Paraíba do Sul está secando e não deve resolver problema do Cantareira

Projeto de transposição foi lançado para socorrer o abastecimento em SP. Sistema abastece três estados: Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais.

Fonte: globo.comAtualizado: segunda-feira, 2 de fevereiro de 2015 às 09:56
Paraíba do Sul
Paraíba do Sul

A obra de transposição do Rio Paraíba do Sul promete socorrer o abastecimento de água em São Paulo.

No começo da conversa , o governo do Rio de Janeiro torceu o nariz para a proposta, mas depois, mudou de opinião. Agora, finalmente, foi lançado o projeto de transposição, mas a bacia do Paraíba do Sul também está secando. Especialistas temem que, para solucionar um problema, outro pode ser criado, ainda maior.

O sistema do Rio Paraíba do Sul abastece três estados: Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais e é por ser tão importante, que ele agora é o centro de uma polêmica.

No reservatório de Jaguari, em São Paulo, o planejamento é fazer a transposição do Rio Paraíba do Sul, obra que é apontada como uma das soluções para o problema da falta d´água em São Paulo.

Para chegar no lugar onde se pretende fazer a obra, é preciso pegar um barco. Geralmente, esse barco poderia ser pego em um píer, mas a represa está tão seca que é preciso descer todos os degraus, que antes ficavam embaixo d’água. São 25 metros abaixo do nível normal.

O especialista em recursos hídricos Edilson Andrade explica que a represa está com quase zero de volume útil e tem apenas 1,7%.

Segundo o projeto, seis motores vão bombear a água por 20 km até a represa de Atibainha, que faz parte do Sistema Cantareira.

A ideia é bombear do Paraíba do Sul para lá cerca de 5 mil a 8 mil litros de água por segundo, só que para isso acontecer, os reservatórios do Paraíba do Sul precisam se recuperar. "Nesta situação de crise, não daria para passar esse volume para São Paulo”, afirma Edilson.

Em uma seca como essa, segundo os especialistas, transferir a água para o Cantareira poderia criar outro problema e fazer com que o Paraíba do Sul se torne o novo Cantareira.

A obra foi anunciada no ano passado, a princípio a um custo de R$ 300 milhões, mas a licitação que foi aberta, estima gastos de R$ 830 milhões, quase três vezes mais, e deve receber os recursos do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, do Governo Federal. A previsão é de que a obra fique pronta em um ano e meio.

A solução é de emergência para uma crise anunciada e o projeto que se pretende realizar agora foi condenado no ano passado. Uma comissão de especialistas fez um estudo do Paraíba do Sul encomendado pelo governo do estado do Rio de Janeiro e desaconselhou qualquer obra de transposição.

“Não podemos imaginar que podemos cobrir um pé e descobrir outro. A região metropolitana e o estado do Rio de Janeiro não têm um outro manancial que possa ser suprido além do Paraíba do Sul, e com a quantidade de usos que essa bacia já tem, uma retirada adicional, na verdade, trará consequências imediatas”, afirma o pesquisador da UFRJ, Paulo Carneiro.

O secretário estadual de Ambiente defende a obra, desde que ela só entre em funcionamento se o nível da água voltar a subir. “Vai depender das condições do rio. Nós estamos falando de uma obra que vai levar, no mínimo, um ano e oito meses”, diz André Corrêa.

O governo de São Paulo garante que a transposição não vai prejudicar ninguém.

“Essa obra não vai trazer nem bem, nem mal para o Rio de Janeiro. Essa obra é uma obra neutra”, afirma o secretário de Saneamento e Recursos Hídricos de São Paulo, Benedito Braga.

Uma segunda fase da obra prevê um sistema de tubos que faria o caminho de volta, levaria água do Sistema Cantareira para o Paraíba do Sul. “Eu acredito que é algo que dificilmente vai acontecer”, afirma Edilson Andrade.

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