“Nunca vi nada igual, nem mesmo nas manifestações do ano passado”. Foi assim que moradores e comerciantes caracterizaram a ação da Polícia Militar diante da reintegração de posse de um prédio localizado em um dos endereços mais famosos da cidade de São Paulo, a esquina da avenida Ipiranga com a São João. Ônibus queimado, lojas saqueadas, pedras e bombas de gás lacrimogênio e efeito moral por todos os lados marcaram a manhã desta terça-feira no centro da capital paulista.
Tudo começou por volta das 7h30 quando a PM cumpria uma ordem judicial no prédio, um antigo hotel da região. Apesar das autoridades terem avisado os ocupantes sobre a reintegração, as cerca de 200 famílias se revoltaram por não terem para onde ir e a confusão teve início. Das janelas do prédio ocupado objetos como pedras e até mesmo cocos eram arremessados nos policiais. A Tropa de Choque então foi chamada e o confronto começou.
Depois disso a confusão se espalhou por toda região central, inclusive com a presença de pessoas que não moravam no edifício tomado. Uma grande quantidade de curiosos se aglomerava pelas estreitas ruas do centro. A aglomeração era suficiente para a polícia agir com bombas de gás e efeito moral na tentativa de dispersar os moradores e comerciantes da região. Era possível ver com frequência pessoas correndo com crianças no colo tentando fugir da ação policial.
“Começou umas 7h30 da manhã e já estava um caos assim mesmo. Começou a passar gente estourando bomba, policiais jogando bomba. Não deu pra ver quem começou, mas logo que ouvimos as bombas fechamos a lanchonete. Quem não tem medo, moço? Entrava gás aqui dentro e tivemos que fechar com os clientes. Tivemos que ir no andar de cima”, disse Heloisa Guedes, funcionária de um restaurante na rua 24 de maio.
Márcio Jeremias, que trabalha no mesmo estabelecimento que Heloísa, afirmou jamais ter visto algo parecido em São Paulo. “Aqui eu nunca vi mesmo, só vi no Rio de Janeiro”, lembrou o funcionário do restaurante.
Em um outro estabelecimento, um pouco mais adiante na mesma rua, outro trabalhador reclamava da ação policial “desproporcional”. Adão José de Moura, subgerente de um restaurante, trabalha no local há três anos. “O pessoal ficou lá em cima. Era muita bomba soltando. Trabalho aqui e nunca vi igual à de hoje. Hoje o prejuízo foi enorme. Ainda bem que não tentaram abrir o restaurante”, disse, referindo-se às lojas que foram saqueadas.
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