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Fazendeiro japonês desafia governo e vive em zona de exclusão nuclear

Fazendeiro japonês desafia governo e vive em zona de exclusão nuclear

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:29

Ervas daninhas crescem nas ruas vazias de Tomioka, no Japão . Vacas mortas apodrecem nos estábulos onde foram deixadas para morrer de fome. Galinheiros estão cobertos de larvas e um fedor nauseante paira no ar. A cidade de 16 mil habitantes tem agora apenas um.

Localizada na zona de exclusão onde a radiação contaminou o solo após o desastre nuclear provocado pelo tsunami de 11 de março, o plantador de arroz Naoto Matsumura se recusa a seguir a ordem do governo.

O fazendeiro Naoto Matsumura e seu cachorro Aki retorna de sua plantação de arroz em Tomioka, na província de Fukushima, nordeste do Japão (Foto: Hiro Komae / AP)

Ele diz que já pensou sobre a possibilidade de ter câncer, mas prefere ficar com o cachorro esquelético chamado Aki como sua única companhia. Quase seis meses após o devastador terremoto e tsunami no país, o homem de 53 anos acredita ser o único habitante da cidade situada entre as duas plantas das usinas de Fukushima Daí-ichi.

“Se eu desistir e for embora, está tudo acabado. É minha responsabilidade ficar. E é meu direito estar aqui”, disse.

Matsumura é um caso raro de desafio ao governo no país onde o consenso social é uma regra. Sua silenciosa desobediência civil, no entanto, chama a atenção para o dilema enfrentado por mais de 100 mil “refugiados nucleares” que foram deslocados após o desastre.

Tóquio agiu rapidamente para estabelecer as zonas de evacuação ao redor das usinas, mas tem sido lenta na realocação dos refugiados. “Nós estamos continuamos sendo esquecidos”, diz o fazendeiro. “O resto do país tem avançado. Eles não precisam pensar em nós.”

A prefeitura de Tomioka foi transferida para outra cidade segura na província de Fukushima, onde milhares de moradores vivem ainda em abrigos improvisados. Outros milhares se espalharam pelo país.

Oficiais são enviados a Tomioka todos os dias em busca de assaltantes ou violadores da zona de evacuação. Por lei, qualquer um achado dentro dos limites da zona deve ser detido e pagar multa. Mas autoridades tem feito vista grossa ao fazendeiro, que já foi abordado pela polícia algumas vezes.

“Outras pessoas também ficaram, algumas passaram algum tempo na minha casa. Mas a última foi embora umas semanas atrás. Ele pediu para tomar conta dos seus gatos”, conta Matsumura.

Sem eletricidade ou água encanada, o fazendeiro mantém dois velhos geradores à noite e busca água num poço próximo. Sua alimentação é basicamente comida enlatada e peixes que ele próprio pesca num rio próximo. Segundo ele, uma ou duas vezes por mês ele sai da zona de exclusão com sua picape para comprar suprimentos e gás.

“Eu estive em Tóquio algumas vezes e contei às autoridades que estou aqui. Disse a eles que é uma vergonha a maneira como o gado foi abandonado e da importância de ter alguém para tomar conta dos túmulos das famílias. Ele não pareceram me ouvir. Eles só me disseram que eu não deveria estar aqui, para começar.”          

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