The New York Times
Reduto de startups americanas de tecnologia condena imagem comercializada, como em filmes como \'A Rede Social\', e teme se tornar motivo de chacota com a série \'Silicon Valley\'
O Vale do Silício está finalmente recebendo um tratamento antes reservado a donas de casa desordeiras e chefs animados: um reality show. Mas o mundo da tecnologia não está completamente pronto para ser visto tão de perto.
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Quando os detalhes sobre a série - inicialmente intitulada \"Silicon Valley\" - foram inicialmente revelados, muitos na região ficaram ofendido dizendo que ela banalizaria o trabalho difícil e importante que está sendo feito no vale. \"Eca, por favor, fiquem em Los Angeles\", escreveu o empreendedor Kevin Rose em seu Twitter para mais de 1 milhão de seguidores.
O vale pode ficar ainda mais chateado quando perceber o quão bem o programa captou a realidade barulhenta da indústria de tecnologia em 2012.
A série, que está sendo filmada e deve ser veiculada em breve, mostra jovens festeiros que estão competindo para começar um negócio em um frenesi que lembra o auge das empresas \"pontocom\" nos anos 2000. É um mundo onde todo mundo parece pensar que uma boa ideia pode levar ao sucesso imediato e a riquezas incalculáveis, porque, afinal, foi assim que aconteceu muitas vezes antes. É um lugar onde você se sente como um fracasso se apenas um investidor oferecer para financiá-lo.
O programa \"Silicon Valley\" foi em parte inspirado pelo filme \"A Rede Social\", que narrou a fundação do Facebook. O Vale do Silício não gostou de \"A Rede Social\" porque, segundo o filme, Mark Zuckerberg começou o Facebook como uma forma de impressionar as garotas e não de mudar o mundo.
O fato de Randi Zuckerberg ser a produtora executiva da série, portanto, irritou ainda mais a região. Randi Zuckerberg, ex-executiva do Facebook, se recusou a ser entrevistada, mas defendeu seu programa na rede social. \"Inspirar outras pessoas a perseguir o sonho empreendedor americano só pode ser uma coisa boa\", escreveu.
Nem todos concordam. Um de seus ex-colegas do Facebook escreveu no Twitter estar \"apavorado\" com o fato de que a série pode transformar o Vale do Silício \"em motivo de chacota\".
"Confie em mim, muita gente nessa indústria é mesmo motivo de riso\", respondeu Randi Zuckerberg. \"Estamos apenas capturando a realidade!\"
Roteiro
Diante das câmeras, Ben e Hermione Way, um duo de irmãos vindos da Inglaterra, discutiam os US$ 500 mil que conseguiram para desenvolver um aplicativo de saúde. \"Quatro nãos e um sim\", disse Ben. \"As pessoas não estão exatamente jogando dinheiro para nós.\" Ele acrescentou que desenvolveu a ideia para o negócio enquanto bebia em um bar.
Em outra cena, em um escritório elegante onde empreendedores alugam cubículos, Kim Taylor descreveu sua startup como uma agência com base em conteúdo personalizado no mercado de luxo para as mulheres. É um pouco indefinido, até mesmo para Taylor, que veio de Chicago para a região do Vale do Silício há dois anos. Mas a sua startup tem poucos dias de idade. \"Isso é algo que eu estou tentando descobrir em tempo real\", disse.
O reality show começou a gerar desconforto no ano passado com uma postagem no Craigslist. \"Se você está vivendo a vida em velocidade máxima, queremos ouvi-lo\", disse. Mas foi um breve vídeo, divulgado pela emissora Bravo em abril, que realmente agravou as pessoas.
Uma frase dita por Taylor pareceu provocar ira: \"O Vale do Silício é o ensino médio, mas apenas com as crianças inteligentes e todos têm muito dinheiro.\" (Mais tarde, ela corrigiu suas observações no Twitter. \"Desculpa se eu disse que o Vale do Silício era como o ensino médio, eu quis dizer ensino fundamental.\")
A denúncia foi rápida - no Twitter, Facebook e blogs.
"Em nome de todos os empresários que já arriscaram tudo para construir algo, eu me sinto ofendido\", escreveu Francis Dao, fundador da 50 Kings, uma comunidade privada de tecnologia e mídia inovadoras. Um blog descreveu assim: \"O horror dos reality shows de TV vem ao Vale do Silício\".
Frances Berwick, presidente da Bravo, disse que apesar do título provisório, a série não tinha a intenção de capturar todo o vale ou retratar os aspectos corriqueiros de sua realidade. \"No processo de edição, tentamos nos livrar de tudo o que será chato\", disse.
O vale tem sido geralmente um território proibido para Hollywood, pelo menos até \"A Rede Social\". \"Nós somos comuns\", disse MacNiven Jamis, cujo restaurante Buck é um ponto de encontro popular no vale. \"As pessoas passam seus fins de semana trocando a lâmpada incrivelmente eficiente por uma ainda mais eficiente em termos energéticos. Ninguém se veste bem, exceto no festival Burning Man, onde tiram suas roupas.\"
As barreiras para se iniciar uma empresa de internet nunca foram tão baixas. A tecnologia é barata. Quase qualquer trabalho pode ser terceirizado, poupando em custos que variam dos salários ao espaço do escritório.
Apenas as ideias são realmente importantes. Quando se torna viral, uma empresa pode rapidamente valer centenas de milhões de dólares. A Yammer, uma rede social para empresas aberta no fim de 2008, foi vendida no mês passado para a Microsoft por US$ 1,2 bilhões e ninguém se surpreendeu.
"Se você é um empreendedor de primeira viagem, esse é um momento fenomenal\", disse Zaw Thet, um empresário bem-sucedido da região.
Os irmãos Way são hábeis o suficiente em mídia para terem considerado seu próprio reality show anteriormente. Eles sabem o que é preciso. Basta ver Ben Way diante das câmeras e você imagina um reality show.
"O que acontece é que o Vale do Silício perdoa falhas, mas não tantas vezes como nós falhamos\", disse. \"Eu quase não consigo acreditar quantos empresários cometem suicídio.\"
"Na noite passada, quatro ex-namoradas estavam em uma festa na minha casa. E só estou aqui há um ano\", acrescentou.
Eles vivem em uma casa de US$ 17 mil por mês com uma piscina exterior - algo incomum para a fria São Francisco - e três níveis de pavimentos dos quais é possível admirar uma excelente vista. O aluguel dividido por cinco colegas não é muito, explicou Ben Way.
Para custear as despesas, sua irmã vendeu ingressos para sua festa de aniversário a US$ 50. Ela também alinhou patrocínios de uma empresa de salgadinhos e um fornecedor de água de coco. A casa tem seu próprio Twitter, que utiliza para promover os produtos. No Vale do Silício, as oportunidades para ser um empreendedor nunca acabam.
*Por David Streitfeld
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