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"Tão Forte e Tão Perto" peca pela falta de emoção

"Tão Forte e Tão Perto" peca pela falta de emoção

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:15

Marco Tomazzoni, iG São Paulo

Desde o tempo em que estava na prancheta, "Tão Forte e Tão Perto", que estreia nesta sexta-feira (24) no Brasil, chamava a atenção por estar nas mãos do Stephen Daldry.

 

O cineasta britânico ficou famoso por sua boa relação com a Academia de Hollywood – é até o único a ser indicado a melhor diretor por seus três primeiros filmes, "Billy Elliot", "As Horas" e "O Leitor".

Como seu novo projeto se tratava de um drama a respeito do 11 de Setembro, a expectativa de se ver uma história emocionante quando a tragédia completava 10 anos era grande.

Apesar, no entanto, das duas indicações ao Oscar 2012, inclusive melhor filme, "Tão Forte e Tão Perto" não cumpriu o que se esperava. E pela primeira vez a Academia deixou Daldry de lado.

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A tarefa, verdade, sempre foi difícil. "Extremamente Alto & Incrivelmente Perto", livro do nova-iorquino Jonathan Safran Foer que deu origem ao filme, é praticamente inadaptável em seu vai-e-vem temporal, narrativas misturadas e no fluxo de consciência excêntrico de seu protagonista, um garoto de 9 anos.

Entregue nas mãos do roteirista Eric Roth ("Benjamim Button", "Forrest Gump", "O Informante"), o romance perdeu, claro, muito de seu apelo e a trama acabou focada na esquisitice do garoto, interpretado pelo estreante Thomas Horn. Ou melhor, na esquisitice em geral.

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Tom Hanks e Sandra Bullock em "Tão Forte e Tão Perto": papéis pequenos

Foto: Divulgação

Thomas Schell é uma criança diferente. Cientista mirim, tem sérios problemas de relacionamento, muitas manias e inteligência acima da média, atribuídos a uma Síndrome de Asperger não comprovada. Ciente disso, seu pai, Oskar, (Tom Hanks, numa pequena participação) o envolve em jogos curiosos e expedições pelo Central Park. A última delas, em que Thomas procurava evidências de um pretenso sexto distrito de Nova York, é interrompida pelo atentado ao World Trade Center, onde Oskar fazia uma reunião.

 

O garoto se recusa a aceitar a morte e cria um memorial secreto, cujo principal item é a secretária eletrônica em que estão os recados deixados pelo pai enquanto as Torres Gêmeas não caíam. Mas aí ele descobre uma chave com o nome "Black" dentro de um vaso e pensa se tratar da primeira pista para um último enigma do pao. Thomas só precisa descobrir onde essa chave se encaixa.

Ele parte, então, sozinho, atrás de todas as pessoas de Nova York com o sobrenome Black. Na mão, um tamborim para os momentos de nervosismo e uma máscara de gás na mochila, entre outros itens de sobrevivência tão pouco ortodoxos.

Com uma direção de arte inspirada, "Tão Forte e Tão Perto" se apoia com força nessa estranheza, mais comum no cinema independente norte-americano. Mas, assim como em boa parte dessas produções, o visual serve como subterfúgio para a ausência de dramaticidade e histórias mal desenvolvidas.

É o caso do personagem de Max von Sydow, indicado a melhor ator coadjuvante. O sueco dá vida ao misterioso inquilino da avó de Thomas. Sem nome e mudo, ele se comunica por bilhetes escritos num bloquinho e através das palavras "sim" e "não", tatuadas na palma das mãos. O inquilino acaba ajudando o garoto em suas buscas, mas sua importância no filme, no fim das contas, é apenas esboçada.

Mais ou menos como o drama da história. Não seria difícil comover ao falar de perda, da revolta provocada pelos ataques ou ao lembrar de todos afetados pelo 11 de Setembro. Daldry, porém, evitou soluções fáceis e apostou na força do personagem infantil, que, ao contrário, corre cada vez mais rumo ao inverossímil e invalida o que tentou se construir.

Não é culpa dos atores. Thomas Horn faz um trabalho surpreendente, assim como von Sydow, Viola Davis (numa ponta) e até Sandra Bullock, no papel da mãe do garoto. É esse personagem, inclusive, um dos pontos fracos. Embora ela emocione ao ser menosprezada pelo filho e, principalmente, na cena da última conversa por telefone com o marido (considerada golpe baixo pela crítica norte-americana), o modo como ela menospreza as expedições de Thomas e seu evidente descontrole é fora da realidade.

Pode-se tentar justificar tantos buracos por uma suposta aura de fantasia. Bobagem. "Tão Forte e Tão Perto" é, simplesmente, irregular.


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