MENU

Mundo

Redes sociais foram elo, diz autor de campanha para libertar Shalit

Redes sociais foram elo, diz autor de campanha para libertar Shalit

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:20

O estrategista israelense Kobi Gambiel, que

comandou a campanha eletrônica pela libertação de

Gilad Shalit (Foto: Divulgação) Já tinham passado mais de dois anos do sequestro do soldado israelense Gilad Shalit quando o estrategista Jacob Kobi Gamliel recebeu uma incumbência: fazer uma campanha que mantivesse ativo na mídia o assunto do sequestro do militar, então com 21 anos, pelo grupo extremista Hamas, em junho de 2006.

Em outubro, um acordo intermediado pelo Egito pôs fim a 1.940 dias de cativeiro do soldado . Ele foi entregue pelo movimento palestino Hamas em troca da libertação, que deve terminar no ano que vem, de 1.027 palestinos presos. Para Gamliel, fundador e presidente da iSocia, primeira empresa especializada em mídias sociais de Israel, foi também o encerramento de uma campanha que não parecia ter fim.

“As mídias sociais foram o elo que manteve a comunidade unida em torno do objetivo final: trazer Gilad de volta para seus pais", disse Gamliel, para quem "tudo isso não poderia ter sido feito sem as mídias sociais".

Durante este tempo, centenas de milhares se uniram às “brigadas de amigos” criados na internet, com 77, 5 milhões de interações entre a página oficial, as contas no Facebook e canal de vídeo no Youtube, além do nome de Shalit, que virou um símbolo para pais de soldados israelenses, ocupando vários dias o assuntos mais comentados do Twitter.

O G1 conversou com Gamliel após uma palestra do estrategista no workshop “Estratégias de Mídia e Mudança Social”, realizado em Haifa até o último dia 18, em que também falou sobre o papel das redes sociais nos levantes no mundo árabe.  Leia a seguir alguns trechos da entrevista.

G1 - Qual foi o papel da campanha nas mídias sociais no processo para libertar Gilad Shalit?

Kobi Gamliel – As mídias sociais foram o elo que manteve a comunidade unida em em torno do objetivo final: trazer Gilad de volta para seus pais. A luta da família dele nas mídias sociais diariamente ajudou a criar, compartilhar e engajar os israelenses e outros seguidores ao redor do mundo, que dividiam experiências sobre as atividades que faziam pelo retorno [do soldado]. Nós atualizávamos diariamente o site oficial (www.gilad.org) e também usamos Youtube, Twitter, Facebook e uma newsletter semanal para reunir os ativistas que dividiam as ações que vinham fazendo com seus amigos. Tudo isso não poderia ter sido feito sem as mídias sociais.

G1 – Israel enfrentou muitas críticas pela operação que libertou 1.027 prisioneiros do Hamas em troca da libertação de Shalit, principalmente de parentes de vítimas do grupo extremista. Vocês tiveram a mesma reação na internet?

Gamliel – Críticas acontecem todo tempo em qualquer atividade. Desde quando o preço foi colocado na mesa pelo governo e os meios de comunicação, as pessoas passaram a usar a internet para expressar suas ideias, tanto em canais de comentário em sites de notícia quanto nos canais de mídia social da família de Shalit, principalmente no mural do Facebook. Teve momentos em que grupos extremistas lançaram uma campanha com anúncios no Google citando Gilad Shalit e contra o acordo, mas em geral a maioria das pessoas estava a favor [do acordo] e esta minoria acabou sendo respondida pela própria comunidade sem que precisássemos interferir.

G1 – Como manter o interesse em uma campanha nas mídias sociais após quase 5 anos da captura de Shalit? Foi o seu trabalho mais difícil?

Gamliel – Não foi fácil mesmo, mas no final os seguidores foram os verdadeiros criadores, que contaram as histórias e fontes da maior parte do conteúdo. De fato quem manteve a ação viva foi o povo, que fez com que o assunto continuasse nas manchetes. As pessoas continuaram fazendo vídeos, aplicativos no Facebook, criando sites especiais, fotos criativas e notas originais e o papel das mídias sociais foi ser uma plataforma para eles dividirem essas criações.

Gilad ao lado do pai, Noam, após chegar em uma base aérea de Israel, no último dia 18 (Foto: Reuters)

G1 - Em sua apresentação, você disse que a Primavera Árabe não é uma "revolução das mídias sociais", mas que essas ferramentas são parte das revoltas no mundo árabe. Qual é a relevância de Facebook, Twitter e outras redes nestes movimentos?

Gamliel – A mídia social é uma evolução na forma de se comunicar, engajar e compartilhar com os outros, portanto, ela é o motor que permite transformar em informação todos os protestos em cada região. As pessoas estavam ansiosas para fazer algo, tudo o que elas queriam era fazer esse algo juntas. As mídias sociais as ajudaram a agir juntas.

G1 – Você vê o mesmo papel das redes sociais nas recentes manifestações contra a desigualdade econômica que se espalharam desde o “Occupy Wall Street” por diversos países na Europa e também em Israel?

Gamliel – O Occupy Wall Street é um grupo político organizado, eles não poderiam fazer o que fazem sem as ferramentas das redes sociais. Mas, novamente, as mídias sociais foram apenas a plataforma que permitiu a troca de informações entre eles. Tudo que precisavam era uma conexão rápida e direta, para o qual as mídias sociais foram criadas.

G1 – Em muitas destas campanhas que se espalharam pelas redes, podemos ver causas locais sendo adotadas em outros países, por exemplo o SlutWalk (“Marcha das Vagabundas”), uma manifestação que começou em uma universidade do Canadá e foi reproduzidas em outras partes do mundo como um protesto pelos direitos das mulheres. Isto é uma tendência ou os movimentos estão se focando mais em problemas locais?

Gamliel – Podemos ver o mesmo na Austrália, onde pessoas deixaram o bigode crescer para alertar contra o câncer [de próstata]. Acho que criar e ajudar a levantar uma causa ou agenda é muito mais fácil nos dias de hoje, com o mundo se tornando cada vez menor com a internet e as ferramentas sociais. As pessoas estão mesmo encontrando interesses em comum e isso acaba se espalhando rapidamente.

G1 – A despeito do enorme crescimento das redes sociais, só recentemente elas superaram a pornografia como principal atividade na internet. Você acredita que ainda há muito mau uso dessas ferramentas?

Gamliel – De fato. Eu acredito que o principal problema das mídias sociais é a rápida expansão. Companhias como Facebook, Twitter e mesmo o YouTube só começaram há pouco a criar meios de proteger nossos filhos e nós mesmos de ações hostis. Acho que como têm falado, elas vem pensando em melhores maneiras de manter nossa segurança e privacidade, criando algoritmos que vão identificar de forma mais rápida quem usa as redes sociais com essa intenção e os impedindo de manter essas atividades no mundo virtual.

G1 – O Brasil aparece nas primeiras posições no número de usuários de mídias sociais. Você lembra de alguma campanha social relevante na rede do país?

Gamliel – Nem todos os países estão interessados em entender as mídias sociais e seus hábitos. A principal campanha que lembro do Brasil foi a que os caras da Volkswagen fizeram com o Twitter Zoom (clique para ver vídeo sobre a campanha , em inglês). Isso é exatamente o que incentiva a participação do público a se engajar e compartilhar algo que é grande e dentro de uma agenda jovem.        

Este conteúdo foi útil para você?

Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia

Siga-nos

Mais do Guiame

O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições