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Em missão conjunta, tropas e polícia afegã lidam com desconfiança

Em missão conjunta, tropas e polícia afegã lidam com desconfiança

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 10:16

O plano para a patrulha a pé parecia perfeitamente seguro. Um passeio através de algumas aldeias. Apresentações a alguns anciões. Uma viagem de carro pelos cerca de três quilômetros de retorno até a sede da polícia afegã. Fácil.

Mas as primeiras missões de destacamento são aquelas nas quais tudo sai terrivelmente errado. Por isso, o comandante da companhia se reuniu com o líder do pelotão nas primeiras horas do dia, verificando possíveis pontos de emboscada, traçando rotas de fuga, se preocupando com todas as falhas de equipamentos possíveis.

No entanto, havia uma variável, algo que não tinham como controlar: a confiabilidade em seus parceiros da polícia afegã.

Em pequenos grupos, e para si mesmos, os soldados do 1 º Batalhão, 87ª Infantaria, preocupavam-se. Seriam os aldeões realmente amigáveis, como a polícia afegã alegava? Estariam as estradas realmente seguras e sem bombas? O que aconteceria se um policial avisasse os insurgentes de todos os movimentos do pelotão?

Apenas uma semana antes, um pelotão diferente do batalhão havia atingido uma mina enquanto acompanhava a polícia afegã ao longo de uma estrada de terra. Alguns soldados questionavam se os policiais levaram os americanos para uma armadilha. Essa possibilidade foi rapidamente descartada, porque a polícia estava em perigo tão grande quanto os soldados. Mas o nervosismo permaneceu.

“Todo mundo sabe que existe apenas uma entrada e uma saída” daqui, disse um líder de esquadrão. “Eu não gosto disso”.

A tarefa é conhecida como missão de treinamento, mas para os soldados do 1-87, seu trabalho na província de Kunduz, no norte do Afeganistão, é muito mais do que isso.

Ao longo de um destacamento de um ano que começou na primavera, o batalhão, parte da 10ª Divisão de Montanha, não vai apenas tentar aprimorar as habilidades de combate da polícia local – um grupo desorganizado de jovens analfabetos e combatentes envelhecidos –, mas também acompanhá-los nas aldeias mais contestadas da região.

O objetivo, uma peça central da estratégia americana para ajudar o governo afegão a se tornar autônomo, é mostrar aos afegãos desconfiados que sua polícia pode mantê-los seguros.

Mas o primeiro passo tácito desta estratégia é conseguir que os soldados americanos confiem na polícia afegã.

Em suas primeiras semanas no Afeganistão, os soldados do 1-87 teriam de se contentar com algo parecido com uma espécie de fé.

A Polícia Nacional Afegã há muito é considerada a mais fraca instituição das forças de segurança do país, muitas vezes sem formação adequada, equipamentos, compromisso ou ética, dizem os comandantes americanos. Mais importante, os comandantes americanos temem que alguns policiais – voluntariamente ou sob coerção – estejam conspirando com os insurgentes. No ano passado, um policial afegão matou cinco soldados britânicos com quem trabalhava na província de Helmand.

As forças de segurança afegãs têm seus próprios problemas de confiança nas tropas da Organização do Tratado do Atlântico Norte. Em abril, soldados alemães dispararam contra um caminhão que transportava soldados afegãos a caminho de ajudar uma unidade alemã capturada em uma emboscada no distrito de Chahar Darreh. Seis soldados morreram. “Nós não temos medo do inimigo, temos medo dos alemães”, disse o chefe de polícia do distrito, Gulam Maideen.

Por isso, a construção da confiança mútua é fundamental, e os comandantes do batalhão disseram que a melhor maneira de fazer isso seria estar junto à polícia dia e noite: “Viva, treine e opere”, como eles explicam. Isso é o que levou o 2 º Pelotão, Companhia Delta, até a sede da polícia em Chahar Darreh em uma missão de quatro dias – o primeiro passo para manter soldados americanos no distrito em tempo integral.

“Alguns soldados temem que a polícia nacional irá fazer alguma coisa subversiva”, disse o líder do pelotão, o tenente Andrew McCarthy. “Eu estou convencido de que esses caras estão trabalhando na mesma página que nós, que querem as mesmas coisas que nós”.

Pouco depois, seu pelotão iria testar essa ideia.

Refúgio para insurgentes

O distrito de Chahar Darreh ocupa o flanco sudoeste da província de Kunduz, onde terras agrícolas planas desaparecem no planalto deserto empoeirado e vazio. Fica a apenas nove quilômetros da agitação relativamente segura da cidade de Kunduz, a quinta maior do Afeganistão, mas muito mais longe em termos de segurança.

“Há realmente apenas uma ponte por onde se pode entrar e sair”, disse o capitão David Bell, comandante da companhia Delta. “Por isso, a cidade é perfeita como refúgio rebelde”.

O distrito faz parte do cinturão Pashtun do norte do Afeganistão e muitas aldeias aqui compartilham a mesma língua, os sentimentos tribais e até simpatizam com seus irmãos Talebans em Kandahar e Helmand.

Eles não são, tecnicamente, uma força de combate, mas a polícia precisa manter a segurança local todos os dia – e isso significa lutar contra insurgentes. No entanto, de acordo com todos os relatos, eles têm um número insuficiente de pessoal para fazer isso.

Em Chahar Darreh, existem apenas cerca de 50 policiais para proteger 63 mil habitantes espalhados por cerca de 500 quilômetros quadrados, uma área do tamanho de Los Angeles. Maideen disse que seria necessário o dobro de agentes para começar a cobrir a área com alguma eficácia.

Mas, por agora, a polícia – que transita em caminhonetes Ford Ranger não blindadas, armada com pouco mais do que rifles Kalashnikov – raramente se arrisca a abandonar um raio de mais de três quilômetros de seus postos, a menos que acompanhada por tropas alemãs ou americanas. Como resultado, a maioria das aldeias aqui raramente veem um policial.

Depois que os americanos armaram camas improvisadas no seu novo quartel, na sede da polícia – um edifício inacabado de concreto, sem portas, janelas ou eletricidade – eles se moveram rapidamente para sua primeira tarefa: a determinação da competência dos seus parceiros afegãos.

Usando pacotes de refeições prontas para comer para simular veículos, McCarthy deu uma palestra sobre as operações de um comboio durante uma emboscada. E então americanos e afegãos, atuando em conjunto, realizaram manobras para contra-atacar a emboscada.

Os afegãos não falavam inglês, os americanos não falavam dari ou pashto, e havia apenas dois tradutores, nenhum deles totalmente fluente em inglês. Os sinais de mão e efeitos sonoros teriam de ser suficientes. Ainda assim, os americanos saíram agradavelmente surpresos.

“Esses caras definitivamente fizeram isso antes”, disse o sargento de 1 ª Classe Craig Pritchard, responsável pelo pelotão.

De fato, muitos eram como o comandante da companhia de polícia, Nyaiz Muhammad. Baixo, atarracado e calvo, com uma barba branca que o fazia parecer mais velho que seus 47 anos, ele pegou em armas pela primeira vez contra os soviéticos na década de 1980. Em contrapartida, o seu equivalente americano, McCarthy, alto e de cabelo bem cortado aos 24 anos, com um queixo bem barbeado, estava em seu primeiro destacamento.

Maideen disse o que outros policiais afegãos pareciam ter em mente.

“Eu não quero mais treinamento”, ele disse. “Eu quero que os americanos lutem comigo”.

Seu desejo foi atendido.

No final da tarde do segundo dia, uma patrulha alemã foi atacada por insurgentes usando granadas propelidas por lança-foguetes perto da sede da polícia. O tiroteio parou e a patrulha voltou à base com segurança. Mas, então, os alemães pediram que os afegãos ajudassem a proteger a estrada para permitir que uma segunda patrulha pudesse passar através do ponto de emboscada. Os afegãos pediram apoio aos americanos, e os americanos concordaram ansiosamente. Quatro caminhões seguiram atrás de uma patrulha da polícia a pé.

A apenas 500 metros do complexo da polícia uma granada-foguete atingiu a roda de um dos caminhões. Quando os soldados saltaram do veículo, os policiais começaram a atirar contra insurgentes do outro lado do campo.

Caminhões americanos manobraram para abrir fogo com suas metralhadoras calibre 50. Outra equipe mergulhou em uma parede de pedra para fornecer apoio de fogo aos agentes da polícia afegã que perseguiram os insurgentes a pé.

O tiroteio, o primeiro do pelotão no Afeganistão, acabou em minutos, com a fuga dos insurgentes. Mas os americanos estavam satisfeitos que os afegãos estavam ansiosos para lutar, e os afegãos pareciam felizes que os americanos tinham vindo junto.

“Esse é um V” (de vitória), Bell disse a seus soldados de volta no quartel-general. “O chefe ficou extasiado. Eu acho que ele ficou absolutamente chocado, na verdade, que estávamos dispostos a correr pela rua e combater a seu lado quando ele achava que era importante lutar”.

Postado por: Thatiane de Souza

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