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Crítica a Karzai marca visita de Obama ao Afeganistão

Crítica a Karzai marca visita de Obama ao Afeganistão

Fonte: Atualizado: sábado, 29 de março de 2014 às 03:26

O presidente Barack Obama expressou pessoalmente uma crítica pontual ao presidente Hamid Karzai durante um encontro no domingo, voando para Cabul numa visita surpresa que refletiu a crescente irritação com Karzai, enquanto o compromisso militar dos EUA em derrotar a insurgência talibã se aprofunda.

A visita de Obama, que ocorreu cercada de sigilo e durou apenas poucas horas, mas incluiu um comício vigoroso e ruidoso com as tropas americanas, foi sua primeira viagem como presidente para o local de uma guerra de oito anos que ele passou a carimbar como sua própria.

Apesar de ter dito que "o povo americano está encorajado pelo progresso que foi feito", ao lado de Karzai no pesadamente fortificado palácio presidencial, Obama também enfatizou que ainda havia trabalho a ser feito em temas de governança que frustraram oficiais americanos no último ano. "Queremos também continuar a ter progresso no processo civil", disse Obama. Ele mencionou diversas áreas, inclusive anticorrupção e estado de Direito.

A viagem destacou o longo caminho que os EUA acreditam que o governo afegão precise percorrer para cumprir as promessas que Karzai fez sobre governança e mesmo reintegração com certos membros reconciliáveis da insurgência do Talibã.

A conversa entre Obama e Karzai em suas discussões privadas não foi divulgada, mas o general James L. Jones, conselheiro de segurança nacional, contou a repórteres a bordo do avião presidencial, rumo ao Afeganistão, que o governo queria que Karzai entendesse que "em seu segundo mandato, existem certas coisas que não haviam recebido a devida atenção, quase desde o primeiro dia". Jones disse que o presidente afegão "precisa captar como é importante" para as autoridades dos EUA o tema da corrupção, em particular.

A visita fechou uma semana de destaque para Obama, na qual ele conquistou uma vitória singular em âmbito nacional ¿ sancionar a legislação do sistema de saúde ¿ e concluiu um acordo com a Rússia que prega às duas potências nucleares a redução de seus arsenais para os níveis mais baixos em meio século.

A visita de Obama ao Afeganistão ocorre num contexto de tensão entre Karzai e os americanos, que não diminuiu substancialmente desde que Karzai foi declarado vencedor de uma eleição maculada pela fraude. Após a eleição, EUA, Nações Unidas e outros países da OTAN exigiram que Karzai fizesse uma ampla revisão geral do sistema eleitoral, tacitamente indicando que poderiam reter recursos nas próximas eleições caso não observassem mudanças.

Karzai reformulou recentemente a comissão de queixas eleitorais, mas diminuiu a neutralidade da comissão ao designar para si o direito de indicar todos os seus cinco membros. Atualmente, três dos membros são indicados pelas Nações Unidas. A mudança enfureceu alguns diplomatas ocidentais em Cabul, que a consideraram quase uma provocação.

Em acréscimo aos descontentamentos em relação a Karzai, houve a conferência em Londres no final de janeiro, na qual a corrupção foi um dos principais tópicos e as autoridades ocidentais novamente deixaram claro que Karzai estava aquém das expectativas. Recentemente, ele fortaleceu a comissão anticorrupção e o procurador geral parece avançar em uma série de casos notórios envolvendo antigas figuras governamentais, mas a corrupção permanece impregnada e Karzai não usou sua posição para promover uma mudança de cultura.

"Ele está se desviando do Ocidente", disse um alto diplomata europeu em Cabul. Karzai recebeu calorosamente um dos adversários mais declarados dos EUA, o presidente do Irã Mahmoud Ahmadinejad, durante uma visita oficial a Cabul no início de março e o encontrou novamente no último final de semana em Teerã, quando os dois celebraram juntos o ano novo afegão e iraniano. Karzai retornou a Cabul horas antes de Obama aterrissar.

Na semana passada, Karzai fez uma viagem de três dias à China, um país que está fazendo investimentos econômicos no Afeganistão, notavelmente em suas reservas de cobre, aproveitando os benefícios dos difícieis e despendiosos esforços de segurança dos Estados Unidos e outras nações ocidentais.

O avião presidencial aterrissou à noite na Base Aérea de Bagram após um voo de 13 horas sem escalas para uma visita mantida em sigilo por segurança, e Obama rapidamente embarcou em um helicóptero rumo a Cabul.

Funcionários da Casa Branca não divulgaram com antecedência a viagem, chegando até a informar a repórteres que Obama passaria o final de semana em Camp David com sua família. Na verdade, o presidente viajou durante a noite afegã e retornou a Washington antes da maioria dos afegãos ter acordado na manhã de segunda-feira.

Além de Jones, Obama estava acompanhado por Rahm Emanuel, seu chefe de gabinete, e outros funcionários da Casa Branca e do Departamento de Defesa. Obama também se encontrou com algumas das dezenas de milhares de tropas americanas enviadas ao Afeganistão desde que assumiu o poder. Sua visita às tropas é particularmente significativa, porque as vítimas de combate dos EUA no Afeganistão aumentaram acentuadamente desde que assumiu o posto de comandante-em-chefe das Forças Armadas.

Nos três primeiros meses de 2010, pelo menos 83 soldados americanos morreram no Afeganistão, em comparação a 43 nos três primeiros meses de 2009, de acordo com o icasualties.org, um banco de dados de baixas em conflitos no Afeganistão e Iraque.

O número de soldados feridos em combate também cresceu dramaticamente. Oficiais militares alertaram que as baixas provavelmente continuarão crescendo bastante enquanto o Pentágono completa a mobilização de 30 mil tropas adicionais sob a estratégia anunciada por Obama em novembro. A razão para o crescimento, afirmam militares, é que forças dos EUA estão buscando agressivamente insurgentes do Talibã nos centros populacionais do país e também planejando uma grande operação em Kandahar, o lar espiritual do Talibã, para os próximos meses.

Na Base Aérea de Bagram, Obama disse às tropas eufóricas que não tem dúvidas de que elas terão sucesso em seus esforços de impedir que o Talibã recupere o poder.

"A Al-Qaeda e seus aliados extremistas são uma ameaça ao povo do Afeganistão e uma ameaça ao povo da América, mas eles também são uma ameaça aos povos do mundo", disse Obama. "Meu principal trabalho aqui hoje é agradecer vocês em nome de todo o povo americano. Vocês são parte das melhores Forças Armadas da história mundial. E nós temos orgulho de vocês."

A visita do comandante-em-chefe às tropas americanas era há muito aguardada. Obama visitou tropas em Camp Victory, no Iraque, três meses depois de tomar posse, mas a Casa Branca adiou a viagem presidencial ao Afeganistão enquanto Obama fazia uma rigorosa revisão de vários meses da estratégia no Afeganistão e o país passava pelas idas e vindas de uma disputada eleição.

Mesmo após a posse de Karzai e o anúncio de que Obama enviaria mais 30 mil tropas americanas, o presidente dos EUA adiou a visita para se focar nas maquinações em torno de suas prioridades domésticas, como o projeto de lei do sistema de saúde.

De fato, alguns militares expressaram reservadamente preocupações sobre Obama não ter comentado muito sobre a guerra desde o anúncio do aumento de tropas no Afeganistão.

Obama aparentemente tentou lidar com isso em sua conversa com Karzai no domingo. "Uma das principais razões de eu estar aqui é apenas agradecer os esforços inacreditáveis de nossas tropas e parceiros de coalizão", disse. "Eles fazem sacrifícios imensos longe de casa, e eu quero que eles saibam como seu comandante-em-chefe está orgulhoso deles."

Traduzido por Amy Traduções

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