Segurando um simples alto-falante, sem nenhuma infraestrutura, o Prêmio Nobel da Paz Mohamed ElBaradei discursou neste domingo (30) à multidão concentrada no centro do Cairo. Um dos líderes da oposição disse que não dá para voltar atrás e que as manifestações, que já deixaram mais de cem mortos, devem continuar até que se consiga a queda do regime de Hosni Mubarak, que há 30 anos controla o país.
Segundo transmissão de trechos do discurso pela rede Al Jazeera, ElBaradei disse à multidão que os protestos são somente o começo do fim.
- Nós temos uma demanda chave, que é a saída do regime e o começo de uma nova era. O que nós começamos não dá para voltar atrás.
ElBaradei, que voltou ao Egito nesta semana, se tornou o principal líder da oposição egípcia, dividida entre a classe média pró-Ocidente e a Irmandade Muçulmana, partido radical islâmico posto na clandestinidade por Mubarak. Os dois grupos tem se juntado nas ruas, nas manifestações contra o regime.
ElBaradei pede a Mubarak que deixe o Egito
Mais cedo, o diplomata disse à rede de TV CNN que se Mubarak quer salvar sua pele, se ele tem o mínimo de patriotismo, ele o aconselha a sair hoje do país e salvar o Egito.
- O próximo passo, como todos concordam, é um período de transição e um governo de salvação nacional, de unidade nacional, que prepare o terreno para uma nova Constituição e eleições livres e justas.
O Prêmio Nobel, ex-diretor da AIEA (agência nuclear da ONU) também criticou o apoio velado dos Estados Unidos ao regime de Mubarak, um histórico aliado dos americanos na região, em entrevista à CBS.
- É melhor o presidente [Barak] Obama não mostrar que ele será o último a dizer ao presidente Mubarak: Chegou a hora de sair.
ElBaradei disse ainda que o Egito precisa se juntar ao resto do mundo, precisa ser livre, democrático e uma sociedade onde as pessoas tenham o direito de viver em liberdade e dignidade.
Onda de protestos pede fim do regime
Inspirado na chamada Revolução de Jasmim, que derrubou o governo da Tunísia na última semana, os egípcios estão há seis dias nas ruas, pedindo a saída de Mubarak do poder. Mais de cem pessoas morreram, vítimas da repressão do regime.
Mubarak governa o país há 30 anos. Acuado pelos protestos, ele nomeou neste sábado, pela primeira vez desde 1981, um vice-presidente, Omar Suleiman um aliado antigo e chefe do serviço de inteligência do regime. Também indicou um novo primeiro-ministro, Ahmed Shafiq.
A oposição a Mubarak é dividida em dois grandes grupos. Um pró-Ocidente, formado pela classe média, e agora liderado por ElBaradei. E a Irmandade Muçulmana, partido fundamentalista colocado na clandestinidade temido por Israel e pelos Estados Unidos.
O Egito é um aliado vital do Ocidente na região. Os governos da Europa e dos EUA têm sido cautelosos em criticar Mubarak, já que o fim do regime pode trazer mais instabilidade à já inflamada região do norte da África e ao Oriente Médio.
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