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Filme sobre anti-herói anarquista nunca passou nos cinemas chineses; veiculação na TV levanta especulações sobre menos censura sob novo governo
Telespectadores de toda a China viram um anti-herói anarquista lutar contra um governo totalitário e persuadir o povo a controlar o governo. Em seguida, a internet foi tomada por uma famosa citação do filme \"V de Vingança\": \"As pessoas não devem ter medo de seus governos. Os governos é que devem ter medo de seu povo.\"
A exibição do filme na noite da sexta-feira 14 de dezembro na Televisão Central da China surpreendeu os telespectadores e aumentou as esperanças de que a China está diminuindo a censura.
O filme \"V de Vingança\" nunca foi exibido nos cinemas chineses, mas não está claro se ele chegou a ser banido. Um artigo sobre o Partido Comunista no site do Diário do Povo disse que o filme anteriormente foi proibido de ser transmitido, mas o porta-voz da agência que aprova filmes afirmou não ter conhecimento de qualquer proibição.
Alguns comentaristas e blogueiros acreditam que a transmissão poderia ter sido um ato dos produtores da CCTV testando a censura, enquanto outros apontam um sinal de que o novo líder do Partido Comunista, Xi Jinping, realmente quer a reforma do país.
O filme de 2005, baseado em uma história em quadrinhos, se passa em um futuro fictício em que o Reino Unido é controlada por um governo fascista. O protagonista usa uma máscara de Guy Fawkes, o rebelde inglês do século 17 que tentou explodir o Parlamento.
A máscara tornou-se um símbolo revolucionário para jovens manifestantes em sua maioria de países ocidentais e também tem um status de filme cult na China, já que DVDs piratas estão amplamente disponíveis no mercado. Algumas pessoas têm usado a imagem da máscara como foto de seus perfis em sites da mídia social chineses.
O governo autoritário da China controla rigorosamente a mídia impressa, televisão e rádio. Censores também monitoram sites de mídia social, incluindo Weibo. Programas precisam ser aprovados pela Administração Estatal de Rádio, Cinema e Televisão, mas pessoas com conhecimento da indústria disseram que a CCTV, a única empresa com uma licença de transmissão em todo o país, tem o direito de tomar suas próprias decisões de censura ao mostrar um filme estrangeiro.
\"Já foi exibido. E não vejo o porquê de toda comoção\", disse uma mulher que atendeu ao telefone no canal de filmes CCTV-6. \"Também não previmos uma reação dessa magnitude.\" A mulher que deu apenas seu sobrenome, Yang, disse que repassaria as perguntas ao seu supervisor, que não foram respondidas.
O porta-voz da Administração Estatal de Rádio, Cinema e Televisão disse que havia notado a reação online da transmissão do filme. \"Não ouvi falar de nenhuma proibição a esse filme\", disse Wu Baoan na quinta-feira de 13 de dezembro.
O filme está disponível em plataformas na China de filmes sob demanda, onde o conteúdo do longa-metragem também precisa ser aprovado pelas autoridades. Um cientista político da Academia Chinesa de Ciências Sociais que costumava trabalhar para CCTV disse que o filme pode ter tido aprovação, ou que a decisão de transmiti-lo pode ter sido da própria CCTV. Warner Brothers, que produziu e distribuiu o filme \"V de Vingança\", recusou-se a comentar.
A China não tem um sistema de classificação, e por isso todos os filmes exibidos em seus cinemas são livres para adultos e crianças de qualquer idade. Xie Fei, cineasta e professor da Academia de Filme de Pequim, publicou uma carta aberta no Sina Weibo, no sábado de 15 de dezembro, pedindo às autoridades para substituir o processo de censura de filmes que foi criado na década de 1950 com um sistema de classificação.
A exibição de \"V de Vingança\" levantou algumas esperanças sobre possíveis mudanças sob o mandato de Xi, que foi publicamente chamado de o novo líder da China no mês passado. Ele já anunciou um estilo de liderança mais contido, convidando oficiais do governo a diminuir o desperdício de tempo e reuniões desnecessárias. Suas reformas visam a agradar a um público muito frustrado pela corrupção local.
A mídia estatal afirma ter diminuído os relatórios das viagens dos oficiais do governo como parte desse movimento. A Agência de Notícias de Xinhua advertiu nesta semana que os meios de comunicação deveriam \"aprender a lidar profissionalmente com a informação hoje em dia à medida que um público se torna cada vez mais exigente e os coloca\" constantemente sob escrutínio.
Um consultor de empresas e escritor americano com contatos de alto nível da China disse que o comprometimento com o regime de partido único na China no entanto não diminuiu. Portanto, quaisquer reformas na mídia eventualmente terão um limite.
"Você não pode ter uma mídia totalmente livre como temos no Ocidente e ao mesmo tempo manter a integridade de um sistema de um partido único\", disse Robert Lawrence Kuhn, que escreveu o livro \"How China\'s Leaders Think\" (Como os Líderes da China Pensam, em tradução literal).
A nova liderança tem de agir com cuidado, disse Kuhn, porque, na era da internet, falar sobre reformas não será esquecido. \"Altas expectativas, se não forem cumpridas, poderão piorar a situação \", disse.
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