Mas os tempos mudaram para o rei e para o país. A Espanha está no meio de uma crise econômica e de identidade, depois de ter amarrado suas fortunas com a agora conturbada União Europeia. O rei de 75 anos está se tornando cada vez menos popular, e pesquisas sugeriram que sua saúde em declínio intensificou os pedidos para que ele abdicasse em favor do príncipe Felipe, seu filho de 45 anos.
Agora, políticos e jornalistas começam a investigar mais a fundo, e os tabus estão caindo. Quase toda semana, a família real parece ser confrontada com novos constrangimentos e acusações, algumas dirigidas ao rei, e quase todos os aspectos da vida pessoal e financeira da família tornaram-se motivo de disputas.
"O escudo protetor da família real simplesmente desapareceu\", disse Carmen Enríquez, que escreveu vários livros a respeito da família real e serviu como correspondente real para a rede de televisão nacional da Espanha durante quase duas décadas. \"Estamos em uma grave crise, em que os cidadãos que sofrem sentem-se no dever de saber onde cada centavo do dinheiro público é gasto, incluindo tudo o que é gasto pela monarquia.\"
No início do mês passado, o principal partido da oposição socialista tomou medidas no Parlamento para, pela primeira vez, solicitar formalmente informações sobre as finanças pessoais do rei. O pedido abriu espaço para uma reportagem no jornal El Mundo que afirmou que Juan Carlos tinha escondido o dinheiro que herdou de seu pai em contas secretas em bancos suíços. A família real disse que analisará as acusações antes de emitir qualquer resposta.
Na segunda semana de abril, um livro que faz várias revindicações vergonhosas a respeito da história pessoal da princesa Letizia, esposa de Felipe, foi publicado. Ele esgotou imediatamente. O livro foi escrito por David Rocasolano, um primo da princesa que trabalhava como advogado dela.
A realeza não é o único alvo a estar sob maior escrutínio: quase nenhum partido político na Espanha tem sido poupado de um inquérito.
Indiscutivelmente, o mais prejudicial ocorreu para o primeiro-ministro Mariano Rajoy e seu Partido Popular, que é acusado de operar um fundo secreto para financiar campanhas. Quase todas as instituições de poder no país foram atingidas pela corrupção e pela desilusão popular.
Ainda assim, a queda da popularidade da família real é provavelmente o exemplo mais marcante. Sua popularidade começou a perder forças em abril de 2012, quando o rei foi obrigado a fazer um pedido de desculpas altamente incomum depois de voltar de uma excursão a Botswana, África, para caçar elefantes, que chamou a atenção do público somente porque ele caiu e quebrou o quadril na viagem.
Um porta-voz da família real disse que estava bem consciente da queda na popularidade da monarquia e do próprio rei, mas também afirmou que a monarquia permanecia mais popular do que muitas outras instituições espanholas. O porta-voz sublinhou os esforços para tornar a casa real mais transparente, incluindo uma maior divulgação de suas finanças, que seria necessária sob uma lei mais ampla que o governo de Rajoy tenta aprovar no Parlamento.
Mas Enriquez, a ex-correspondente para a televisão espanhola, disse que na Espanha de hoje a família real pode ter tido pouca escolha: \"A casa real tem começado a entender que não poderia ficar de fora de uma lei de transparência sem provocar um clamor público.\"
Por Raphael Minder
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