The New York Times
Enquanto associações pedem por celebração, Pentágono discorda e considera inadequado comemorar enquanto há soldados no Afeganistão
Na terça-feira, o time de futebol americano New York Giants foi recebido com confetes e saudado por multidões à medida que se preparava para receber uma das maiores honras da cidade de Nova York: o desfile pelo Canyon of Heroes (Cânion dos Hérois, em tradução literal).
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Paul Rieckhoff, diretor executivo da Associação dos Veteranos do Iraque e do Afeganistão, fora do City Hall em Nova York
Foto: NYT
Mas toda essa comoção - o desfile que aconteceu essa semana é o quarto desde 2000 que homenageia um time de futebol americano - desencadeou ira e desconforto entre alguns veteranos do Iraque, que estão aguardando ansiosamente pelo seu próprio reconhecimento.
"Todo mundo reconhece que os Giants merecem um desfile", disse Paul Rieckhoff, fundador e diretor executivo da Fundação dos Veteranos Americanos do Iraque e do Afeganistão. Mas acrescentou: "Se um time de futebol merece um desfile, será que nossos veteranos também não merecem?"
O prefeito Michael Bloomberg, que há muito tempo manifestou o seu pesar pelo fato de que os Estados Unidos não tenham feito um trabalho melhor em honrar os veteranos da Guerra do Vietnã (1955-1975), citou o conselho do Pentágono para decidir que não seria adequado fazer um desfile enquanto soldados americanos ainda estão lutando no Afeganistão.
Mas uma crescente coalizão de veteranos, autoridades eleitas e outras figuras públicas discordam, dizendo que está na hora de celebrar os homens e mulheres que serviram no Iraque.
Leslie H. Gelb, uma ex-correspondente do The New York Times e membro do conselho de Veteranos Americanos do Iraque e do Afeganistão, do qual atualmente é presidente emérita do Conselho de Relações Internacionais, chamou o posicionamento do Pentágono de "arrogante" e uma maneira típica de pensar de "Washington".
"Celebrar os veteranos da guerra do Iraque não significa que teremos que negar uma futura celebração para os veteranos do Afeganistão ou negar o fato de que ainda estamos em guerra", disse Gelb, acrescentando que "se tivéssemos que esperar para honrar nossos militares e mulheres até as guerras terminarem, íamos demorar uma eternidade."
E o ex-prefeito Edward I. Koch (1978 - 1989), que em 1981 realizou um desfile pela libertação de reféns americanos que estavam detidos no Irã contra a objeção de Alexander M. Haig Jr., então secretário de Estado, disse acreditar que um desfile para os veteranos do Iraque é importante e que a época é boa para fazê-lo.
Koch, que também organizou um desfile tardio para os veteranos da Guerra do Vietnã, em 1985, disse que o Pentágono está tomando "uma decisão política" que chamou de "ridícula". "Não é prematuro", disse. "Acredito que um desfile é necessário, e Nova York é o lugar para fazê-lo."
Pelo menos uma grande cidade, St. Louis, realizou um desfile para os veteranos do Iraque, no dia 28 de janeiro. Além disso, na segunda-feira, a Casa Branca anunciou que o presidente Barack Obama e a primeira-dama iriam realizar um jantar no dia 29 de fevereiro para homenagear os soldados que serviram no Iraque.
Mas o Departamento de Defesa, enfatizando que soldados americanos ainda estão lutando no Afeganistão, diz que é cedo demais para uma celebração com o reconhecimento e o simbolismo de um desfile realizado na cidade de Nova York.
O coronel David Lapan, porta-voz do general Martin E. Dempsey, presidente dos Estado Maior Conjunto, disse: "Nós simplesmente não achamos que um desfile de nível nacional seja adequado, enquanto continuamos com cidadãos americanos correndo risco em uma guerra."
As maiores organizações de veteranos do país pareciam incertas sobre o desfile. Um porta-voz da Legião Americana se recusou a comentar a quesão. Um porta-voz dos Veteranos de Guerras Estrangeiras, disse a princípio que entendeu a posição do Pentágono, mas depois passou a elogiar os organizadores do desfile de St. Louis e também disse que, se Bloomberg decidisse realizar um desfile atualmente, a organização o apoiaria.
"Se ele fizesse um desfile, seria ótimo", disse o porta-voz Joe Davis. Ele disse também que "se ele fizesse um desfile duas vezes - um agora e um, obviamente, quando os veteranos voltassem do Afeganistão - seria ótimo. Mas, sabe, é difícil celebrar o fim das guerras, quando você sabe que as guerras ainda não terminaram".
Nas últimas semanas, Bloomberg tem dito repetidamente que quer realizar uma celebração para os veteranos da Guerra do Iraque, mas não sem a aprovação de Washington.
O presidente do Estado Conjunto Maior, o secretário do Exército e o chefe de equipe do Exército, segundo o prefeito, "deixaram claro que ainda é muito cedo para fazer um desfile e que muitos soldados ainda estão em perigo ao redor do mundo. Este é um conselho sábio e a segurança de nossos bravos homens e mulheres no exterior dita o que a cidade deve fazer."
Stu Loeser, um porta-voz de Bloomberg, disse que o prefeito tinha anunciado programas para ajudar veteranos a encontrarem empregos e moradia e que as autoridades da cidade ainda estão conversando com a Casa Branca e com o Pentágono sobre a melhor maneira de homenageá-los.
O desfile para veteranos do Iraque em Nova York tem sido comentado desde meados de dezembro por dois membros republicanos da Câmara Municipal de Staten Island, Vincent M. Ignizio e James S. Oddo.
"Esse desfile não é uma celebração da vitória", disse Ignizio. "Esse desfile é para reconhecer a volta de um grande número de soldados para casa, soldados que nos serviram com muita honra, e para aqueles que morreram tentando.” O argumento está ganhando força em programas de televisão e nas redes sociais. Rachel Maddow, apresentadora de um programa na MSNBC, vem promovendo o desfile, e domingo, Bloomberg foi questionado sobre o desfile no programa "Meet the Press".
Apoiadores do desfile levaram o assunto para o Twitter. Rachel Sklar, uma conhecida blogueira, escreveu: "Espere um pouco. Os Giants têm direito a um desfile, mas os veteranos da guerra do Iraque não? Por favor, né Bloomberg!"
E Greg Pollowitz, um colaborador da National Review Online, publicou uma mensagem que dizia: "Se não temos um desfile para os veteranos do Iraque, então não deveríamos ter nenhum desfile para atletas profissionais."
Historiadores das relações entre militares e civis expressaram perplexidade com a posição do Pentágono. "É intrigante que o Pentágono se recuse a realizar um evento que homenageia as pessoas que serviram na guerra, porque sempre existiram eventos assim, desde a Guerra do Vietnã, para homenagear e apreciar o serviço militar de forma visível", disse Richard H. Kohn, professor emérito de história da Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill.
"É possível que o Pentágono esteja olhando para a situação e dizendo: &Bom, desfiles servem para comemorar vitórias, e talvez não esteja tão claro assim que foi exatamente isso que ocorreu no Iraque", disse Kohn.
Por Kate Taylor
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