Condenado a 73 anos de prisão e foragido desde fevereiro do ano passado, quando aproveitou o regime semiaberto para fugir, José Benemário de Araújo, de 51 anos, levava vida confortável no Paraguai. Precavido, mudou de endereço três vezes nos últimos meses e frequentava várias academias diferentes, sem repeti-las por dois dias. Além disso, jamais falava ao telefone. “Se tiver escuta minha, mudo de nome”, chegou a dizer a agentes da Delegacia de Combate às Drogas (Dcod) após ser preso, na segunda-feira, em Ciudad del Este, na fronteira com o Brasil. O chefão do tráfico em comunidades como Manguinhos, Mandela e Rola acabaria traído por um ponto fraco: o gosto por mulheres mais novas.
Segundo a Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai (Senad), que deu suporte à operação da Polícia Civil, Benemário visitava ao menos três vezes por semana as três companheiras que mantinha no país vizinho, todas com idades entre 20 e 30 anos. Detido em frente a um consultório dentário, o traficante pretendia visitar uma das amigas horas mais tarde.
Benemário também recebia com frequência a mulher, os filhos e os netos. Aos policiais, contou que atravessou a fronteira há um ano, após período na Favela do Rola, em Santa Cruz. Perguntado sobre o ataque à UPP de Manguinhos que teria ordenado, em março deste ano, negou e resumiu:
— Eu estava tranquilão no Paraguai.
A última casa em que morou fica num bairro nobre. Tem dois andares, quatro suítes e aluguel de 1.500 dólares (quase R$ 3.500), ainda de acordo com a Senad. A ausência de carros na garagem tem explicação: Benemário não dirige, e preferia táxis ou até bicicleta. Com o plano de instalar-se de vez no Paraguai, já havia iniciado a busca por terrenos. Em vez disso, voltou para a prisão.
Tornozeleira
Tanto a fuga de Benemário, quando rompeu a tornozeleira eletrônica após passar 22 anos preso, quanto o retorno ao crime no Rio, seis meses mais tarde, foram noticiados em primeira mão pelo EXTRA. Ele tem condenações por crimes como homicídio, sequestro, roubo, tráfico e formação de quadrilha.
Transferência
O chefe da Polícia Civil, Fernando Veloso, informou que já definiu com a Secretaria de Segurança o pedido para que o traficante seja novamente transferido para um presídio federal fora do estado. Por enquanto, Benemário ficará em Bangu.
Sem tiros
Dois agentes e um delegado da Dcod passaram 20 dias no Paraguai, onde tiveram o auxílio da Senad. Nenhum tiro foi disparado na prisão.
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