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Mundo tem o maior número de refugiados desde a década de 1990

Mundo tem o maior número de refugiados desde a década de 1990

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:40

Na Argentina, refugiada albanesa mostra fotos de sua

família (Foto: ACNUR/Sub.coop)     Cada vez mais, os refugiados são impedidos de voltar para casa. Em 2009, apenas 251 mil pessoas foram repatriadas. É o número mais baixo de retorno em 20 anos. Esse dado é do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).

É fácil reconhecer esse panorama, basta um breve olhar pelos jornais. O primeiro-ministro israelense, Benyamin Netanyahu, disse diante do Congresso americano que os cerca de 5 milhões de palestinos, que é a maior população de refugiados no mundo há mais de 40 anos, jamais terão permissão para voltar.

Do Afeganistão, que vive em guerra desde a invasão dos Estados Unidos em 2001, sob o argumento de capturar Osama Bin Laden, o mentor dos atentados de 11 de setembro, fugiram mais de 2,88 milhões de pessoas: um em cada quatro refugiados do mundo é do Afeganistão.

Os iraquianos também se tornaram refugiados, depois da invasão americana, em 2003: são 1,78 milhões de homens, mulheres e crianças que hoje vivem espalhadas por diversos países, pagando o preço de uma guerra deflagrada por uma informação falsa. O ex-presidente americano George W.Bush acusava o ditador Saddan Hussein de ter armas de destruição em massa. E mais tarde descobrimos que isso não era verdade.

Na América Latina, a Colômbia tem o maior número de refugiados do continente: mais de 389 mil pessoas vivem em outros países e mais de três milhões são deslocados internos, uma denominação dada pelas Nações Unidas para cidadãos, que na verdade, vivem como refugiados dentro do próprio país.

Os deslocados internos não cruzaram fronteiras, mas também são sobreviventes ameaçados por conflitos ou perseguidos que correm risco de morte e que tiveram de abandonar tudo para viver em um lugar seguro.

As populações refugiadas mais recentes são vítimas das repressões às revoltas populares no mundo árabe. Cerca de duas mil pessoas cruzam, por hora, a fronteira da Líbia com a Tunísia para fugir dos confrontos armados entre militantes da oposição e tropas do governo de Muammar Khadafi e também dos bombardeios das tropas da Aliança do Norte (OTAN).    

Refugiado somali vive hoje no Rio de Janeiro

(Foto: ACNUR/J.Galvão)     Refugiados no Brasil

O Brasil dá refúgio a 4.400 cidadãos de Angola, da Colômbia, da República do Congo, da Libéria, de Cuba, da Palestina e do Iraque. A maioria vive no Rio de Janeiro, em São Paulo e no Rio Grande do Sul.

Luiz Paulo Barreto, presidente do Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), um órgão ligado ao Ministério da Justiça, que coordena, em parceria com o ACNUR, a permanência dessas pessoas no país, explica que receber refugiados não é uma ação de boa vontade, mas uma obrigação do Direito Internacional: "Essa responsabilidade está prevista na revisão da Convenção de Genebra, de 1949, e na Declaração de Cartagena, de 1984, que os países da América Latina incorporaram as suas legislações".

No Brasil, o refugiado recebe carteira de trabalho, documento de identidade e tem direito à saúde, educação e moradia. No período de adaptação, normalmente de três a seis meses, cada um recebe a ajuda financeira de R$ 300.

O CONARE e o ACNUR trabalham com organizações não-governamentais para aproximar os refugiados da comunidade. Por meio de convênios com diversas instituições, eles têm acesso ao aprendizado do português, a cursos profissionalizantes e a inserção no mercado de trabalho. O presidente do CONARE ressalta também a importância da ajuda na medida necessária e equilibrada: "A assistência aos refugiados não pode ser paternalista, pois o refugiado tem que voltar a garantir a própria subsistência".

Apesar de toda a estrutura voltada para que o refúgio se dê da maneira mais tranquila e organizada possível, com as diferenças culturais e sociais, a saudade do passado e os traumas físicos e psicológicos das situações que impuseram o exílio, os refugiados são duas vezes sobreviventes: sobrevivente por chegar ao refúgio e sobrevivente por resistir a todas essas dificuldades.

Ao contar a sua história, o colombiano Faculdo David expressa bem isso. Ele é jornalista e técnico em administração de desastres. Vive em São Paulo há nove anos e não conseguia trabalho de acordo com a capacitação dele: "Senti muita rejeição da própria sociedade por ser estrangeiro, principalmente na busca por emprego".

Na Colômbia, ele tinha deixado o jornalismo para trabalhar com organizações não-governamentais que dão suporte aos mais de 3 milhões de pessoas que tiveram de mudar de bairro, de cidade para fugir dos confrontos entre as Forças Revolucionárias da Colômbia (FARC), os paramilitares e o exército.

Como jornalista, Faculdo já sofria ameaças por denunciar os abusos desses grupos contra a população e depois como ativista pelos direitos humanos, passou a ser ameaçado de morte, chegou a sofrer atentados e precisou fugir com a mulher e os quatro filhos.

Hoje, no Brasil, ele dá aulas de espanhol, aos poucos está retomando a carreira de jornalista e, como técnico em administração de desastres é voluntário em ONGs: "Eu não consigo ver desastres naturais e não fazer nada. Trabalhei como voluntário no interior de São Paulo, em São Luiz do Paraitinga, quando o centro histórico da cidade foi devastado por uma enchente, em janeiro de 2010. E trabalhei também na região serrana do Rio de Janeiro, no começo deste ano".

Faculdo não pode voltar à Colômbia. "Sinto vontade, às vezes, de voltar, mas não posso. A situação por lá ainda não está estabilizada e eu e a minha família estaríamos em perigo".

A refugiada sérvia Dragida Sebescen já visitou o país algumas vezes. Ela e o marido fugiram para o Brasil em 1992, durante a guerra na ex-Iugoslávia. "O meu marido era militar e nós estávamos num lista de extermínio". Aqui, ela teve ajuda do ACNUR e da Cáritas, uma agência não-governamental que assiste aos refugiados. Fez um curso de moda, arrumou emprego, passou por dificuldades financeiras, teve depressão, mas superou e se estabeleceu.

Sobre a ACNUR

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) foi criado em dezembro de 1950, por resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas. Começou as atividades em janeiro de 1951, com a responsabilidade de reassentar refugiados europeus que ainda estavam sem lar, por causa da Segunda Guerra Mundial.

O ACNUR tem 6 mil funcionários e 400 escritórios, em 120 países. A agência recebeu o Prêmio Nobel da Paz duas vezes: em 1954 e em 1981. Ao contrário das demais agências da ONU, o ACNUR é mantido por meio de contribuições voluntários dos países. O Japão e os Estados Unidos estão entre os maiores contribuintes. O Brasil doou US$ 3,5 milhões à Agência em 2010.        

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