Tentando afinar o discurso antes de uma cúpula que tem recebido uma quantidade incomum de atenção, os líderes do G8 (grupo formado pelas sete economias mais industrializadas do mundo mais a Rússia) começaram a falar na mesma língua e reconhecer a necessidade de combinar austeridade com estímulo para reativar o crescimento na Europa.
Um dia antes de chegar a Camp David, nos Estados Unidos, onde se reunirão nesta sexta-feira e no sábado, os líderes tentaram mostrar que estão juntos na fórmula para superar as dificuldades que a economia global enfrenta, principalmente por conta dos problemas na zona do euro.
Na quinta-feira, os chefes de Estado de Alemanha, França, Grã-Bretanha e Itália, além do presidente da Comissão Europeia, discutiram a crise por teleconferência e chegaram a um "alto nível de concordância", segundo o porta-voz alemão, "de que a consolidação fiscal e o crescimento não são contraditórios, mas necessários".
Ao mesmo tempo que os líderes europeus tentavam mostrar união em seu continente, o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, dizia à Assembleia Geral da ONU, em Nova York, que o bloco abraçará o "crescimento" combinado com "responsabilidade".
"A União Europeia virá para o encontro do G8 com uma mensagem clara: a Europa está determinada a permanecer no seu curso por uma estratégia ampla para sair da crise e retornar ao crescimento", afirmou Durão Barroso. "Uma abordagem em via dupla de finanças públicas sólidas e medidas de incentivo ao crescimento são os ingredientes cruciais da nossa resposta."
Diferenças
A eleição do presidente François Hollande, na França, reforçou a corrente dos que defendem mais estímulos para tentar tirar a Europa da areia movediça em que voltou a entrar neste ano.
A corrente oposta vinha sendo exemplificada pela chanceler alemã, Angela Merkel, defensora da austeridade e da consolidação fiscal para evitar uma repetição da crise de 2008. Entretanto, nos últimos dias, Merkel deu declarações afirmando que não vê o estímulo ao crescimento necessariamente como inimigo da austeridade.
Outro que suavizou seu discursos foi o premiê britânico, David Cameron, que recomendou para a Europa o mesmo remédio que seu governo está aplicando internamente. "Essa é uma crise da dívida. E os déficits que causaram essas dívidas precisam ser reduzidos", disse Cameron. "Mas o crescimento na grande parte da zona do euro evaporou completamente", concedeu.
Para analistas, as diferenças não são tão radicais quanto parecem. "Não espero que haja um debate verdadeiro sobre responsabilidade fiscal versus estímulo, porque todos os países do G8 perseguem a sustentabilidade fiscal. Também não creio que haverá um debate sobre consolidação versus crescimento, porque todos querem alcançar o crescimento", disse o conselheiro da Casa Branca para política externa Michael Froman, durante um evento em Washington.
"Creio que a conversa vai tratar de como atingir esse crescimento, como levar em conta as diferentes necessidades nacionais e, no caso da Europa, como reforçar as instituições e mandar uma mensagem de confiança para os investidores."
Para Justin Vaisse, diretor do Centro de Estudos para Europa e EUA do Instituto Brookings, de Washington, "o grande desafio (da reunião do G8) não é se vai haver consenso ou não entre Hollande e Merkel".
"De certa forma, os líderes têm de concordar e ninguém pode se dar ao luxo de ficar isolado. A questão é se haverá medidas suficientes para incentivar o crescimento na Europa e acalmar o descontentamento da opinião pública", avaliou.
Para Vaisse, algumas propostas de Hollande, como o aumento de fundos do banco europeu de investimento e a realocação de fundos para melhor servir o objetivo do crescimento são "consenso" no continente.
Volta do G8
Por causa do momento em que acontece - em meio a uma crise política na Grécia, e como uma espécie de plataforma de estreia multilateral para líderes como Hollande e seu colega italiano, Mário Monti -, o encontro do G8 tem atraído mais atenção que o normal. Um analista chegou a dizer que esta é a reunião "mais importante do grupo desde o choque nos preços do petróleo", nos anos 1970.
As discussões mais detalhadas sobre medidas econômicas e regulamentações financeiras devem ocorrer no encontro do G20 - o grupo que reúne os principais países emergentes e avançados -, dentro de um mês no México.
Para o diretor do centro de Cooperação Internacional da New York University, Bruce Jones, a crise é um dos fatores que têm "fortalecido o G8" nos últimos anos.
"O que estamos vendo são as potências ocidentais tentando reconquistar uma posição que acham ter perdido com o início da crise em 2008", disse Jones à BBC Brasil.
"Outro fator que está fortalecendo o G8 é a Primavera Árabe, na qual as ações das potências voltaram a ter preponderância. Estamos vendo um breve momento em que a lógica do G8 faz sentido. Mas não creio que fará no longo prazo."
O especialista afirma que desde a ascensão do G20 os EUA pensaram em abandonar o G8, e só não o fizeram porque veem o grupo como um "mecanismo de pressionar a Europa em privado".
Os dois dias de reunião discutirão uma gama de assuntos que inclui a crise na zona do euro, o apoio aos países em transição na Primavera Árabe, as energias alternativas e a segurança alimentar no mundo.
"Apesar de todos esses assuntos fazerem parte da programação oficial, muito do tempo informal e nos jantares deve ser dedicado às crises: a turbulência na zona do euro e, depois, a Síria", diz Bruce Jones.
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