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Escândalo de documentos vazados por mordomo de Bento 16 revela que principal desafio de próximo pontífice será reformar a burocracia do Vaticano
Se alguma vez houve necessidade de uma prova de que o próximo papa deveria reformar urgentemente a burocracia do Vaticano, chamada de Cúria, então o escândalo dos documentos privados do papa Bento 16 que foram vazados é a mais recente evidência disso.
O próprio mordomo do papa roubou cartas internas do pontífice e as expôs para um jornalista, que então publicou tudo em um livro de sucesso. O mordomo fez isso, admitiu, para expor a \"maldade e a corrupção\" no Vaticano, algo que acreditava que vinha sendo escondido de Bento 16 por aqueles que supostamente deveriam servi-lo.
E como se isso não fosse o suficiente, o conteúdo dos vazamentos confirmou que o próximo papa terá um governo muito difícil pela frente. As cartas e memorandos expuseram disputas mesquinhas, a corrupção e o nepotismo nos mais altos níveis da Igreja Católica. O tipo de intriga variou desde concessão de contratos do Vaticano à conspiração, supostamente orquestrada por autoridades de alto escalão do Vaticano, para expor um editor de um proeminente jornal católico como sendo homossexual.
Católicos comuns podem até acreditar que a disfunção no Palácio Apostólico não tem nenhum efeito em suas vidas, mas tem sim: a Cúria toma decisões sobre tudo, da nomeação de bispos às reuniões da igreja para anulação de casamentos e ao disciplinamento dos padres pedófilos. As políticas papais transparecem nas orações feitas pelos fiéis durante as missas já que as traduções missais são decididas por um comitê em Roma. As doações que os fiéis fazem a cada ano para o papa são retidas por um banco do Vaticano, cuja falta de transparência financeira abriu espaço para um difícil debate interno.
Mas alguns analistas especulam que as revelações dos vazamentos no mínimo aceleraram a decisão de Bento 16 de renunciar. No início de 2012, ele nomeou três cardeais de confiança para investigar para além do processo criminal envolvendo seu mordomo. Eles entrevistaram autoridades dentro da Cúria e entregaram seu relatório final em dezembro. Seu conteúdo é fechado, embora haja especulação de que os cardeais não economizaram palavras para revelar a verdadeira natureza da Cúria.
Embora cada vez mais internacional, a Cúria também é uma organização muito italiana, o que muitas vezes afeta suas prioridades, suas fraquezas e estilo de administração. \"A genealogia é importante, quem gerou quem\", observou uma autoridade do Vaticano recentemente falecido, que falou sob condição de anonimato para não antagonizar ex-colegas.
O comentarista italiano Massimo Franco concluiu recentemente nas páginas do Corriere della Sera que a burocracia do Vaticano de hoje é simplesmente \"ingovernável\".
Apesar de estar aberto a interpretações, a homilia final de Bento 16 como papa poderia ser vista como uma mensagem clara para os cardeais que escolherão seu sucessor.
O porta-voz do Vaticano, o reverendo Federico Lombardi, disse que era errado interpretar as palavras do papa como sendo dirigidas à Cúria do Vaticano, argumentando que a mensagem do papa foi concebida como um apelo à unidade entre todos os cristãos, uma de suas prioridades como pontífice.
\"Diferenças e diversidade de opinião são parte da dinâmica normal de qualquer instituição ou comunidade\", disse Lombardi. Ele disse que a forma como os problemas de governança do Vaticano são frequentemente descritos \"não corresponde à realidade\".
Por Nicole Winfield
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