A estrada a oeste do Cairo costumava oferecer alívio ao caos da cidade. Passadas as grandes pirâmides de Gizé e um último resquício de tráfego, havia apenas o deserto e o caminho de cerca de 160 quilômetros até o Mediterrâneo. Mas isso mudou.
Agora motoristas de microônibus e passageiros do Cairo atravessam 32 quilômetros de deserto para encontrar uma cidade nova, que brotou repentinamente na areia. Um engarrafamento dolorosamente familiar e um grupo de arranha-céus anunciam a metrópole que se destina a aliviar a pressão do centro histórico do Cairo, que muitos urbanistas consideraram sobrecarregado demais.
Bem-vindo ao novo Cairo, que não é totalmente diferente do antigo. O Cairo se tornou uma cidade tão lotada, congestionada e poluída que o governo egípcio apostou em um projeto de construção de fazer inveja a faraós: a criação de duas grandes cidades satélites.
20 milhões
Até 2020, os planejadores esperam que as novas cidades satélites abriguem pelo menos um quarto dos 20 milhões de habitantes do Cairo e muitas das agências governamentais que agora têm sede na cidade. Só um país com uma oferta aparentemente infinita de deserto aberto e um governo autoritário e livre para ignorar a opinião pública poderia contemplar um empreendimento tão gigantesco.
O governo já passou alguns milhares de habitantes mais pobres da cidade, contra a sua vontade, de favelas ilegais no centro do Cairo para projetos habitacionais nessa periferia. Em um ponto quase todos parecem concordar: é tarde demais para mudar de rumo.
Subdivisões enormes surgiram nas dunas fora do Cairo, em uma escala quase incompreensível. Mais de 1 milhão de pessoas se mudaram para a Cidade 6 de outubro, a oeste do Cairo, batizada em homenagem à guerra de 1973 entre Egito e Israel, ainda celebrada como uma vitória árabe. Um número parecido passou a viver na segunda cidade satélite, batizada de Novo Cairo.
Planos ambiciosos
Os planos originais do governo que são amplamente considerados mais ambiciosos do que realistas conceberam a Cidade 6 de Outubro para receber uma população de 3 milhões de habitantes até 2020 enquanto o Novo Cairo receberia 4 milhões, principalmente como refúgio para pessoas da classe trabalhadora. Até agora, porém, a esmagadora maioria dos novos moradores são provenientes da mais alta classe econômica do país.
O governo egípcio já gastou milhões de dólares na construção de novas estradas e linhas de energia e saneamento para as zonas desérticas que designou para as novas cidades.
Parcelas enormes de terra foram vendidas a construtoras pequenas, em acordos obscuros, e algumas habitações de baixa renda construídas. Mas o governo tem dependido principalmente de grandes construtoras privadas para criar moradias de luxo e condomínios, bem como shoppings e escritórios.
Postado por: Thatiane de Souza
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