"Eu me senti um nada", afirma mulher xingada por prefeito

"Eu me senti um nada", afirma mulher xingada por prefeito

Fonte: Atualizado: sábado, 31 de maio de 2014 às 09:54

A desempregada Laudenice Cantalista de Paiva, 37, disse à Folha que estava em estado de choque em seu encontro com o prefeito de Manaus, Amazonino Mendes (PTB), na segunda-feira (21).

Em um bate-boca, ela disse a Amazonino que não tinha como abandonar uma área de risco da cidade. Ele retrucou: "Então, morra".

Um dia antes, Laudenice perdeu tudo num temporal que matou três vizinhos.

Mãe de sete filhos e avó de um bebê, ela falou que pretende processá-lo.

Folha - Por que a senhora veio para o Amazonas?

Laudenice Cantalista de Paiva - Sou de Prainha, no Pará. E a vida lá era muito difícil. Meu marido arrumou emprego aqui e eu também. Trabalhava como doméstica.

E como a sra. chegou a Santa Marta, em Manaus?

Vim porque não tinha condição de comprar terreno em outro canto. Não é uma invasão, mas é área de risco. Paguei R$ 6.000. No domingo, durante a chuva, a água invadiu a casa. Perdi o fogão. Fiquei sem roupa para usar.

Como foi o encontro com o prefeito?

Pensei: "Vou correr para ele ajudar". Estava em estado de choque. Eu disse: "Só o senhor para solucionar nosso problema". Ele: "Quem manda invadir área de risco?"

Eu disse: "Não temos condições de morar onde o senhor mora. Por isso estamos aqui". Ele perguntou: "De onde você é?". Eu disse: "Do Pará". E ele: "Tá explicado".

Depois o pessoal da prefeitura saiu me empurrando.

Hoje me sinto muito humilhada [chora]. Passo na rua e o pessoal manga de mim.

E quando ele disse "morra"?

Para mim, a vida acabou naquele momento. Eu me senti um nada.

Sobre a moradia, o que ficou definido?

Meu desespero maior era para ter uma casinha. Todo mundo perdeu tudo.

Quando desabou a casa [dos vizinhos, matando três deles], ligamos para os bombeiros, mas eles não apareceram e nós cavamos com a mão para retirar os corpos.

Meu filho tirou uma criança. Meus filhos não dormem.

O que a sra. vai fazer?

Minha vontade é processar por discriminação. Não pediu desculpas. Vou procurar meus direitos.

OUTRO LADO

Após a repercussão do bate-boca entre o prefeito Amazonino Mendes (PTB) e Laudenice Cantalista de Paiva, a Prefeitura de Manaus afirmou em nota que a declaração do político foi um "apelo incisivo" para os moradores saírem de uma área de risco.

Um dia antes, três pessoas morreram no bairro depois de um deslizamento de terra causado pela chuva.

Segundo a nota, a discussão se acirrou porque moradores não queriam sair. Mas no dia do incidente, a prefeitura disse que a desempregada, que mora no local, havia provocado Mendes.

Na nota, a Prefeitura de Manaus diz que já retirou do local 30 famílias, incluindo a de Laudenice. Elas receberão auxílio-aluguel de R$ 250.

Por Kátia Brasil

Este conteúdo foi útil para você?

Sua avaliação é importante para entregarmos a melhor notícia

Siga-nos

Mais do Guiame

O Guiame utiliza cookies e outras tecnologias semelhantes para melhorar a sua experiência acordo com a nossa Politica de privacidade e, ao continuar navegando você concorda com essas condições