Morador levou corpo de zelador a churrasqueira

Morador levou corpo de zelador a churrasqueira

Fonte: Globo.comAtualizado: terça-feira, 3 de junho de 2014 às 14:04
Pedaços do corpo do zelador foram queimados em churrasqueira
Pedaços do corpo do zelador foram queimados em churrasqueira

Pedaços do corpo do zelador foram queimados em churrasqueiraA crueldade da morte do zelador Jezi Lopes de Souza, de 63 anos, deixou espantadas as pessoas que moram próximo à casa onde o corpo do idoso foi encontrado esquartejado na segunda-feira (2), em Praia Grande, no litoral de São Paulo. De acordo com um dos vizinhos da residência, que não quis se identificar, o publicitário Eduardo Tadeu Pinto Martins, de 47 anos, principal suspeito do crime, se mostrava uma pessoa normal quando ia ao local e, antes de ser preso, não levantou suspeitas, já que foi visto fazendo um churrasco tranquilamente. O zelador foi morto na capital paulista e levado à Baixada Santista dentro de uma mala. O publicitário e sua mulher, a advogada Ieda da Silva Martins, de 42 anos, tiveram a prisão temporária decretada pela Justiça na noite de segunda-feira, por 30 dias.

Segundo as investigações, o publicitário matou o zelador em um prédio da Casa Verde, Zona Norte de São Paulo, colocou o corpo em uma mala e fugiu para Praia Grande. Ainda de acordo com a polícia, o suspeito teria esquartejado o corpo do zelador já no litoral, com um serrote encontrado na casa. O publicitário também teria espalhado partes do corpo pela casa, em sacos plásticos. Outras partes teriam sido queimadas na churrasqueira e algumas, enterradas. Além disso, o homem teria jogado cal em pedaços dos restos mortais de Jezi, para evitar mau cheiro.
Eduardo confessou o crime e acrescentou que a motivação foram desavenças que tinha com a vítima. "Coisas banais, coisas de condomínio. Nem todos os condôminos aceitavam a maneira de administrar [do zelador]", afirmou o delegado Egídio Cobo, responsável pelo caso e titular do 13° Distrito Policial (Casa Verde) de São Paulo. "Ele nunca esperava que a polícia fosse agir tão rápido", disse.

Segundo o vizinho do publicitário em Praia Grande, tanto Eduardo quanto o pai, que é proprietário da casa, eram bem vistos pelos moradores da região. "Eu o conhecia, mas falei com ele poucas vezes. Tanto ele quanto sua família sempre se mostraram boas pessoas, de princípios e educadas. Nunca imaginei que um problema desse tipo fosse ocorrer", relatou.

O morador também destacou que o publicitário se mostrava um filho atencioso, já que o pai apresentava alguns problemas de saúde, e o filho sempre se deslocava para ajudá-lo nos tratamentos. "O pai dele mora aqui há pouco mais de quatro anos. Me mudei para cá um mês depois de sua chegada. O filho vinha de vez em quando, pois o pai precisava se locomover para fazer tratamento médico em São Paulo. As irmãs dele também sempre foram muito simpáticas. Não era uma pessoa que levantava qualquer tipo de suspeita, aparentemente", comentou.
Sobre as horas após a morte do zelador, o vizinho nega ter visto qualquer movimentação estranha que indicasse que um crime havia ocorrido ou que um corpo estivesse sendo ocultado no local. "Vi o Eduardo no domingo (1°), por volta das 13h30, sozinho, sem o carro, relaxando na churrasqueira. Observei que ele estava fazendo um churrasco. Eu ia falar com ele, mas apenas o cumprimentei e ele acenou de volta. Estava bem à vontade e não achei nada estranho na hora. Não imaginei que tudo isso estivesse acontecendo", afirmou.

O morador disse que a notícia não era esperada, mas que, devido à falta de segurança no país, não chegou a ser uma surpresa. "Não me espantou, por conta da insegurança que vivemos no Brasil, só que é algo que chama a atenção por ser tão próximo. Infelizmente, uma pessoa que a gente até via como um exemplo teve uma atitude dessas. O Eduardo não tinha problemas com ninguém na nossa rua. Pelo contrário, sempre que me encontrava perguntava da minha filha, chegava até a brincar com ela. Por isso, como tive contato com ele, é uma situação que nos deixa chocados", contou.

Imagens do desaparecido
Jezi foi visto pela última vez às 15h35 de sexta-feira (30), saindo do elevador do edifício residencial onde trabalhava, na Rua Zanzibar, no bairro da Casa Verde.
Imagens de câmeras de segurança do condomínio, exibidas na segunda-feira pelo Bom Dia São Paulo, revelaram o momento em que o zelador deixou o elevador em um dos andares levando cartas que seriam entregues aos moradores. Depois disso, o circuito interno não mostrou mais o funcionário voltando ao elevador.

Outras 15 câmeras do prédio também não registraram a passagem dele pelas escadas. Todos os equipamentos funcionam 24 horas e gravam quem entra e sai do imóvel. Ao todo, o edifício tem 22 andares. Só na frente do imóvel, há três câmeras, e em nenhum momento os equipamentos registraram o zelador deixando o local.

De acordo com o registro policial, Sheyla Viana de Souza, de 27 anos, filha de Jezi, relatou que um dos moradores tinha "problemas de relacionamento" com seu pai. Ela também informou que uma moradora lhe contou ter "ouvido gritos de discussão, pedindo para parar, e ao olhar pelo olho mágico do apartamento teria visto o morador [o publicitário] (...) fechando a porta".
Esse episódio ocorreu em horário compatível com a última vez que o zelador foi visto deixando o elevador. Além da família de Jezi, policiais militares e funcionários do prédio vasculharam todo o edifício e não encontraram o funcionário.

Imagens de moradores
Sheyla, o namorado dela e um policial militar também informaram que, por volta das 17h50 de sexta-feira, as câmeras do imóvel gravaram o publicitário entrando no elevador "arrastando uma mala escura e carregando um saco, ambos de grande porte, que demonstraram estar bem pesadas, levando-se em consideração a dificuldade (...) ao arrastá-las".
Em seguida, as testemunhas relataram que o morador desceu até a garagem e, pelas imagens, a mulher dele o ajudou a colocar a bagagem e o saco no carro do casal. Os dois moradores saíram com o veículo e retornaram ao prédio, mas o horário não foi informado no boletim de ocorrência. Esse vídeo não foi divulgado.

Sábado
No sábado (31), quando a família registrou o desaparecimento de Jezi, policiais militares foram até a residência do casal de moradores do edifício, quando o publicitário contou que "já havia discutido diversas vezes com Jezi, mas que ontem [sexta-feira] nada havia acontecido".

Os policiais vasculharam o local e encontraram mala e sacos similares aos exibidos pela gravação do prédio, mas verificaram que dentro deles havia roupas e tênis. Depois, desceram com a mulher até o estacionamento e verificaram que dentro do automóvel do casal estava uma mala parecida com as da filmagem. Dentro delas, porém, só havia roupas.
Indagado pelos policiais, o casal disse que tinha saído para levar as roupas a uma igreja, mas retornou porque ela estava fechada naquele dia. Os policiais informaram no BO que "não visualizaram nenhum sinal de violência no apartamento do casal ou no veículo".

Em 2013, mais de 23 mil pessoas desapareceram no estado de São Paulo, segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP). De acordo com a pasta, 80% desses casos foram esclarecidos.

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