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Onde informação é capital, assessores se armam em Washington

Onde informação é capital, assessores se armam em Washington

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:59

Bobby Maldonado tem a rotina matinal de um maratonista bem treinado. Com a ajuda de três alarmes, ele se levanta às 4h da manhã, toma banho e sai pela porta em menos de uma hora, verificando constantemente seu BlackBerry enquanto percorre seu caminho até a Linha Vermelha do metrô de Washington D.C. em 13 minutos para pegar o primeiro trem para o centro da cidade.

Ele sabe exatamente onde deve ficar posicionado para entrar no vagão que o deixa a poucos passos da escada rolante da estação de Farragut North. "É uma questão de eficiência. Eu não quero ficar preso atrás de pessoas lentas para que possa chegar na faixa de pedestres na hora certa".

Atravessando a Praça Farragut em diagonal, ele chega ao seu escritório na Câmara de Comércio dos Estados Unidos, na Rua H, pouco depois das 5h30. Lá, em um cubículo escuro, ele usa a Internet para ler as notícias do dia e as resume em uma newsletter de duas páginas que dispara a Thomas J. Donohue, presidente da Câmara, e outros executivos de alto escalão, antes das 8h. Ele nunca se atrasa.

  Maldonado, 26 anos, é uma das dezenas de jovens assessores em toda a cidade que se levantam antes do amanhecer para ler as notícias, sintetizá-las e adaptá-las para que os seus patrões comecem o dia bem preparados. Washington é uma cidade que trafega na informação e, como esses jovens de 20 e poucos anos estão aprendendo, quem sabe o quê – e quando sabem disso – pode ser a diferença entre a ascensão e o abismo profissional.

"A informação é o capital do mercado de Washington, então se você sabe algo que as outras pessoas não sabem e você sabe alguma coisa antes que outras pessoas isso é a fórmula para aumentar seu status e poder", disse David Perlmutter, diretor da Escola de Jornalismo e Comunicação de Massa da Universidade de Iowa. "Assim, qualquer vantagem que você possa usar para conseguir informação melhor, exclusiva ou mais rápido é muito importante."

Para Maldonado, que afirma que "as guerras de informação são ganhas antes do horário comercial", isso significa levantar cedo para ler todos os grandes jornais, novos dados de pesquisa, websites e dezenas de alertas de notícias necessários para equipar seus chefes com os melhores e mais atualizados dados.

"Nossos executivos entram em reuniões para travar batalhas, seja na saúde ou nas emissões de carbono. Informação é poder, portanto o meu trabalho é ter certeza de que eles estão armados com as informações mais poderosas", disse. "É ler aquelas 1 mil histórias nos jornais e descobrir uma agulha no palheiro que irá importar".

Não há dados concretos sobre quantas pessoas passam as primeiras horas da manhã reunindo notícias, e a rotina de cada um varia um pouco.

Andrew Bates, monitor de mídia no escritório de comunicações da Casa Branca, fica acordado até às 4h para ver de 30 a 40 websites e blogs, bem como para assistir os noticiários da manhã na televisão e enviar clipes de notícias relevantes para os altos escalões do governo Obama. Ele chega a traduzir artigos de outras línguas, com a ajuda do tradutor do Google.

Bates poderia "concorrer com qualquer um nesta cidade em um jogo de perguntas", disse Jen Psaki, o vice-diretor de comunicações da Casa Branca, em tom de brincadeira.

Busca

Bates, 24 anos, disse que sua busca durante a madrugada é destinada a encontrar "algo que seja muito forte, que impulsione bem um argumento ou que possa ser prejudicial, como uma crítica”.

No Departamento do Tesouro, Megan Leary, uma economista financeira do salão de mercados, e seis outros analistas, assumem um dia por semana para começar a trabalhar às 5h. Nesse dia eles monitoram mudanças imprevisíveis nos mercados e montam um relatório matinal para o secretário do Tesouro.

"Eu acho que o salão de mercados é importante porque não é filtrado", disse Leary. "Não é como se escrevemos alguma coisa que estará nas mãos do secretário ou do presidente na semana que vem. Eles leem naquele dia".

Leary está se tornando conhecida na companhia de táxi que providencia seu transporte ao trabalho. "Às vezes eu só entro no táxi e não preciso dizer para onde estou indo", disse ela. "Ele simplesmente segue para o escritório".

Na Câmara, os deveres de Maldonado também incluem um telefonema matinal a Donohue, que às vezes pede uma análise mais aprofundada sobre determinados temas.

"Eu estudo cerca de três horas todos os dias e, de vez em quando, respondo algumas perguntas do professor ", disse Maldonado. "Eu não sou especialista em políticas, mas vou sempre tentar saber respostas a duas ou três perguntas que ele poderia perguntar".

Trabalho

Acordar cedo não é nada novo, mas a velocidade das notícias na Internet e a proliferação de websites como o Politico, tornou o trabalho mais difícil e fez com que os profissionais tenham de acordar cada vez mais cedo.

"Não há mais um ciclo de notícias ", disse Perlmutter. "Você não quer chegar ao escritório às 8h e encontrar todo mundo dizendo, 'Oh, meu Deus, você acredita no que aconteceu?' sem saber do que estão falando”.

A porta-voz do Comitê Nacional Democrata, Brandi Hoffine, acorda entre 5h e 6h para o que ela carinhosamente chama de "Café com Brandi" - o momento em que começa a enviar artigos de notícia favoráveis à agenda da comissão à sua lista de cerca de 500 jornalistas. "Nós trabalhamos em ambientes onde o ciclo de notícias de 24 horas, pode rapidamente se tornar um ciclo de 24 minutos", disse Hoffine. "Estar na caixa de entrada de um repórter em primeiro, mesmo por alguns minutos, pode fazer uma grande diferença".

Hierarquia

A maioria dos que trabalham no turno da madrugada deixam o escritório à noite, como todo mundo. A falta de sono pode dificultar, mas para os jovens e ambiciosos de Washington, também oferece uma boa oportunidade para aprender sobre um departamento ou uma agência de baixo para cima e muitas vezes pode acelerar suas carreiras. Na Casa Branca, por exemplo, Dag Vega, diretor de emissoras, e Amy Brundage e Reid Cherlin, ambos assessores de imprensa do governo, começaram caãndo notícias nas primeiras horas da manhã.

Até recentemente, quando foi promovido a assistente do diretor de comunicação do gabinete de John A. Boehner, Kevin Boland, 25 anos, montava um documento de 50 páginas contendo as notícias mais relevantes para Boehner e seu gabinete na Câmara. Ele lembra de acordar por volta das 5h e, ainda de pijamas, beber um pouco de café enquanto lia websites para compilar seu relatório em casa. Às 7h ele enviava o documento e andava até o Capitólio, onde passaria o resto do dia.    

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