Amigos e familiares de Paulo Goulart se reuniram na noite desta quinta-feira, 13, no Theatro Municipal de São Paulo para o velório do ator, que morreu em decorrência de um câncer renal avançado, no Hospital São José, também na capital. O caixão com o corpo do ator chegou ao local do velório pontualmente às 23hs. O ator Odilon Wagner foi um dos primeiros a chegar.
A família recebeu amigos no salão nobre do Theatro Municipal. Muito emocionados, Nicette Bruno, mulher de Paulo, e os filhos do casal Paulo Goulart Filho, Bárbara Bruno e Beth Goulart receberam abraços de apoio de amigos.
Emocionado, Paulo Goulart Filho falou sobre o pai durante o velório do ator na madrugada desta sexta-feira, 14. “Esses últimos dias foram difíceis, complicados em termos de saúde. Ele estava bem abalado, mas a família, graças a Deus, sempre unida, sempre junta, eu, minhas irmãs, os netos. Posso dizer que ele fez uma passagem como a gente gostaria que fizesse. Ele está lá em cima, agora, vai começar uma nova temporada lá em cima. Tem um elenco grande esperando por ele, e estaremos juntos, ele vai continuar trabalhando lá em cima”, disse Paulo.
“Pra gente que fica, é difícil, a saudade é grande, a gente sente falta do dia a dia, da companhia, mas a gente sabe que é só uma passagem. Daqui a pouco a gente vai estar junto de novo, fazendo várias estripulias lá em cima”, completou.
Beth Goulart também falou sobre o pai: "Meu pai era um símbolo de amor. De um homem dedicado à família, à mulher, ao trabalho, aos filhos, ao próximo, ao país, no sentido de participação, cidadania, consciência social, ele queria ajudar a sociedade de alguma forma, através da sua arte. Ele foi um homem de uma dignidade imensa, nos deixou um legado de bons princípios, ética, moral, ele foi o melhor exemplo de homem que poderíamos ter nas nossas vidas. Um exemplo de amor, de dedicação, era um gentleman, gentilíssimo com a minha mãe. Então, isso nos ensinou uma generosidade de vida".
A atriz comentou ainda o fato de toda a família estar junta na hora da morte de Paulo. "Foi um momento muito especial. Queríamos, naquele momento, enchê-lo de puro amor, de amor incondicional, de sentimento de gratidão de tudo que ele foi por nós, pra nós, tudo que nos ensinou. Então estávamos todos juntos, emanando sentimento de agradecimento, de alegria por termos podido participar dessa vida tão especial que ele nos deu. Estávamos juntos, orando, falando palavras de amor, encorajamento, para que ele tivesse tranquilidade, a paz que ele merece. A gente espera sinceramente que agora ele esteja brilhando cada vez mais. Ele se tornou a essência da luz".
"E que nós possamos dar continuidade a esse trabalho e que não fiquemos de braços cruzados esperando a vida passar. Foi isso que ele nos ensinou, que a gente não espere a vida passar, que a gente vá, pelo menos, junto com ela", disse Bárbara Bruno, também filha de Paulo Goulart e Nicette Bruno.
"É uma perda irreparável pra toda a classe artística. Vai fazer uma falta muito grande. Éramos amigos pessoais, morávamos no mesmo prédio no Rio de Janeiro", disse Ney Latorraca durante o velório.
Juca de Oliveira também foi se despedir de Paulo Goulart: "Ele era um dos mais excepcionais atores brasileiros na suas Novelas, nos seus filmes, nas suas peças de teatro. Além de tudo isso, o Paulo era uma pessoa que se distinguia pela sua excepcional gentileza. Era uma coisa tão inacreditável você estar ao lado do Paulo, que quando você chegava perto dele, ele sorria e a vida imediatamente ficava boa. O Paulo é espírita, quer dizer, nao estamos na verdade nos despedindo, vamos nos encontrar daqui a pouco, fazer nosso teatro, vai estar lá o Raul cortez, Paulo autran, os outros atores. Nós reuniremos, vamos escolher uma peça, a gente vai se encontrar, vai ser bom. Apesar das pessoas dizerem o contrário, o Paulo prova que o homem deu certo, pelo menos no que diz respeito a ele".
Mais cedo, a mulher, Nicette Bruno, conversou com a imprensa acompanhada dos filhos do casal: Paulo Goulart Filho, Bárbara Bruno e Beth Goulart.
"Foi um final dolorido, mas foi uma passagem muito em paz com muito amor com todos os filhos e netos ao lado dele. Eu de mãos dadas com ele, porque nosso amor é eterno. Então vamos ter esse momento de separação, mas estaremos juntos sempre. É muito difícil para mim nesse momento falar alguma coisa porque a emoção é muito grande e forte. A dor é grande", disse.
Nesta quinta, o filho do casal, que tem o mesmo nome do pai, faz aniversário. Beth Goulart falou sobre a triste coincidência e sobre o fato dos pais terem conseguido comemorar os 60 anos de casados mesmo no hospital: "Ele esperou exatamente essa data e escolheu também uma data especial que é o aniversário do meu irmão que é hoje. Aproveitou a data de um nascimento para outro renascimento. O nascimento agora para a vida espiritual que é o nascimento que acreditamos que é eterno. Estaremos sempre juntos nesse momento. Agradecemos todos os amigos, desconhecidos que de certa maneira estão conosco em algum momento. Que também com um pouquinho desse sentimento de saudade que vivenciamos nesse momento e sabemos que todos tem um carinho imenso por ele e todos nós, como família que somos".
Trajetória
Paulo Goulart, ou Paulo Afonso Miessa, seu nome de batismo, acumulou, durante os 62 anos de carreira, 40 novelas, 27 filmes e 9 minisséries. Estreou nas novelas em 1952, em "Helena", da TV Paulista, adaptação de Manoel Carlos do romance de Machado de Assis. Depois migrou para a Excelsior, onde participou de sucessos como “A muralha”. Estreou na Globo em 1969, na novela “A cabana do pai Tomás”. Entre as grandes obras da TV que ele participou estão as novelas “Uma rosa com amor” (1972),“Éramos seis” (1977), “Plumas e paetês” (1980), “Roda de Fogo” (1986), “Mulheres de areia” (1993), além da microssérie e filme “O auto da compadecida”. (1999). Seu último trabalho em tramas longas foi em “Morde e assopra”, que chegou ao fim em outubro de 2011.
O sobrenome artístico veio do tio, o radialista Airton Goulart. Natural de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, seu primeiro trabalho foi como DJ, operador de som e locutor de uma rádio fundada pelo pai em Olímpia, também no interior do Estado. Apesar de ter estudado Química Industrial em busca de ter uma profissão, o rádio o seduziu, fazendo parte da Tupi como radioator de 17 para 18 anos.
Em 1952 conheceu Nicette Bruno, na companhia Teatro de Alumínio e os dois se casaram. O ano ainda foi significativo em sua vida com a estreia no teatro com a peça “Senhorita Minha Mãe”. O início no cinema se deu em 1957, com o filme “Rio Zona Norte”.
No mesmo ano em que estreou na Globo, em 1969, foi um dos protagonistas da novela “Verão vermelho”, de Dias Gomes . Muitas novelas depois, em “Fera radical” (1988), escrita por Walther Negrão, seu personagem, Altino Flores, vivia em uma cadeira de rodas. Além da Globo, Excelsior e Tupi, ele teve passagens por outras emissoras. No SBT participou do remake de “As pupilas do senhor reitor” (1994) e, na Band, de “A idade da loba” (1995).
Um de seus papéis mais inesquecíveis é o Donato do remake de “Mulheres de areia”, em 1993. Na trama, reprisada em 1996 e 2011, ele maltratava o enteado, Tonho da Lua (Marcos Frota) e desejava a enteada, Glorinha (Gabriela Alves). O malvado senhor Farina de “Esperança” (2002) também está entre os destaques na carreira do ator. No cinema, seu último trabalho foi no filme "O tempo e o vento" (2012).
Prêmios
Em 1974, por sua atuação na peça “Orquestra de Senhoritas”, de Jean Anouilh, com direção de Luís Sérgio Person, ganhou os prêmios da Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) e o Molière de Melhor Ator. Em 2006, a família do ator foi homenageada na 18ª edição do Prêmio Shell de Teatro do Rio de Janeiro. Paulo Goulart, Nicette Bruno e os três filhos, Beth Goulart, Bárbara Bruno e Paulo Goulart Filho, receberam um troféu especial trabalho desenvolvidos nos palcos em mais de 20 anos de carreira.
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