Policiais que trabalham na busca e apreensão de drogas como cocaína e maconha poderão contar, no futuro, com um aparelho eletrônico que atua como cães farejadores na localização dos entorpecentes. O equipamento foi desenvolvido pelo pesquisador Matheus Manoel Teles de Menezes, de 27 anos, durante seu mestrado, finalizado em agosto deste ano na Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP). Agora, no doutorado, ele busca fazer um protótipo menor do aparelho.
O estudante adaptou um equipamento já utilizado atualmente para a medição da umidade e da quantidade de poluentes no ar para que ele pudesse também identificar a presença de drogas. Fui pesquisar e descobri que não existia no Brasil nenhum sensor do tipo, só o bafômetro, que identifica o consumo de álcool. Resolvi desenvolver um sensor para maconha e cocaína, as duas drogas com maior uso na sociedade brasileira, explica ele, que foi orientado pelo professor Marcelo Firmino de Oliveira.
O equipamento utiliza o chamado sensor piezelétrico, que é munido de um cristal de quartzo com um eletrodo de ouro por cima. Para a identificação das drogas, é inserido um modificador químico no eletrodo de acordo com o pesquisador, o grande segredo do projeto. Para cada droga precisa de um modificador com um cristal. Os cristais vibram em uma frequência constante. Se a droga interagir com o modificador, ela vai grudar no modificador e aumenta a sua massa, causando uma oscilação na frequência. Se ela oscilar, tem droga no local, afirma o pesquisador.
O aparelho identifica a existência das drogas a partir de uma concentração mínima no ambiente de dez nanogramas por mililitro de ar. De acordo com Menezes, essa quantidade é invisível a olho nu. Não tem um grau de comparação, é muito pouco. Se a droga foi visível, mesmo que só um pontinho, já é mais que isso.
O pesquisador explica que tanto a maconha quanto a cocaína passam por um processo de evaporação natural, soltando partículas no ar. Por isso, o equipamento funciona melhor em áreas fechadas, onde normalmente as drogas são guardadas como quartos, carros, malas, locais sem ventilação elevada. Em áreas abertas, com mais ventilação, a abrangência do equipamento fica menor.
A evaporação da droga para que ela se torne identificável no ar, entretanto, depende da embalagem feita quanto mais coberta e bem embalada a droga, mais difícil a identificação. Por isso, pequenas quantidades soltas podem ser identificadas mais facilmente do que diversos quilos bem embalados.
Como o limite mínimo de identificação do aparelho é muito pequeno, até mesmo resquícios deixados pelo manuseamento do lado de fora da embalagem ou no local onde ela foi feita podem denunciar a presença da droga ou pelo menos que ela passou pelo local. É o limite de detecção que vai fazer com que o aparelho encontre ou não. É a quantidade disponível no ar, e não a que tem no local, diz o pesquisador.
Aplicação
Menezes explica que a pesquisa não foi encomendada pela polícia. É um trabalho acadêmico, partiu do meu interesse. Sempre gostei de ciência aplicada. Pode vir ou não ser utilizado pela polícia."
Além da utilização para a apreensão de entorpecentes, o aparelho também pode ser utilizado na identificação do consumo de cocaína por caminhoneiros, por exemplo, que a usam como estimulante. Poderia funcionar como um bafômetro nesse caso, com a diferença de que não é preciso que a pessoa forneça uma amostra é só chegar próximo com o equipamento. Agora, no doutorado, ele pretende aumentar a abrangência do aparelho, fazendo com que ele identifique os diversos componentes que são comumente adicionados à cocaína como álcool, anfetaminas, cafeína e xilocaína. Isso seria importante para poder rastrear a droga, cada fornecedor a batiza de uma maneira diferente, conta ele, que também estuda o desenvolvimento de um protótipo de cerca de 20 centímetros do equipamento. Hoje é um aparelho grande. Estamos trabalhando na sua miniaturização. Postado por: Guilherme Pilão
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