O novo relatório sobre as causas do acidente do voo 447 da Air France, divulgado nesta sexta-feira (29), foi criticado pelo presidente da Associação de Vítimas Brasileiras, Nelson Faria Marinho. O Escritório de Investigação e Análise (BEA) anunciou ter identificado uma série de erros da tripulação no acidente sobre o Oceano Atlântico, que matou todas as 228 pessoas a bordo, em 1º de junho de 2009.
A única coisa de novidade é que os pilotos não avisaram aos passageiros. Não tem novidade nenhuma, tudo isso a gente já sabia. Eles estão procurando esconder tudo. Eles querem de todas as formas culpar os pilotos, quando os pilotos não têm nada a ver com isso. Foi defeito do avião, afirmou Nelson, que perdeu um filho no acidente.
O documento foi feito com base na análise dos dados das caixas-pretas e gravadores do Airbus A330 da Air France, recuperadas do mar. O voo seguia do Ri ode Janeiro para Paris.
O representante dos familiares das vítimas no Brasil acredita que todo o problema foi causado por um defeito no Pitot, o sensor de velocidade. Eles caem em contradição. O Pitot deu defeito. A contradição está aí. Já começa pela parte mecânica. Aí vem um efeito dominó, uma série de problemas provocados pelo defeito do Pitot. (...) Esse acidente poderia ter sido evitado. Tanto a Air France quanto a Airbus têm culpa.
Segundo ele, a associação alemã de familiares das vítimas está em contato com o Brasil e disse que a Air France e a Airbus já sabiam há tempos sobre o defeito no Pitot. Esse não é o relatório final. Nós vamos esperar a conclusão deles para, se necessário for, ir num tribunal internacional, disse.
Erros dos pilotos
Segundo o documento, os pilotos não adotaram os procedimentos adequados nos últimos minutos de voo, após terem ocorrido dois incidentes inesperados: a perda de indicadores de velocidade, com o congelamento das sondas Pitot -para a qual não estavam preparados- e a perda de sustentação da aeronave.
Os pilotos "não identificaram formalmente a situação de perda de sustentação", apesar de o alarme sonoro ter soado durante 54 segundos.
Eles também não aplicaram os procedimentos necessários após o congelamento dos sensores de velocidade, que provocaram a perda das indicações de velocidade na cabine.
O BEA informou que os pilotos que estava no comando "não receberam treinamento em alta altitude" sobre os procedimentos adequados nessa situação.
O piloto que estava no comando pilotava o avião manualmente, pois a pilotagem automática estava desativada depois que se perdeu a indicação de velocidade. O relatório informa que o comandante foi descansar às 2h da madrugada, sem deixar "instruções claras" aos dois copilotos que ficaram no comando. Ele teria voltado à cabine só às 2h11. A gravação se interrompeu às 2h14.
De acordo com o BEA, a tripulação também não avisou aos passageiros sobre o que estava ocorrendo a bordo.
O relatório também listou dez recomendações de segurança e recomendou melhor treinamento dos pilotos, inclusive de como pilotar aeronaves manualmente em grandes altitudes.
O BEA já considerava que um defeito nos sensores de velocidade Pitot era uma das causas do acidente, mas o órgão sempre ressaltou que a explicação definitiva só seria conhecida quando fossem recuperadas as caixas-pretas. Acreditava-se que o mau funcionamento dos sensores não explicaria por si só o acidente.
Caixas-pretas
As duas caixas-pretas -que registraram os parâmetros do voo e as conversas na cabine dos pilotos- foram resgatadas do fundo do mar no início de maio, após passarem 23 meses a 3,9 mil metros de profundidade no Oceano Atlântico.
Na véspera do anúncio deste novo relatório, a associação Entraide et Solidarité AF447 (Ajuda Mútua e Solidariedade AF 447, numa tradução livre) considerou "inaceitável" a acusação aos pilotos do voo e disse que espera que o documento permita compreender suas reações antes do acidente.
"Queremos a verdade. Queremos detalhes técnicos sobre os últimos três minutos do voo para termos uma ideia das reações dos pilotos", afirmou Robert Soulas, presidente da entidade. Em 27 de maio, o BEA divulgou um relatório, mas, para Soulas, a informação dada foi "muito pequena".
"Com base nas informações fornecidas, acreditamos que as acusações contra os pilotos são inaceitáveis. Eles já não mais estão aqui para poderem se defender, é fácil acusá-los. Precisamos de provas concretas", criticou Soulas, que representa as famílias de 60 das vítimas.
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