Técnicos avaliam peça que pode ter causado acidente
(Foto: Sandro Abade/ Arquivo Pessoal)
Duas causas têm sido apontadas de modo preliminar pelo laudo pericial que avalia a queda livre de um elevador do 20° andar que matou nove trabalhadores da construção civil na terça-feira (9) . O acidente ocorreu por volta das 7h, na construção do edifício Empresarial Paulo VI, localizado na Avenida ACM, em Salvador. A obra está interditada e a categoria faz protesto contra o acidente nesta quarta-feira (10) , na capital baiana.
De acordo com técnicos da Delegacia Regional do Trabalho, a queda foi de 80 metros, em cinco segundos. Quando bateu no chão, o elevador estava a uma velocidade de 140 km/h. Segundo o Ministério do Trabalho, a primeira causa foi decorrente do eixo da roldana que movimenta o elevador. A quebra do eixo fez a cabine despencar. Mas o elevador poderia ter parado se o freio automático tivesse funcionado, o que seria a segunda falha mecânica. O coordenador de análises de acidentes, Anastácio Gonçalves, explica as evidências. No momento em que o eixo quebrou, o elevador começou a cair, até porque não tinha nada que o sustentasse. Mas tem um mecanismo, que é o freio automático, que segura a cabine em qualquer posição que ela se encontrasse, que também falhou. Ele comenta ainda que o material já devia ter sido substituído. O eixo e o freio estão bastante desgastados. Todas as evidências levam para uma falha de manutenção, já que o elevador é muito antigo, é de 1998, observa.
José Ribeiro, presidente do Sintracom-BA (Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção e da Madeira da Bahia), alerta para o mesmo ponto: manutenção. Uma peça nova dificilmente se romperia. Se tivesse com manutenção com certeza o freio reserva do equipamento teria travado, comenta. De acordo com Ribeiro, diversos operários relataram que o equipamento já havia apresentado defeito em outras obras.
O auditor fiscal e chefe da Superintendência Regional do Trabalho, Flávio Nunes, afirma que equipes de inspeção averiguam os canteiros de obras com periodicidade. Uma das ações de rotina, segundo ele, é a verificação da condição dos dispositivos de segurança, como medida de prevenção de acidentes. Ele confirma que a hipótese preliminar é de que a falta de manutenção tenha causado o acidente. Há indícios, apenas indícios, de que o problema foi ocasionado em função de uma manutenção inadequada, que acarretou no rompimento mecânico de um eixo e, por consequência, o freio não atuou. Aí a gente verifica que houve algumas irregularidades, que supostamente contribuíram para a ocorrência do acidente, diz.
A obra foi embargada ainda na terça-feira (9), logo após o acidente. Conforme avisa o auditor fiscal, a obra só será retomada após realização da adequação dos requisitos que serão apontados, do ponto de vista da segurança do trabalho. Interditamos os elevadores, o que é uma prática comum nos canteiros de obra da região, porque colocam em risco a integridade física das pessoas. São acidentes preveníveis, porque a resolução desses problemas está previstas na norma regulamentadora, explica.
O advogado e um dos diretores da construtora responsável pela obra, Fernando Magalhães, defende que o eixo não estava desgastado e trabalhava dentro de sua vida útil. Ele conta que, no momento, a preocupação da empresa é com a assistência às famílias vitimadas, no sentido de minimizar as problemáticas. Tudo o que falarmos aqui talvez seja precipitado. Precisamos fazer algumas análises, verificar efetivamente o que aconteceu. A construtora está fazendo tudo o que está ao alcance dela para ajudar a Delegacia Regional do Trabalho, a peça inclusive foi retirada pela construtora e entregue a um auditor do trabalho.
Ainda segundo o empresário, a manutenção dos elevadores foi realizada no sábado (6) e dos cabos que sustentam o equipamento há 30 dias. Com a quebra possivelmente do eixo, a falha no freio veio em seguida. Mas é prematuro sair daqui com uma definição, completa.
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