The New York Times
Última música de Shanin Najafi causou alvoroço no país persa ao criticar imã e levou site a oferecer recompensa de US$ 100 mil para quem matá-lo
Com letras que tocam em assuntos ultrassensíveis e uma capa de álbum que mostra a cúpula de uma mesquita no formato do seio de uma mulher, Shanin Najafi é um rapper internacional que causa uma reação intensa em Teerã.
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Mas a última música de Najafi, intitulada "Naghi" em homenagem a um reverenciado líder espiritual, provocou um alvoroço especial. Os opositores de Najafi estão usando uma fatwa (ponunciamento legal) emitida recentemente pelo aiatolá Lotfollah Saafi-Golpaygani, que rotula todos que insultam o 10º imã xiita Ali al-Hadi al-Naqi, também conhecido como Imam Naghi, como apóstatas. Um site islâmico ofereceu uma recompensa de US$ 100 mil para quem matar Najafi, que nasceu no Irã, canta em persa, mas vive na Alemanha.
Na música, Najafi pede que o imã Naghi retorne no lugar do 12º imã, o messias xiita. Ele canta que o Irã está pronto para sacrificar a si mesmo com a ajuda do religioso para resolver problemas como "slogans rasos" e "tapetes de reza feitos na China". A música é carregada com uma linguagem típica das ruas.
O website iraniano shia-online.ir, afirmou que Najafi havia ido longe demais em insultar o imã, que é reverenciado pelos muçulmanos xiitas. O responsável pelo site, Fouad Ebadi, disse que os US$ 100 mil foram oferecidos por alguém de um Estado árabe no Golfo Pérsico. "Nós não queremos revelar sua identidade, a fim de protegê-lo," disse.
Najafi, 31 anos, disse que não queria criticar o islã. "Eu achei que haveria reclamações", disse o rapper à emissora alemã Deutsche Welle. "Mas não achava que perturbaria o regime desse jeito. Agora eles estão tirando proveito da situação e fazendo com que pareça que eu estava tentando criticar a religião e os fiéis."
Internet
No Facebook, que milhões de jovens iranianos usam para debates acalorados sobre temas que as emissoras estaduais nunca discutirão, surgiram inúmeras páginas atacando e defendendo Najafi.
Uma página, curtida por quase 1 mil pessoas, mostrava uma foto do rapper com o texto: "Vamos matar você, animal." Apoiadores de Najafi pediram o fechamento da página, dizendo que sua música não passava de um exemplo de liberdade de expressão.
Ser rotulado como um apóstata é algo punível com morte sob as leis islâmicas no Irã. Ainda assim, a fatwa é diferente da sentença de morte religiosa emitida em 1989 pelo aiatolá Ruhollah Khomeini contra o escritor britânico Salman Rushdie por causa do livro "Os Versos Satânicos" porque foi feita por um líder religioso que não tem nenhum papel político.
"Assim como o pastor Terry Jones da Flórida, que queimou Alcorões no passado, não representa nada para o governo americano, essa fatwa não representa nada para o governo do Irã", disse Sadollah Zarei, colunista do jornal estatal linha-dura Kayhan. "Isso foi feito por um grupo religioso da nossa sociedade."
*Por Thomas Erdbrink
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