O baixo nível da represa do Rio Jundiaí, em Mogi das Cruzes, está revelando uma paisagem incomum. Tocos de árvores, restos de construção e até a piscina de uma antiga casa voltaram à superfície. A represa está localizada no Distrito de Taiaçupeba e surpreende moradores e antigos frequentadores. Ela faz parte do sistema Alto Tietê, que estava com 36,1% de sua capacidade nesta segunda-feira (14). Este é o índice mais baixo desde 2006, mas a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) informou que não há risco de desabastecimento. Os níveis em abril de 2005 não estão disponíveis no site da Sabesp.
Em dezembro, a água produzida na região passou a ser usada para abastecer parte dos moradores que antes eram atendidos pelo Sistema Cantareira, mas a medida foi anunciada pelo governador Geraldo Alckmin apenas em março. De lá para cá, o nível do Sistema Alto Tietê caiu cerca de 14%.
O nível do Sistema Cantareira nesta segunda-feira era de 12,1%, segundo a Sabesp. O governo estadual está oferecendo desconto para moradores que economizam água em 31 cidades da Região Metropolitana. A Sabesp admitiu a possibilidade de adotar o rodízio de água, mas afirmou na quinta-feira (10) que o volume morto do Cantareira garante o abastecimento em 2014.
Artesão e torneiro ferramenteiro, Luiz Martins Vieira tem 59 anos e vive no distrito de Taiaçupeba desde que nasceu. Ele se diz surpreso com o nível da água. “Está uma média de quatro metros abaixo do normal. Tem muito toco aparecendo, lixo. Já esteve baixo, mas não tanto”, conta.
Uma das surpresas é o aparecimento de mexilhões de cerca de dez centímetros de comprimento, que podem ser facilmente encontrados nas margens da represa. “Eu nunca tinha visto mexilhão tão grande. Eu sabia que tinha pequenos, mas é a primeira vez que aparecem esses. Vou usar para fazer artesanato”, conta Vieira.
Disputadas por garças e gaviões, restos de contruções antigas emergem como pequenas ilhas a cerca de 100 metros da margem. Segundo o morador, são as ruínas do sítio de um famoso pintor chinês que vivia no distrito entre as décadas de 50 e 60. “O pessoal conhecia ele como chinês barbudo. Ele tinha uma granja de galinhas poedeiras e é o alicerce da granja que está aparecendo. Era muito boa a granja dele, todo mundo queria trabalhar lá”, conta Veira. O artesão explica que os muitos tocos de pinheiro que despontam na superfície também foram plantados pelo chinês. Até mesmo um poço foi revelado pelas águas.
Em outro ponto da represa, uma antiga estrada asfaltada também voltou à tona parcialmente. Em um curioso cenário, a pista “entra” na água e emerge novamente metros depois. Morador de Ferraz de Vasconcelos, o motorista Cláudio Roberto Garcia frequenta aquele ponto da represa desde os 9 anos de idade. “Essa estrada ligava à Mogi-Bertioga antigamente. Eu nunca tinha visto num nível tão baixo”, comenta.
No canteiro de um antigo trevo está instalado um marco do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) de cerca de quatro metros de altura. Os arredores do marco estão totalmente secos. Segundo Garcia, normalmente as águas cobrem o marco quase que totalmente, ficando cerca de um metro para fora da água.
A piscina
Um dos achados mais surpreendentes é a piscina de uma antiga chácara que foi inundada. Toda a piscina e o piso ao seu redor estão preservados. A seca é tão severa que mesmo a água da piscina está cerca de um palmo abaixo da borda.
As extremidades do piso viraram uma privilegiada plataforma para a dupla de pescadores Valdir Simões e Antonio José Brigatto. “Impressiona o nível da represa. Aqui era bem cheio e agora está até ruim para pescar. Estou desde as 7h e só peguei catatauzinho, peixe pequeno”, conta Simões.
O aposentado Brigatto pesca ali há 15 anos e não teve melhor sorte. Os peixes eram pequenos, mas ele ainda tinha fé na localização estratégica. “Essa piscina é das casas antigas, de casa grande. Ficou um lugar bom para pescar, só não dá para nadar”, brinca. Ele conta que descobriu a piscina há cerca de duas semanas.
Segundo o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o período de chuvas intensas já passou. A atual estação – o outono – é caracterizada por ser um tempo de seca.
Apesar de ser necessário um período de chuvas frequentes para levantar os níveis das represas de maneira significativa, há chances de amenizar a situação, já que há previsão de chuvas para terça-feira (15) a qualquer hora do dia. De quarta-feira (16) até domingo (20) a previsão aponta pancadas de chuva localizada.
Depois da chuva que começou na noite de sábado (12), o nível do Sistema Alto Tietê subiu pela primeira vez no mês de abril, de 35,6% da capacidade para 36,1%.
Sistema Alto Tietê
Implantado a partir do início da década de 1970, o Sistema Alto Tietê, na Grande São Paulo, exigiu a desapropriação de várias propriedades. O sistema é formado por cinco reservatórios: Ponte Nova (Rio Tietê), no limite dos municípios de Salesópolis e Biritiba Mirim; Paraitinga (Rio Paraitinga), em Salesópolis; Biritiba (Rio Biritiba), no limite dos municípios de Biritiba Mirim e Mogi das Cruzes; Jundiaí (Rio Jundiaí), em Mogi das Cruzes; e barragem de Taiaçupeba (Rio Taiaçupeba), no limite de Mogi e Suzano. A água do sistema é tratada na Estação de Taiaçupeba, em Suzano.
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