Troy Davis em foto divulgada pelas
autoridades (Foto: AP)
O norte-mericano Troy Davis deve ser executado nesta quarta-feira (21) depois de 20 anos no corredor da morte após um processo repleto de problemas judiciais e que deu origem a súplicas no mundo inteiro.
"Confirmamos que o comitê de indultos da Geórgia negou clemência para Troy Davis", disse Wende Gozan Brown, porta-voz da Anistia Internacional em Atlanta, onde foi realizada a última audiência que poderia ter evitado a execução de Davis, esta quarta-feira, às 19h locais (20h de Brasília).
"Estamos chocados", disse Laura Moye, diretora da campanha para a abolição da pena de morte da Anistia Internacional nos Estados Unidos.
"Não podemos acreditar que o comitê tenha negado clemência diante de uma nuvem tão grande de dúvidas. Tememos que o estado da Geórgia possa executar um inocente", acrescentou a ativista.
Outro porta-voz da organização, Jen Marlowe, disse que a família de Davis não estará disponível para falar porque suas três irmãs, seu irmão e seus sobrinhos estão a caminho da prisão para visitá-lo.
A execução de Troy Davis, um negro condenado à morte pelo assassinato de um policial branco, durante uma briga em 1989 em Savannah, ocorrerá em uma penitenciária na cidade de Jackson, 77 km a sudeste de Atlanta, onde ele receberá a injeção letal.
A decisão por maioria simples dos cinco membros do comitê de indultos da Geórgia se impôs a uma campanha internacional sem precedentes que levou o ex-presidente americano Jimmy Carter, o papa Bento XVI, celebridades e inclusive a União Europeia a pedirem a comutação da pena capital pela de prisão perpétua.
A arma do crime nunca foi encontrada e não foi registrada digital alguma, nem traço de DNA no local do assassinato.
Desde que foi sentenciado, em 1991, sete das nove testemunhas civis se retrataram de suas declarações, alegando coerção ou intimidação por parte da polícia na obtenção dos testemunhos.
Até mesmo um membro do júri presente ao julgamento disse nos últimos anos que não estava certo de ter tomando a decisão correta, quando se soube que as testemunhas se haviam se contradito.
Mas a família da vítima, o policial Mark MacPhail, insiste na culpa de Davis.
"Nós somos as verdadeiras vítimas aqui", declarou na segunda-feira a viúva de MacPhail, Joan, em frente à sede do comitê de indultos em Atlanta, onde disse que ela e seus dois filhos assistirão à execução.
A filha do policial, Madison, de 24 anos, acrescentou, entre lágrimas: "Roubaram meu futuro. Coisas como o meu casamento. Em três anos terei três anos a mais do que o meu pai (quando ele morreu)".
Pouco depois do anúncio da decisão do comitê de indultos, várias organizações contrárias à pena de morte, que transformaram o caso de Davis em uma bandeira de sua luta contra esta punição, convocaram uma vigília em Atlanta para a noite desta terça-feira.
"Nós somos Troy Davis" e "Justiça liberta Troy Davis" diziam alguns cartazes que dezenas de pessoas exibiam na segunda-feira, quando o comitê de indultos da Geórgia, em Atlanta, ouviu pela última vez os advogados do condenado e os parentes da vítima.
Stephen Marsh, advogado de Davis, declarou à imprensa que acreditava ter "apresentado dúvidas substanciais neste caso".
"Em vista do nível de dúvida que existe, consideramos que uma execução é simplesmente inapropriada", afirmou.
Em 2008, o mesmo comitê havia negado clemência a Davis, mas desta vez há três integrantes novos.
A Geórgia é um dos três estados do país onde o governador não tem autoridade para decidir pelo perdão ou comutar a pena de morte, procedimentos que são decididos pelo comitê de indultos. Desde 1976, este estado executou 51 pessoas e perdoou 7. A última vez foi em 2008, quando a pena de morte contra Samuel David Crowe foi comutada pela de prisão perpétua.
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