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Tragédias como tsunami no Japão levam a inovações tecnológicas

Tragédias como tsunami no Japão levam a inovações tecnológicas

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 9:16

The New York Times

Para evitar novo desastre, japoneses criam versão futurista da Arca de Noé e sistema de comunicação 3D

Quando o devastador terremoto seguido de tsunami atingiu o norte do Japão em março passado, a casa de Shoji Tanaka, que ficava a mais de 320 quilômetros ao sul do epicentro, foi poupada de grandes danos. Mas ele trabalhou como voluntário na zona de desastre, entregando roupas doadas e ajudando com a limpeza, e disse ter ficado "chocado com o tamanho do estrago”.

A experiência também proporcionou um incentivo criativo para Tanaka, um inventor que também é presidente da Cosmo Power, uma empresa de engenharia japonesa. “O evento me estimulou a trabalhar bastante para completar o meu projeto Noé", disse ele.

Saiba mais: Entenda como os tsunamis se formam

Shoji Tanaka (de pé) mostra sua invenção, \"Noé\", criada para abrigar pessoas durante tsunami

Foto: NYT

"Noé" é a versão moderna da Arca criada por Tanaka e sua resposta à possibilidade de enfrentar um outro tsunami no país. Trata-se de um globo amarelo de praticamente 1 metro de diâmetro - imagine uma bola de tênis gigante - feito de plástico reforçado com fibra que pode resistir a golpes de marreta. Até quatro pessoas podem entrar neste casulo, que automaticamente se endireita caso esteja em uma superfície d’água e pode sobreviver a uma queda de até 10 metros.

Tanaka projetou seu casulo para ser um "refúgio temporário", disse ele, de modo que, em um tsunami, as pessoas possam entrar e ser levadas pela água durante uma ou duas horas, até que chegue ajuda. Pequenos dutos de ar tornam possível a respiração dentro do casulo, e há uma pequena janela para ver o lado de fora.

O produto já está no mercado - ele é vendido por cerca de US$ 3,8 mil. Tanaka diz que já recebeu pedidos de clientes japoneses para mais de mil unidades, algumas das quais já foram entregues.

Como diz o ditado, a necessidade é a mãe da invenção. Mas isso, aparentemente, é uma antecipação de uma eventual necessidade. A tragédia que pessoas testemunharam no ano passado no Japão, combinada com as deficiências do sistema de prevenção de desastres do país, estimularam algumas das maiores mentes do Japão a pensar em inovações que consigam lidar com futuras catástrofes naturais.

Algumas dessas invenções não foram criadas a partir do zero. Elas foram adaptadas de produtos já existentes, de modo que o processo foi muito mais rápido e mais barato. A inspiração para Noé veio de um produto que Tanaka havia desenvolvido há três anos para proteger as pessoas caso sua casa fosse vítima de um terremoto e desabasse. Mas essa unidade era hemisférica e não estava preparada para ser submersa na água.

"Então, eu a refiz como uma esfera completa, reforcei sua capacidade de ser submersa na água e fiz com que Noé fosse capaz de resistir a um tsunami", disse Tanaka. Ele espera que Noé se torne um item de segurança padrão dentro das casas japonesas.

"É possível que qualquer um tenha um Noé", disse, "e quero que seja acessível ao maior número possível de pessoas."

Yoshiyuki Sankai, professor de engenharia da Universidade de Tsukuba, também foi inspirado a atualizar uma de suas invenções após o tsunami. No seu caso, ele transformou seu Membro de Apoio Hibrido, ou HAL na sigla em inglês - um exoesqueleto robótico usado da cintura para baixo - para que possa ajudar as pessoas que trabalham em locais de radiação.

O HAL original, apresentado em 2008, ajudava pacientes que não podiam andar, monitorando os sinais enviados do seu cérebro para os músculos. Os sensores do HAL captam esses sinais e, em seguida, andam de acordo com os comandos da pessoa. A unidade foi comercializada e é alugada por hospitais e centros de reabilitação do Japão.

Sankai já pensava em atualizações que fizessem com que o HAL servisse para outras utilidades quando recebeu um telefonema de uma empresa envolvida na limpeza da usina nuclear de Fukushima Daiichi no verão passado. Será que HAL poderia ajudar os trabalhadores que tinham que usar pesados coletes à prova de radiação anti-tungstênio no local?

Menos de três meses depois, Sankai deu sua resposta final: sim.

"O princípio por trás das duas unidades é o mesmo", disse sobre uma das versões do HAL, descrevendo sua missão filosófica como "apoiar e expandir a capacidade humana."

No novo modelo, um quadro superior suporta as placas de tungstênio, que podem chegar a pesar até 60 quilos. Sem esse apoio, seria difícil que as pessoas pudessem trabalhar com o HAL por um longo período. "Portanto, agora o trabalhador não sente qualquer peso", disse ele.

O novo HAL recebeu uma patente, mas ainda está em fase de protótipo e sendo testado. Sankai disse que vai levar ainda mais seis ou sete meses até que esteja pronto para ser usado comercialmente.

O tsunami não é o único desastre recente que inspirou ajustes tecnológicos. Depois de testemunhar os efeitos do terremoto e do tsunami na Tailândia, no final de 2004, Hidei Kimura ficou perturbado com a interrupção dos meios de comunicação na área.

"Os telefones celulares estavam sem sinal", disse ele. "Não havia nenhuma maneira de ter acesso a informações de emergência."

Como presidente executivo da Burton Inc., uma empresa japonesa especializada em 3D, Kimura teve uma ideia: "Se informação textual pudesse ser desenhada no ar" - sem a necessidade de uma tela - "muito mais pessoas poderiam ter acesso a informações valiosas", disse ele.

Kimura afirma que o conceito foi baseado no senso comum, mas que "tal dispositivo não existia" na época. Por isso, ele fez sua a missão de criar um display em 3D de grande escala que pudesse ser usado para transmitir mensagens no ar durante um desastre.

O resultado é o Aerial 3D, que utiliza raios laser para criar a ilusão de texto a partir de minúsculos pontos luminosos. A tecnologia já está disponível para aluguel através da Burton, embora ela ainda esteja sendo melhorada. Hoje, as imagens projetadas não passam de mais de 4 metros de altura e de 4 metros de largura, mas no final do ano essas dimensões devem dobrar.

Quanto à vantagem de ser 3D, "muitas pessoas irão conseguir enxergar o que está sendo escrito”, disse Kimura. "Se fosse em 2D, o texto seria visto apenas de determinada perspectiva."

Colocando a utilidade prática de lado, ele disse que as pessoas estão intrigadas com a sua criação em um nível menos sério. "As pessoas dizem que é como algo saído do filme Guerra nas Estrelas.”

Por Nicole Laporte

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