O partido governista da França prosseguiu na terça-feira com um debate polêmico sobre a natureza da laicidade e os desafios do islã, um exercício criticado por alguns membros do governo e diversos líderes religiosos e ridicularizado como cínico tanto pela oposição socialista quanto pela Frente Nacional de extrema direita.
Realizado em um hotel de Paris, na presença de cerca de 600 líderes religiosos, parlamentares e jornalistas, o debate foi rejeitado pelos membros proeminentes do governo e seu título foi alterado para remover qualquer referência ao Islã, resultando no anódino "Laicismo: Viver Melhor Juntos. Foram três horas de debate, após dois meses de feroz disputa política. Iniciado pelo presidente Nicolas Sarkozy, o debate foi organizado por Jean-François Cope, líder do partido de Sarkozy, o União por um Movimento Popular.
Mas o primeiro-ministro François Fillon se recusou a participar, temendo que levaria o partido para a extrema direita e poderia gerar "uma estigmatização dos muçulmanos", disse ele, fazendo com que Cope o acusasse de "não ser um jogador da equipe.
A preocupação seria ajudar o desenvolvimento de uma versão ocidentalizada do islã, que se encaixe dentro das normas comportamentais e culturais francesas, que aceite a igualdade de gênero e o caráter privado da crença religiosa.
Cope disse que o debate é "controverso, mas necessário", concluindo que "os valores da França são como os Três Mosqueteiros: liberdade, igualdade, fraternidade". Ele disse também que gostaria de acrescentar um quarto: o secularismo.
Críticas
Mas os críticos, incluindo o cardeal André Vingt-Trois, expressaram dúvidas, dizendo que "os riscos não são pequenos", não apenas porque alimentam a demagogia e levam à recusa de "toda expressão religiosa em nossa sociedade".
"Os muçulmanos franceses hoje pedem indiferença", disse Mohammed Moussaoui, presidente do Conselho Francês para a Fé Muçulmana. Com seus índices de aprovação baixos e a possibilidade de não conseguir a reeleição no próximo ano, Sarkozy está tentando reunir a direita ao defender os "valores franceses" e falar duro contra o crime.
Argumentando que certas práticas religiosas desafiam o secularismo a neutralidade religiosa do Estado e da vida pública na França Sarkozy também apresentou e ganhou a passagem de uma lei, que entra em vigor na próxima segunda, que proíbe o uso do véu que cobre o rosto em espaços públicos.
Entre as questões debatidas estava também a possibilidade de adicionar o islã a uma lei de 1905 que separa a igreja e o Estado, mas permite subsídios indiretos para as igrejas e sinagogas, que são mantidas com recursos estaduais. Mesquitas não têm esse benefício e alguns líderes muçulmanos querem ajuda do governo para construir novas mesquitas.
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