Egito
Questionado sobre a crise egípcia, Obama afirmou que não se arrepende de ter pedido a saída do então ditador Hosni Mubarak, criticada dentro do governo à época.
Ele afirmou que é hora de o atual governo egípcio cumprir suas obrigações democráticas, além de cumprir os tratados de paz com Israel, dos quais, segundo Obama, depende a segurança de Israel e também a dos EUA.
Papel da América no mundo
Romney disse que os EUA têm o papel de promover os princípios democráticos pelo mundo e liderar na busca pela paz nas regiões em conflito.
Mas, para isso, segundo ele, é necessário fortalecer a economia doméstica e também o setor militar.
Obama disse que o mundo precisa dos EUA mais presentes e afirmou que o país está mais forte do que quando ele assumiu seu primeiro mandato, em 2008.
O democrata afirmou que sua administração está no caminho certo para "reconstruir os EUA" e voltou a criticar as políticas econômicas propostas por Romney, que, segundo ele, são parecidas com as do ex-presidente republicano George W. Bush.
Romney voltou a repisar seu programa de cinco pontos para, segundo ele, reerguer o país.
Ele voltou a citar os índices ruins de criação de empregos e prometeu resolver o problema se eleito, criando 12 milhões de empregos.
América Latina
O republicano voltou a dizer que vai mirar na América Latina, um mercado "quase tão grande como a China", para ampliar os mercados americanos.
"O volume comercial dos Estados Unidos cresce 12% ao ano, se duplica a cada cinco anos, mas podemos fazer melhor, particularmente na América Latina", disse.
"A América Latina é a grande oportunidade", disse Romney.
Apesar disso, os adversários não se aprofundaram no tema da América Latina e também nas relações com o vizinho México, como era esperado pela imprensa americana.
Israel x Irã
O mediador perguntou as candidatos se eles acreditam que os EUA devem apoiar Israel militarmente contra o Irã, em um eventual ataque por conta do contestado programa nuclear iraniano.
Obama reafirmou a amizade americana com Israel e disse que, se Israel for atacado pelo Irã, os EUA estarão do lado de Israel, com quem tem ampla e história cooperação militar.
O democrata reafirmou o compromisso de não permitir que o Irã obtenha uma arma nuclear. Ele lembrou que as sanções sobre a economia iraniana estão surtindo efeito.
"Não podemos nos dar ao luxo de uma corrida nuclear na região mais volátil do mundo", disse Obama.
As potências, EUA à frente, contestam o programa nuclear iraniano, que acreditam ser uma fachada para fabrigação de bombas atômicas. Teerã nega.
O democrata voltou a lembrar que o Irã ainda tem a opção de escolher a via diplomática.
Obama criticou Romney por, supostamente, querer partir para o confronto imediatamente com o Irã. Segundo ele, para Romney, a opção militar "é a primeira, não a última".
O republicano negou e afirmou que, sob seu eventual governo, os EUA estariam ao lado de Israel.
Ele criticou o que chamou de "tensões desafortunadas" da atual administração com o governo israelense e disse que, ao se aproximar, no início de seu mandato, dos líderes de Cuba (Fidel Castro), da Venezuela (Hugo Chávez) e do Irã (Mahmud Ahmadinejad), Obama teria mostrado "fragilidade".
"Devemos apoiar nossos aliados", disse o republicano, antes de criticar a maneira como Obama reagiu às manifestações da oposição e à violência no Irã após as eleições de 2009.
"O silêncio do presidente foi um enorme erro. Devemos defender nossos princípios, defender nossos aliados, promover um Exército e uma economia mais fortes."
Romney disse concordar com o risco que seria, para o mundo, um Irã nuclear e afirmou que defende sanções mais rígidas e mais bem aplicadas à República Islâmica.
Obama defendeu o nível das pressões atuais sobre o Irã e disse que é necessário mostrar ao país que ele deve desistir do programa nuclear e readquirir a credibilidade perante a comunidade internacional.
O democrata afirmou que "o relógio está andando" para o Irã e que, se o país não responder aos apelos internacionais, outras opções serão tomadas.
"O relógio está andando e vamos fazer o que for necessário", disse o presidente.
O presidente também negou relatos da imprensa dos EUA que afirmaram que EUA e Irã decidiram fazer negociações bilaterais sobre a questão nuclear iraniana. A notícia foi publicana no sábado pelo "New York Times".
Defesa
Retomando a questão econômica, Romney prometeu investir mais nas Forças Armadas com o excedente que obterá com os cortes de gastos, que permitirão equilibrar o orçamento em 8 a 10 anos.
Obama reagiu afirmando que as contas de Romney não fecham: 'ele quer gastar 5 trilhões de dólares com os militares e reduzir o déficit, esta matemática não bate'.
Sobre a acusação de reduzir o número de aviões e navios das Forças Armadas, Obama ridicularizou Romney ao acusá-lo de pensar em termos de 'cavalos e baionetas'.
'O governador Romney não passou tempo suficiente estudando como funcionam nossas Forças Armadas (...). Governador, também temos menos cavalos e baionetas hoje porque a natureza de nossas forças mudou. Agora temos coisas que se chama porta-aviões e estes navios que navegam sob o mar, os submarinos nucleares', ironizou Obama.
Maior ameaça externa
Questionados pelo moderador sobre qual consideravam a maior ameaça externa para os EUA, os rivais discordaram.
Para Obama, ainda seria o terrorismo, e o país precisa "permanecer em alerta".
Já Romney acredita que a maior ameaça seria um Irã nuclear.
China
O último bloco foi sobre a ascensão da China no cenário internacional.
Obama disse que a China é atualmente um adversário, mas também pode ser um aliado importante, e que ele vai continuar insistindo que os chineses "joguem as mesmas regras" do comércio internacional.
Ele afirmou que os recursos americanos às cortes internacionais de comércio contra a China estão sendo bem sucedidos e que esse é um caminho que deve ser mantido.
Romney negou que queira declarar uma "guerra comercial" contra a China, mas relembrou que na verdade já existe uma "guerra velada" que está sendo vencida pelos chineses, com desequilíbrios cambiais que, segundo ele, geram perda de empregos no país.
O democrata voltou a alfinetar o rival sobre sua declaração de que a indústria automobilística "deveria quebrar", e Romney mais uma negou ter dito isso, gerando uma pequena altercação entre os dois.
Obama também criticou Romney por supostamente ter investido em empresas que geraram empregos na China. Ele disse que, ao contrário do rival conservador, aposta nos trabalhadores americanos.
Romney voltou a criticar o programa de criação de empregos do atual governo de Obama, o que levou novamente os adversários a levantar a voz e a se interromper.
Considerações finais
Para encerrar o debate, Obama disse que quer trazer mais empregos e investimentos para o país, pedindo que "quem ganha mais contribua mais".
Obama voltou a dizer que tem "uma visão muito diferente dos Estados Unidos" que seu rival.
"Quero que as empresas invistam aqui e não no exterior", disse. "Quero diminuir o déficir cortando aquilo que não precisamos, mas não aquilo em que podemos investir", disse.
"Trabalhamos para sair das políticas que nos levaram a um aumento do déficit, e Romney nos levará a essas políticas de novo. Lutarei pelas famílias, escutarei suas vozes. Após uma década de guerras, temos que lutar por nossa nação."
Romney afirmou que, em seu governo, quer que os EUA sigam na liderança internacional, em busca da paz e da segurança.
Ele voltou a criticar a política econômica de Obama e disse que vai propor um caminho diferente, voltando à tecla da criação de 12 milhões de empregos.
"Quero assegurar que vamos colocar a economia em marcha", disse. O presidente nos leva no rumo da Grécia", disse, aludindo à crise grega da dívida.
Ele prometeu que vai trabalhar "com os dois partidos" no Congresso, o que o atual governo não teria conseguido.
"Precisamos de uma liderança forte. Gostaria de ser esse líder, com o seu apoio. Vou trabalhar com vocês de forma aberta e honesta."
Último debate
O debate desta segunda foi terceiro e último encontro entre os rivais antes das eleições de 6 de novembro.
O primeiro debate, no Colorado foi vencido por Romney, após um decepcionante desempenho de Obama.
No segundo encontro, em Hampstead, Nova York, o presidente deu a volta por cima e saiu-se melhor que o frepublicano.
Fonte: G1
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